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Livro Mídia, Misoginia e Golpe

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Mídia, Misoginia e Golpe<br />

condição de sujeito. E as pessoas ao atribuírem a Deus e não a uma construção coletiva<br />

as suas melhorias, elas foram incluídas enquanto consumidores, mas não foram<br />

incluídas enquanto sujeito ativo da sua própria história numa construção coletiva.<br />

Então, ela se exime, “fulaniza” as suas alegrias, e as dores também.<br />

|Qual a participação da mídia nesse processo? Dê exemplos.<br />

A mídia teve a mesma participação que teve no golpe militar. A mídia moveu o<br />

dedo de Getúlio Vargas ao apertar o gatilho do revólver quando do seu suicídio, a mídia<br />

colocou em curso os militares e a ela - com outros atores - estruturou o golpe contra a<br />

Dilma Rousseff. Primeiro porque a Dilma não foi destituída do poder pelos seus erros,<br />

ela foi destituída pelos seus acertos. Mas nós não conseguimos resistir ao golpe ou<br />

impedir o golpe pelos nossos próprios erros na a ausência das reformas política, de<br />

comunicação e tal. Eu penso que nos vivenciamos um processo de pactos ditatórios<br />

através da própria mídia, porque foi um processo muito profundo.<br />

Quando você tem um vazio de políticas públicas, um vazio da condição de<br />

sujeito e falta de espaços de construção das consciências criticas, porque nós não<br />

fizemos uma revolução cultural, a mídia entra nas casas, invade a cidadania na<br />

intimidade. É um processo muito cruel. Ela captura os desejos, essa captura de desejos<br />

é o que mais me incomoda sobremaneira.<br />

Eu penso que a mídia é um desafio para a construção democrática. Eu não digo<br />

que a gente não construirá uma democracia de alta intensidade sem uma<br />

democratização dos meios de comunicação. Para mim, a democracia de alta<br />

intensidade é uma democracia com a participação direta, com participação da<br />

população, com a construção de instrumentos de democracia participativa.<br />

|Em algum aspecto você acha que a questão de gênero foi relevante junto à<br />

imprensa e à opinião pública a influenciar a cobertura do processo de impeachment?<br />

Dê exemplos.<br />

A violência de gênero está presente em todas as violências à Democracia. Nas<br />

salas escuras de tortura havia a violência da ruptura, mas sempre houve o recorte da<br />

violência de gênero. As mulheres não só eram torturadas como os homens, elas eram<br />

estupradas também. Elas eram atingidas na sua construção de gênero e nós vencemos<br />

isso.<br />

De repente se construiu uma imagem da Dilma que tinha um componente<br />

associado a uma construção de gênero feminino. Ela foi agredida por ser mulher, ela foi<br />

agredida por ser do gênero feminino, ela foi considerada histérica, ela foi considerada<br />

atrapalhada, ela foi considerada sem condições de governar o Brasil. E na hora que ela<br />

governava com firmeza era considerada ditatorial, enfim, a construção de gênero que<br />

permeia o imaginário do povo brasileiro e é estimulada pela própria mídia, que quer<br />

uma construção de subalternização do gênero feminino, ela teve presente em todo o<br />

processo de impeachment.<br />

Desde o início a imprensa tentou colocá-la como o espelho do desejo do Lula e<br />

não como uma governante.<br />

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