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Livro Mídia, Misoginia e Golpe
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Mídia, Misoginia e Golpe<br />
que foi aquilo? Deixar ali aquela mulher tantas horas seguidas respondendo aquelas<br />
mesmas perguntas, aquilo além de ser misógino, tem também muita desumanidade.<br />
Do mesmo jeito que existe o extermínio do jovem negro no Brasil e não existe<br />
direito civil para quem é preto e pobre, não existe também se você é mulher e<br />
presidenta, a gente vai falar só de direito, a gente vai falar de narrativa e a gente vai<br />
fazer o que a gente quiser baseado nisso, porque a gente tem também repercussão<br />
midiática. Ninguém também questiona isso na mídia, a gente só escuta um<br />
determinado discurso. Então acho que o ódio à mulher está muito evidente, seja ele<br />
dizer que a Dilma não tem características da feminilidade, que a Dilma é durona, que<br />
ela é mandona, que ela é agressiva. Você tem um padrão de ser mulher, um padrão de<br />
feminilidade e esse padrão é você ser doce, falar baixo, não incomodar, quando você<br />
constrói esse único padrão é misógino! As mulheres são seres humanos diversos, com<br />
características diversas, se você, no seu discurso, o tempo inteiro diz que as mulheres<br />
não podem ter essa diversidade, você promove um ódio contra a mulher porque a<br />
mulher não pode ser ela, tem que se ajustar a um padrão pré-estabelecido. Então acho<br />
que esse discurso misógino aparece nas muitas narrativas sobre a Dilma seja que: “ela<br />
é muito mandona, muito brigona, muito desequilibrada descontrolada. Ela parece um<br />
homem”. Ou seja, no “tchau, querida” e nessas capas que eu já tinha dito antes.<br />
Na votação do impeachment todos os deputados falando eu voto por Deus,<br />
pela família, lálálá, eu vou transmitir o tempo inteiro em rede aberta e as pessoas vão<br />
assistir isso em casa, pode ser um deputado que fala pela família e tem não sei quantas<br />
amantes e mulheres submetidas a prostituição que vão na casa dele de Brasília. Mas o<br />
discurso dele é por Deus e pela família, contra corrupção, então, isso eu transmito o<br />
tempo inteiro. Quando eu tenho a Presidenta da República respondendo a diversas<br />
perguntas em tom irônico, em tom desrespeitoso, eu não transmito isso o tempo<br />
inteiro, eu não vou deixar as pessoas assistirem em casa aquilo porque eu controlo essa<br />
concessão pública. Na verdade, ela é minha, eu faço o que eu quiser com ela e eu vou<br />
pegar pequenos trechos daqueles que eu julgo que ela se saiu pior, vou editar e vou<br />
colocar num outro horário e não vou transmitir o tempo inteiro. Eu acho que só aí, de<br />
em um caso você ter uma transmissão em tempo real e no outro não, te já diz algo. Já<br />
é algo importante sobre a cobertura da mídia. Os tratamentos dos deputados ... é uma<br />
coisa assim que muito difícil de você assistir, pessoas assim com muitas acusações com<br />
muitas condenações, fazendo um discurso completamente desconectado da realidade,<br />
sem precisar de nenhum embasamento concreto. Não tem empiria no que aquelas<br />
pessoas diziam e muitas vezes num tom desrespeitoso. Esse desrespeito de muitos<br />
parlamentares, nenhuma frase me ocorre aqui porque o que eu assisti era uma coisa<br />
que mexia tão no âmago, que eu me sentia tão enjoada, que fui registrando algumas<br />
frases mais absurdas, mas depois eu parei de escrever e registrar aquilo, porque me<br />
fazia um mal estar físico. Eu não consigo dizer pelas outras mulheres, mas um mal estar<br />
físico de você olhar e falar (minha nossa!) é isso mesmo que está acontecendo?<br />
Lembrava-me um livro que eu li recentemente de uma pesquisadora do Rio, que<br />
pesquisou o que foi a Inquisição no Sertão do Piauí, no Brasil no século XVII e XVIII. Ela<br />
teve acesso aos registros dos padres, porque a gente não tem acesso às vozes dessas<br />
mulheres. Mas os padres escrevendo sobre a defesa delas e o jeito como elas eram<br />
colocadas nos tribunais para serem julgadas aqui no Brasil colonial, têm coisas similares<br />
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