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Livro Mídia, Misoginia e Golpe
Livro Mídia, Misoginia e Golpe
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Mídia, Misoginia e Golpe<br />
(Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Movimento dos Sem Teto, Central Única dos<br />
Trabalhadores, Movimento de Direitos Humanos e outros). Até mesmo colocar o PT na<br />
ilegalidade é uma possibilidade. Como a (Operação) Lava Jato 2 tem um alvo fixo, e esse<br />
alvo é o PT e o Lula. Como também os métodos da Lava Jato correm à margem da lei,<br />
não obedecendo aos ritos, sem precisar de provas substanciais, baseando-se na<br />
“convicção”, podem, se quiserem, torná-lo proscrito. Basta que estejam “convencidos”<br />
de que o PT foi irrigado com dinheiro de propina, arbitrar uma multa impagável e aí,<br />
era uma vez um partido. Além disso, há uma constante disputa interna entre os líderes<br />
que promoveram o golpe. Essas disputas são por espaço ou porque individualmente<br />
todos fazem um esforço grande para escapar da Lava Jato. Como a grande mídia tem<br />
lado e esse lado é o PSDB as demais forças políticas estão sempre com as barbas de<br />
molho. É por isso que eu digo que não foi um golpe, mas que é um golpe. A<br />
instabilidade institucional e política brasileira é profunda e não parece que essa crise<br />
vai acabar tão cedo.<br />
|Qual a participação da mídia nesse processo? Dê exemplos.<br />
Intensa. A grande mídia no Brasil se comporta como um partido político já há<br />
bastante tempo. Um bom exemplo disso foi a frase da ex-presidente Associação<br />
Nacional de Jornais (ANJ) 3 , segundo quem “(...) os meios de comunicação estão<br />
fazendo de fato a posição oposicionista deste País, uma vez que a oposição está<br />
profundamente fragilizada”. Ela referia-se à posição dos jornais em relação ao governo<br />
do Lula. É acintoso. Nos processos políticos a mídia tem sido sempre imparcial,<br />
manipuladora e seletiva. Portanto, a informação está sempre contaminada com o<br />
interesse imediato ou de médio prazo das emissoras, jornais e revistas que compõem a<br />
grande mídia. Os famosos e criminosos vazamentos das diversas fases de escutas<br />
telefônicas realizadas pela Operação Lava Jato, o grampo ilegal e o “vazamento” das<br />
ligações da Presidenta Dilma, sendo transmitidas em telejornais, cobertura pirotécnica<br />
da “condução coercitiva” do Lula 4 , um ato flagrantemente ilegal, já que ele não havia<br />
se negado, e sequer foi solicitado, a prestar espontaneamente os esclarecimentos que<br />
a justiça quisesse. Outro aspecto é a estratégia de transmissão em tempo real e<br />
constante, transformando o jornalismo uma novela permanente. Eu classifico esse tipo<br />
de ação como uma guerra psicológica, que primeiro forma um sentimento nas pessoas,<br />
em seguida transforma-se em “opinião”. Foi assim que construíram todas as narrativas<br />
que deram origem ao golpe e agora buscam legitimar suas decorrências. Não vemos<br />
nenhuma matéria jornalística isenta neste momento, por exemplo, sobre as ocupações<br />
das escolas por jovens que lutam contra a PEC 241, a PEC da Morte 5 .<br />
2 A Operação Lava Jato é o nome de uma investigação sobre desvios de dinheiro na empresa estatal de<br />
energia, Petrobras, conduzida pelo juiz de primeira instância do Paraná, Sérgio Moro, cujos métodos<br />
heterodoxos têm gerado controvérsias no meio jurídico, empresarial e político.<br />
3 Judith Brito presidiu a ANJ entre 2010 e 2012. É diretora-superintendente do Grupo Folha.<br />
4 O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu condução coercitiva autorizada pelo juiz Sérgio Moro,<br />
como parte da Operação Lava Jato, em 4 de março de 2016.<br />
5 As ocupações nas escolas de segundo grau e superior são uma ação de iniciativa do movimento<br />
estudantil em protesto contra a reforma do ensino médio decretada pelo presidente Michel Temer, e<br />
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