Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Até conhecer Laredo, sua existência fora vazia, voltada para o exterior, sem focalizar sua própria<br />
felicidade. Antes de Laredo. Depois de Laredo. Savannah sorriu consigo mesma. Ao que parecia, sua<br />
vida passaria a se dividir em duas partes: antes de Laredo aparecer e depois de ele ter partido.<br />
Era estranho conseguir sorrir, justamente quando reconhecia sua vida como realmente era:<br />
superficial e sem propósito.<br />
A inquietação que ela conseguira manter durante todo aquele tempo ameaçou sufocá-la. Ignorar a<br />
infelicidade não lhe fizera bem. Reprimi-la não dera resultado. Havia semanas que Savannah vinha<br />
lutando contra dores de cabeça e mal-estares. Havia semanas que seu corpo vinha tentando lhe dizer<br />
aquilo que o fato de se ver sozinha na cidade fantasma finalmente a fizera compreender.<br />
Avistou um curral diante do hotel, bem como uma grande rocha ao lado. Foi até lá e sentou-se,<br />
tentando assimilar o que acabara de descobrir sobre si mesma.<br />
Uma lembrança havia muito esquecida, brotou em sua memória. Savannah mal completara dez anos,<br />
quando seu pai fora atirado de cima de um cavalo. Apesar da grave fratura que sofrerá na perna,<br />
conseguira arrastar-se até um ponto seguro e evitar outros ferimentos.<br />
Savannah lembrou-se da mãe, pálida e assustada, segurando a mão de seu pai, enquanto o levava ao<br />
hospital. Mel Weston sorrira e, falando com dificuldade, assegurara a esposa de que a dor o fazia sentir<br />
que ainda estava vivo.<br />
E era isso o que a dor que Savannah sentia agora lhe dizia. Estava viva. Era capaz de sentir, amar e<br />
existir. Laredo havia lhe ensinado isso e muito mais. Pela primeira vez em sua vida adulta, ela<br />
reconheceu quanto amor seu coração podia abrigar.<br />
Por mais que sofresse, faria tudo de novo.<br />
Abaixou a cabeça para se proteger do vento, sentindo as lágrimas correrem por suas faces. Mas não<br />
eram as mesmas lágrimas que vinha derramando havia semanas.<br />
Savannah havia, finalmente, feito as pazes consigo mesma.<br />
Grady notou a diferença em Savannah assim que ela saiu da caminhonete. Seu rosto irradiava<br />
serenidade e aceitação que, evidentemente, haviam sido conquistadas com grande esforço.<br />
Embora ela não houvesse informado para onde ia, Grady adivinhara e não gostara nem um pouco. E<br />
estava além de sua compreensão como ela podia voltar de Bitter End sentindo algum tipo de<br />
tranquilidade. Várias vezes, ao longo do dia, pensara em segui-la, mas desistira, pois sabia que Savannah<br />
não apreciaria sua interferência.<br />
Ela se juntou a ele, na cozinha, e pôs água para ferver, a fim de preparar um chá.<br />
— Ficarei bem, daqui por diante — disse. Grady não sabia o que dizer. Em várias ocasiões<br />
desejara contar a ela sobre sua última conversa com Laredo, oferecer-lhe conforto, mas temia causar<br />
mais mal que bem.<br />
— Não voltarei lá — ela acrescentou.<br />
— Bom — foi tudo o que Grady conseguiu dizer.<br />
— Aceita uma xícara de chá? — Savannah ofereceu, como se houvesse voltado a ser a mesma<br />
mulher de antes.