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Livro Mídia, Misoginia e Golpe
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Mídia, Misoginia e Golpe<br />
para que essas pessoas se pusessem como guardiãs da moralidade pública e fossem<br />
aceitas desse modo pelo público, aumentando, portanto, ainda mais o seu poder de<br />
definir o seu próprio salário, as suas vantagens (porque é isso, no fundo, que está em<br />
jogo), e aumentando também o seu poder de se apropriar da agenda do Estado,<br />
transformá-lo em um Estado cada vez mais policial, porque isso aumenta o seu poder<br />
de barganha. Então, é um partido corporativo, partido que está ali para lutar pela<br />
corporação. Sem a PEC-37, aumenta os poderes do Ministério Público, que é só uma<br />
dessas organizações, mas não é a única, quando a gente sabe que o único meio de se<br />
ter alguma forma de controle sobre essas corporações é separá-las: uma julga, a outra<br />
investiga. Quando você tende a por tudo isso numa corporação só, ela fica<br />
incontrolável, e é isso que está acontecendo agora. Quando a Rede Globo fez isso no<br />
Jornal Nacional, qual foi a mensagem que ela passou? “Olha pessoal, vocês podem<br />
contar com a gente para as suas vantagens corporativas, para as suas bandeiras<br />
corporativas”. E não é um acaso, eu não acredito em coincidência, que depois você<br />
tenha todo tipo de vazamentos ilegais, e que aconteceram grandemente a partir desse<br />
fato. Eu, como cientista social, sou obrigado a ver que existe alguma coisa aí, porque<br />
essas coisas não acontecem, nunca, por acaso e tem a ver sempre com esses<br />
interesses. Como cientista social, estou interessado em saber não o que as pessoas<br />
dizem, o que elas fazem, mas nos resultados de suas ações e para onde levam esses<br />
resultados. E foi esse tipo de análise que me fez ver a cooptação midiática do aparelho<br />
jurídico-policial do Estado para ter vantagens para si própria. E ainda ter uma vantagem<br />
de prestígio: tirar onda na rua de que você é guardião da moralidade. São vantagens<br />
que ficam difíceis de serem explicadas.<br />
|Considerações finais<br />
Sobre a questão da mídia e sobre todos os outros componentes que entraram<br />
no golpe, eu acho que as pessoas ficaram muito desanimadas com o resultado das<br />
eleições e o que ela indicou, mas eu acho que a gente tem que ver isso tudo em<br />
perspectiva, porque a mentira não fica muito tempo, a mentira pode produzir efeitos<br />
como esse que nós vimos, pode acabar com a esquerda, pode mudar o Governo para<br />
meia dúzia que tinha sido derrotada em todas as outras eleições. Agora, a mídia, assim<br />
como todos esses outros aventureiros que entraram no golpe, investiu capital de<br />
confiança; é bem verdade que essas questões, que estão na cabeça dessas instituições<br />
e que podem não estar percebendo isso, não veem a longo prazo, não veem antes de<br />
tudo que você tem que legitimar as suas ações. Então, eu acho que nos próximos anos<br />
o que esse pessoal pode fazer é tentar um fechamento total. Não-democracia, o que<br />
também tem um custo. Mas nos próximos anos as ambiguidades e as verdades desse<br />
processo vão tender a aparecer cada vez mais. 2017 já vai ser diferente de 2016, e 2018<br />
idem. Então, toda mentira, toda a suja mentira que foi montada para o povo brasileiro<br />
tende a ficar cada vez mais exposta. E eu espero só que dessa vez a gente seja menos<br />
tolo, menos burro, menos imbecil do que a gente sempre foi e que a gente aprenda de<br />
uma vez por todas, finalmente, com isso, a gente tem que ver as forças desse golpe,<br />
para que ele serve, daí aquela defesa que fiz de nos preocupar com o principal. São os<br />
interesses em jogo, para onde está indo o dinheiro e o poder. E que a gente aprenda de<br />
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