Revista Criticartes 5 Ed
Revista Criticartes - Ano II, nº. 5 - 2016
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<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 4º Trimestre de 2016 / Ano II - nº. 05<br />
http://somostodosum.ig.com.br<br />
A morte da<br />
vida que mata<br />
Valeria Gurgel<br />
Itabirito, MG<br />
@: vallecrisgur@yahoo.com.br<br />
A<br />
morte sempre tem sido um tema visto pelo<br />
âmbito da ambiguidade. Como uma controvérsia<br />
que ao mesmo tempo em que aterroriza, angustia,<br />
traumatiza, apavora, também desperta certo fascínio<br />
e curiosidade, pois que a única certeza dessa vida,<br />
ainda que inadmissível por muitos, é a morte.<br />
Assim, mesmo que o medo pelo desconhecimento<br />
e vulnerabilidade do tema que engloba a vida<br />
diante da morte exista, aí mora a curiosidade indomável<br />
por essa suscetibilidade de uma complexidade<br />
heterogênica, quando o tema é estudado e<br />
pesquisado por filósofos, religiosos, céticos, povos<br />
de todos as origens e de todas as culturas, de<br />
todos os tempos.<br />
E desde a criação do mundo e dos seres viventes,<br />
surge a morte, que passa a ser enxergada<br />
como o fim de uma etapa, de uma jornada, cumprimento<br />
de uma missão, castigo, fechamento de<br />
um ciclo evolutivo, ou o extermínio do próprio<br />
corpo físico, da matéria densa, do invólucro da<br />
energia cósmica que forma a vida e até um desfragmentar<br />
do etéreo para os que interpretam a<br />
energia também como uma matéria sutilmente<br />
cósmica. São as formas curiosas e diferentes de se<br />
analisar o tema, mas sempre acolhendo o respeito<br />
pelo receio ao desconhecido ao incompreendido,<br />
ao que foge do controle humano. Talvez, seja necessário<br />
desmitificarmos o real sentido da vida para<br />
não mais precisar aterrorizar se com a morte.<br />
Mas e se enxergássemos a morte por um aspecto<br />
analítico da morte da vida que mata?<br />
A morte vista de uma forma efêmera e distinta<br />
acontecendo a cada fração de segundos como certa<br />
renovação celular, energética e cósmica?<br />
Como ensinamento, lapidação da ideia<br />
grotesca que alimenta a vida que se mata aos poucos,<br />
acreditando estar vivendo para um dia morrer?<br />
E, a partir daí, perceber o comprometimento<br />
que ambas temem entre si, ao ponto de numa<br />
dicotomia entre a vida e a morte não poder<br />
prever quando a vida mata a morte ou quando a<br />
morte mata a vida?<br />
Pois que se morre vivendo a cada dia e muitos<br />
estão se matando a todo instante sem perceber!<br />
Quando o deserto do egoísmo nutre a solidão<br />
de areia desenhando formas irreais do viver.<br />
Amores sem essência e valores sem consistência.<br />
A morte poderia ser nada mais nada menos que a<br />
morte que a vida mata!<br />
Então porque essa utopia que afirma que a<br />
morte sempre chega de forma estupidamente repentina<br />
em nossas vidas? Ou que nos pega de surpresa?<br />
Ou até que nunca estaremos preparados para<br />
encará-la de frente? Aquele que mais viveu seria<br />
então o que permaneceu longos anos sobre a<br />
Terra? Ou talvez o que menos viveu fosse aquele<br />
que temendo a morte tentou evita-la de forma infantil,<br />
e covarde, enterrando sonhos, dormindo<br />
oportunidades, conservando ideias em cérebros<br />
congelados para não deteriorar os sentimentos?<br />
Quantos nós já foram dados em laços de liberdade<br />
e quantas algemas o destino permitiu pela ânsia<br />
de ser feliz?<br />
A morte só mata a vida que não se deixa viver!<br />
Que não se permite burilar o oleiro da consciência!<br />
Pedras brutas se deslocam da inércia<br />
quando a morte sacode o deserto da ignorância!<br />
E levanta a poeira que os ventos da inconsciência<br />
exalam, contaminando consciências letárgicas de<br />
vidas em decomposição, meros cadáveres ambulantes<br />
circulam pelas academias do saber em busca<br />
de um sentido real que os façam ressurgir do<br />
abismo da incoerência de saber viver.<br />
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