Revista Criticartes 5 Ed
Revista Criticartes - Ano II, nº. 5 - 2016
Revista Criticartes - Ano II, nº. 5 - 2016
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Conto<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 4º Trimestre de 2016 / Ano II - nº. 05<br />
A cigarra que<br />
encanta e a<br />
formiga encantada<br />
<strong>Ed</strong>vânia Ramos<br />
Aracaju, SE<br />
@: edvania.escritora@hotmail.com<br />
Todo o dia lá ia a formiga Dudinha<br />
ladeira abaixo com uma folha na cabeça. No<br />
caminho sempre encontrava a mesma<br />
companheira. A cigarra Milena havia se tornado<br />
sua amiga no inverno do ano passado e descia,<br />
com ela, aquele enorme caminho de barro<br />
diariamente, sempre cantando e falando como a<br />
pior das tagarelas.<br />
Dudinha sorria com o gesticular<br />
exagerado de Milena, outras vezes balançava a<br />
cabeça de um lado para o outro como se a<br />
achasse meio maluquinha.<br />
Todos os dias era a mesma rotina, o que<br />
mudou é que agora, Milena, quando via que<br />
Dudinha estava cansada ajudava a amiga a<br />
carregar suas folhas, mas nunca em hipótese<br />
alguma de boca fechada, sempre cantarolando<br />
ou contando estórias da floresta.<br />
Certo dia chovia muito, muito mesmo,<br />
um temporal assustador. Em dias como este<br />
Milena gostava de ficar escondida no oco de<br />
alguma árvore escura, apenas cantarolando para<br />
disfarçar seu medo dos trovões. Ficava tremendo<br />
imaginando no que poderia lhe acontecer.<br />
Sentiu que algo estava errado. Com a<br />
forte chuva o dia pareceu terminar mais cedo e<br />
não viu sua amiga voltar. Permaneceu no seu<br />
lugar, mas, Dudinha não voltou e isso a deixou<br />
triste. Suas pernas pequenas e finas tremiam de<br />
medo em pensar que tinha que fazer algo e, o<br />
algo, era sair na noite escura a procura da sua<br />
amiga.<br />
Olhou pro céu nenhuma estrela, nem<br />
mesmo a lua, apenas os trovões e os relâmpagos,<br />
mas foi forte e desceu ladeira abaixo, gritando<br />
seu nome e cantando para esquecer o medo que<br />
tomava seu ser. “Eu não sou medrosa, sou<br />
mesmo é corajosa”. Amiga formiga se me ouve<br />
responde! Onde está a graça de brincar de<br />
esconde-esconde se o sol ainda não brilhou nem<br />
o trovão passou? Essa formiga é mais doida que<br />
eu. Exclamou a cigarra encharcada de chuva.<br />
Desceu mais um pouco já quase desistindo<br />
quando ouviu um respirar fundo, mas lento.<br />
– Dudinha é você?<br />
– Ajude-me amiga cigarra, estou presa no<br />
lamarão, não consigo me mexer.<br />
A cigarra correu apresou-se a ajudar a<br />
amiga. Retirou primeiro a folha que ela teimava<br />
em segurar na cabeça e logo depois puxou seu<br />
frágil corpo da lama que prendia suas pernas<br />
pequeninas. A formiga sorriu agradecida e<br />
perguntou emocionada com o abraço que<br />
recebeu.<br />
– Como venceu seu medo de trovões cigarra<br />
Milena?<br />
E com olhos marejados ela responde:<br />
– Tudo que vem da natureza é obra divina,<br />
devemos respeitar, mas nenhum trovão,<br />
nenhum raio, nem a chuva, nem o sol, nem o dia<br />
e nem a noite é mais forte que o amor e a<br />
amizade que podemos sentir pelo próximo.<br />
A amiga formiga abraçou sua amiga<br />
cigarra e juntas retornaram para casa na certeza<br />
de que nunca mais estariam sozinhas, seja qual<br />
for a tempestade do momento, juntas elas<br />
venceriam.<br />
– Sabe o que estive pensando amiga cigarra?<br />
– Formiga pensa? Risos. Sorrindo ela<br />
completou.<br />
– No encanto que tem sua melodia, foi o que<br />
pensei durante todo o tempo em que estive ali<br />
presa.<br />
– Não foi a minha música. Foi o desejo de<br />
continuar vivendo. A vida é a mais bela canção<br />
amiga formiga e, o coração, é o violão que<br />
decifra a letra da melodia que trazemos na alma.<br />
– Vamos cantar?<br />
– Canta cigarra, canta que na chuva eu danço.<br />
Elas seguiram, sorrindo, abraçadas,<br />
celebrando a vida e o encanto do ato viver. Seu<br />
medo tem o tamanho que você dá para ele.<br />
Procure o deixar menor que um grão de areia e<br />
logo um mar de vitórias surge para banhar teus<br />
mais belos sonhos.<br />
(Texto dedicado Leonardo Ramos e Izabela Ramos)<br />
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