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Livro Mídia, Misoginia e Golpe

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Mídia, Misoginia e Golpe<br />

|Qual a participação da mídia nesse processo? Dê exemplos.<br />

Na política pública os aspectos que sempre tomamos em conta são os atores<br />

políticos: ou seja, quem tem algum interesse em questão. Nesse caso, a mídia teve um<br />

papel fundamental, pois ela ajudou a construir a narrativa de que as marcas do<br />

governo Dilma eram corrupção e crise econômica. Não houve uma politização do<br />

debate na mídia. Na verdade, os grandes veículos de comunicação se colocaram em<br />

uma posição de divulgar as ações que criminalizavam o governo. Não foi mostrado o<br />

acampamento pela democracia que aconteceu em Brasília nos dias que antecederam a<br />

votação da Câmara – 17 de abril de 2016 – esse acontecimento, por exemplo, não teve<br />

repercussão nos grandes veículos de comunicação. A análise sobre as manifestações<br />

que se contrapunham ao processo de impedimento foram tratadas como<br />

manifestações de militantes e não cidadãos.<br />

|Em algum aspecto você acha que a questão de gênero foi relevante junto à<br />

imprensa e à opinião pública a influenciar a cobertura do processo de impeachment?<br />

Dê exemplos.<br />

Do ponto de vista da cobertura jornalística dos grandes veículos da mídia, podese<br />

notar que houve uma enorme dissimulação. Um jornal escrito ou televisionado não<br />

diz assim: “Essa mulher é uma anta”. A linguagem que ele usa é culta, se propõe<br />

neutra, com análise de fatos, flertando com certa neutralidade. Mas, é aí que está o<br />

pulo do gato. Na política há homens e mulheres. Homens e mulheres que têm espaços<br />

e lugares em um mundo marcado pelas desigualdades de gênero. E, veja, não estou<br />

inventando isso da minha cabeça. Os indicadores e estatísticas mostram os lugares<br />

diferenciados que homens e mulheres ocupam no espaço público. Então, ocorre o uso<br />

da linguagem neutra, a narrativa dos fatos como se a dimensão de gênero não fosse<br />

um componente importante na análise jornalística.<br />

|Você identificou algum aspecto de misoginia – aqui definido como ódio ou aversão<br />

às mulheres – na relação que a mídia, os políticos e o Judiciário estabeleceram com<br />

Dilma Rousseff?<br />

Como eu falei acima, o fato de tratar com neutralidade a dimensão de gênero e<br />

não questionar em nenhum momento: será que o fato da Presidenta Dilma ser mulher<br />

não favorece o preconceito contra ela?, faz com que a abordagem não tenha um<br />

componente discriminatório direto, mas, sim indireto, descriminalizante do ponto de<br />

vista institucional. Sem reconhecer as questões que subjazem ao lugar de homens e<br />

mulheres.<br />

Na verdade, o “serviço sujo” do discurso de ódio não ficou no colo da grande<br />

imprensa, mas, ele foi disseminado por uma cultura machista que permeia a nossa<br />

sociedade e pela grande imprensa ao não questionar o lugar de homens e mulheres<br />

nesse processo, ao dar um ar de “neutralidade”, ajuda a reforçar preconceitos e<br />

estigmas contra as mulheres.<br />

|Você considera que o impeachment de Dilma Rousseff terá algum impacto na<br />

participação feminina na política? Em que sentido?<br />

Eu acho difícil precisar isso. Enfim, a política é muito dinâmica, mas, uma coisa<br />

me ocorre os setores progressistas da sociedade civil precisam continuar a pautar a<br />

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