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Livro Mídia, Misoginia e Golpe

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Mídia, Misoginia e Golpe<br />

|Você considera que o impeachment de Dilma Rousseff terá algum impacto na<br />

participação feminina na política? Em que sentido?<br />

Eu acho que é muito provável que outras mulheres sejam questionadas com<br />

algo do tipo: “já tivemos uma presidente que não deu certo, ela era uma experiência<br />

que poderia ter sido diferente, mas não foi”. A gente vê uma radicalização da opinião<br />

pública de maneira tão forte, tão assustadora. Por um lado tem a pauta de questionar a<br />

presença feminina na política, que está cada vez mais em voga. Vejo também diversos<br />

memes que desqualificam Dilma, menosprezam toda a história dela e isso vindo de<br />

mulheres e homens com formação. Então tem dois caminhos aqui: um deles é que em<br />

determinado momento a mulher seja mais questionada, o que piora a nossa situação.<br />

A gente precisa trabalhar o triplo, se qualificar mais para ser tão respeitada quanto um<br />

homem. As mulheres têm que continuar se esforçando cada vez mais. Outro caminho é<br />

a mulher estar disposta a ser intimidada cada vez mais.<br />

Mas por outro lado, se conseguirmos que as mulheres se articulem, se unam, se<br />

fortaleçam, poderemos pensar na possibilidade de que elas continue representando<br />

uma mudança na forma de fazer política, independente do que aconteceu com Dilma<br />

agora. A pergunta em si já é machista. Quantos homens presidentes a gente teve até<br />

agora? E algum deles foi questionado como “fulano foi chamado de corrupto, fulano<br />

teve que sair do governo, fulano se matou?” Alguém questionou se isso iria influenciar<br />

para que outros homens entrassem na política? Não. Então acho que tem duas<br />

questões aí que podem ser possíveis. Eu continuo defendendo aquilo que está no meu<br />

livro (PANKE, 2016): nós, enquanto sociedade, temos que trabalhar para a<br />

naturalização da presença da mulher em cargos de liderança, seja na política, seja no<br />

setor privado. Trabalhar para a igualdade de homens e mulheres, para o equilíbrio.<br />

Liberdade de participação, de manifestação. Vamos demorar alguns anos para chegar<br />

lá, para que isso ocorra. Mas se continuarmos firmes, a gente alcança.<br />

|Considerações finais<br />

Outro dado importante a se destacar é que essa questão do questionamento<br />

feminino, da misoginia e do machismo ocorre em toda América Latina, como vi na<br />

pesquisa do meu livro. Cristina Kirchner na Argentina passou por situações muito<br />

parecidas à Dilma, por exemplo. No Brasil, enquanto nossa primeira recebeu o<br />

destaque por ser “bela, recatada e do lar”, a atual primeira-dama argentina, Juliana<br />

Awada, foi elogiada pela imprensa local por sua elegância e atitude empreendedora,<br />

mesmo que deixando sua carreira bem sucedida para trabalhar na gestão do marido.<br />

Infelizmente esse tipo questionamento de mulheres em cargos de liderança não<br />

acontece apenas em nosso continente. Acompanhamos recentemente os casos na<br />

campanha de Hillary Clinton à presidência dos Estados Unidos. Só agora o País tem<br />

uma candidata realmente forte disputando o cargo. Antes eram candidatas sem<br />

visibilidade. E ela está sendo questionada pelo fato de ser mulher constantemente.<br />

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