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Livro Mídia, Misoginia e Golpe

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Mídia, Misoginia e Golpe<br />

manifestar uma emoção no rosto. Depois ela era uma louca, que precisa tomar<br />

remédio, que está descontrolada. Era uma expressão bem parecida com a capa da<br />

mesma revista com Dunga, mas com narrativa. No caso dele, era o aguerrido, o<br />

guerreiro que vai com fúria e força. No caso dela, era a cara da desequilibrada, a que<br />

estava precisando tomar remédio controlado. A gente vê na literatura, a gente vê isso<br />

na história. As denúncias contra mim usam esse argumento também. Tentam me<br />

desqualificar, patologizar o meu comportamento de mulher na defesa da discussão de<br />

gênero.<br />

No Brasil, s a luta do direito das mulheres, principalmente na participação<br />

política, é muito recente. A gente teve a primeira deputada e o direito de votar só na<br />

década de 1930. Hoje você tem uma participação feminina no Parlamento de 13% no<br />

Senado e 8% na Câmara. Eu acho que esse sistema representativo já faliu. Essa forma<br />

da gente delegar o poder para decidir sobre nossa vida, não deu certo, pelo menos não<br />

nesse nível macro.<br />

Eu acredito nos pequenos coletivos, onde cada um coloca um representante<br />

que você tenha como cobrar, que esteja mais próximo no dia-a-dia. Outra coisa é você<br />

dar um voto em um deputado federal que você nunca viu, que nunca foi na sua casa.<br />

Qual é o perfil? Homens, brancos, héteros, ricos, latifundiários, donos de meios de<br />

produção. Essas pessoas estão lá, depositados por nós, de quatro em quatro anos, para<br />

representar os nossos anseios.<br />

Eu acho que essa é a vez, é a hora, não só da nova geração, da juventude, mas<br />

também das mulheres jovens. Quando eu falo da não representatividade das mulheres<br />

no Congresso Nacional, eu estou falando de homens decidindo sobre o futuro e<br />

direitos das mulheres. Isso é preocupante porque a gente não tem a nossa identidade<br />

representativa lá. E esses homens que nunca vimos não podem decidir o que eu posso<br />

fazer com meu corpo. Quem tem que decidir isso sou eu! E se eu quiser, eu boto uma<br />

representante minha lá para fazer isso. Os são parceiros, mas não são donos da<br />

narrativa.<br />

Essa questão de gênero, em meus estudos sobre a ditadura e o processo<br />

constitucional brasileiro, ficou latente. Eu sabia que tinha uma hora que ia estourar.<br />

Essa é uma pauta extremamente necessária, a gente tem uma população grande de<br />

mulheres, de mulheres negras, de mulheres pobres, de mulheres trans. E eu acho que a<br />

universidade não pode se furtar disso, de discutir a questão. A gente precisa entender<br />

que Dilma é uma mulher que tem um passado, uma história, que de novo está se<br />

encontrando com seus algozes, uma história que tenta se repetir. E para além de tudo,<br />

ela é uma idosa. É praticamente violação de direitos humanos você fazer isso com uma<br />

mulher que foi torturada, e que é idosa.<br />

A Dilma quebrou tanta essa lógica que, agora, a primeira dama é um grande<br />

contraponto disso. A gente consegue identificar esse discurso de gênero, porque<br />

quando a elite volta, volta um homem e volta com a primeira-dama fazendo papel de<br />

esposa de político da década de 1910.<br />

Dilma, além de ser a primeira mulher na presidência do Brasil, quebrou essa<br />

linhagem, essa cultura de que o chefe de estado tem que ter um companheiro, tem<br />

que ser casado, tem que ter maritalmente um compromisso. Ela é uma mulher solteira,<br />

avó. Está ali na dela, na boa, uma trabalhadora como outra qualquer.<br />

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