12.04.2017 Views

FACLivros_MidiaMisoginiaGolpe

Livro Mídia, Misoginia e Golpe

Livro Mídia, Misoginia e Golpe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Mídia, Misoginia e Golpe<br />

Então, quando isso apareceu, uma das alunas disse que apoiava o<br />

impeachment, que não havia votado na Dilma, não gostava do PT, mas quando via essa<br />

capa de revista, achava um absurdo, porque ela não é jornalisticamente consistente. É<br />

uma invenção, uma construção de narrativa de fato. E outra foto, agora no Estadão,<br />

colocou na capa do jornal a Dilma numa fogueira, que remete a queima das bruxas e<br />

nos remete a Inquisição.<br />

Então, quando alguém pergunta se essa cobertura é misógina eu olho para o<br />

lado e falo: “Minha nossa! Se a pessoa, de fato, não enxerga, a gente tem um trabalho<br />

de discussão a fazer. Ou será que essa pessoa é cínica para defender o ponto? Então, eu<br />

vou defender o meu ponto com tanta ênfase que eu vou chamar ele de neutro e vou<br />

dizer que você não está vendo a teoria da conspiração. Eu não compreendo. E eu vejo<br />

muitos jornalistas que trabalham nesses grandes veículos assumindo posturas<br />

verdadeiramente críticas nas redes sociais para os amigos e quando vão pro trabalho,<br />

quando vão pra redação, produzem essa lógica. Então, tem uma autocensura tem algo<br />

regulado dentro das redações, as pessoas saberem o que elas têm que fazer para<br />

manterem o próprio emprego e para serem promovidas.<br />

E isso é uma tragédia. É uma tragédia porque a gente não tem nenhuma<br />

liberdade de imprensa, mas a gente também não tem casos grandes de jornalistas<br />

denunciando eles terem sido constrangidos.<br />

Teve um seminário no Itaú Cultural que a Ivana Bentes, que é professora da ECO<br />

da UFRJ, levou essa capa da ISTO É da Dilma furiosa e uma outra capa da Época, com<br />

uma ilustração de um homem com essa mesma postura furiosa, dizendo: “Como a<br />

nossa raiva pode ser importante para sermos bons lideres”. A mesma postura da<br />

“raiva” era importante para que os homens se coloquem, mas no caso das mulheres<br />

isso é um absurdo. Você precisa ser uma mocinha comportada ou você é uma louca<br />

histérica.<br />

|E o “tchau querida”, como é que você faz essa leitura?<br />

É até difícil dizer, né? Porque tem um desprezo no “tchau, querida”, né? Essa<br />

coisa do “querida” brinca com o feminino de um jeito tão cruel, tão cruel. Porque aí<br />

esse tchau querida eu acho que traz embutido uma série de construções patriarcais de<br />

como a gente vê as mulheres. Como se nós, mulheres, não pudéssemos estabelecer<br />

relações de solidariedade, de confiança e de cooperação porque a gente é muito<br />

competitiva e porque no fundo tudo que a gente quer é destruir as outras mulheres.<br />

Essa é uma construção do patriarcado muito forte. Eu acho que uma grande atuação<br />

política do nosso tempo é a gente não precisar competir entre nós, muito pelo<br />

contrário, que nós juntas somos muito fortes. E quando o “tchau, querida” tem essa<br />

postura de dizer que não concorda com o governo Dilma ou não querer mais o governo<br />

Dilma, isso reforça esse simbólico em relação às mulheres. Esse “querida” você não usa<br />

para alguém que te é querida, mas para alguém que você quer ver longe. Então, acho<br />

que isso reforça uma visão do feminino como sendo um feminino competitivo como se<br />

as mulheres fossem muito rancorosas e manipuladoras; isso reforça uma imagem<br />

muito negativa da mulher. Eu detesto o “tchau, querida” por isso, como discurso<br />

político ele flerta com o misógino, ele é misógino como discurso político.<br />

28

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!