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01 - Caubói Solitário

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Até conhecer Laredo, sua existência fora vazia, voltada para o exterior, sem focalizar sua própria<br />

felicidade. Antes de Laredo. Depois de Laredo. Savannah sorriu consigo mesma. Ao que parecia, sua<br />

vida passaria a se dividir em duas partes: antes de Laredo aparecer e depois de ele ter partido.<br />

Era estranho conseguir sorrir, justamente quando reconhecia sua vida como realmente era:<br />

superficial e sem propósito.<br />

A inquietação que ela conseguira manter durante todo aquele tempo ameaçou sufocá-la. Ignorar a<br />

infelicidade não lhe fizera bem. Reprimi-la não dera resultado. Havia semanas que Savannah vinha<br />

lutando contra dores de cabeça e mal-estares. Havia semanas que seu corpo vinha tentando lhe dizer<br />

aquilo que o fato de se ver sozinha na cidade fantasma finalmente a fizera compreender.<br />

Avistou um curral diante do hotel, bem como uma grande rocha ao lado. Foi até lá e sentou-se,<br />

tentando assimilar o que acabara de descobrir sobre si mesma.<br />

Uma lembrança havia muito esquecida, brotou em sua memória. Savannah mal completara dez anos,<br />

quando seu pai fora atirado de cima de um cavalo. Apesar da grave fratura que sofrerá na perna,<br />

conseguira arrastar-se até um ponto seguro e evitar outros ferimentos.<br />

Savannah lembrou-se da mãe, pálida e assustada, segurando a mão de seu pai, enquanto o levava ao<br />

hospital. Mel Weston sorrira e, falando com dificuldade, assegurara a esposa de que a dor o fazia sentir<br />

que ainda estava vivo.<br />

E era isso o que a dor que Savannah sentia agora lhe dizia. Estava viva. Era capaz de sentir, amar e<br />

existir. Laredo havia lhe ensinado isso e muito mais. Pela primeira vez em sua vida adulta, ela<br />

reconheceu quanto amor seu coração podia abrigar.<br />

Por mais que sofresse, faria tudo de novo.<br />

Abaixou a cabeça para se proteger do vento, sentindo as lágrimas correrem por suas faces. Mas não<br />

eram as mesmas lágrimas que vinha derramando havia semanas.<br />

Savannah havia, finalmente, feito as pazes consigo mesma.<br />

Grady notou a diferença em Savannah assim que ela saiu da caminhonete. Seu rosto irradiava<br />

serenidade e aceitação que, evidentemente, haviam sido conquistadas com grande esforço.<br />

Embora ela não houvesse informado para onde ia, Grady adivinhara e não gostara nem um pouco. E<br />

estava além de sua compreensão como ela podia voltar de Bitter End sentindo algum tipo de<br />

tranquilidade. Várias vezes, ao longo do dia, pensara em segui-la, mas desistira, pois sabia que Savannah<br />

não apreciaria sua interferência.<br />

Ela se juntou a ele, na cozinha, e pôs água para ferver, a fim de preparar um chá.<br />

— Ficarei bem, daqui por diante — disse. Grady não sabia o que dizer. Em várias ocasiões<br />

desejara contar a ela sobre sua última conversa com Laredo, oferecer-lhe conforto, mas temia causar<br />

mais mal que bem.<br />

— Não voltarei lá — ela acrescentou.<br />

— Bom — foi tudo o que Grady conseguiu dizer.<br />

— Aceita uma xícara de chá? — Savannah ofereceu, como se houvesse voltado a ser a mesma<br />

mulher de antes.

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