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Livro Mídia, Misoginia e Golpe

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Mídia, Misoginia e Golpe<br />

gerencialista da presidenta Dilma, característica que dava margem à despolitização da<br />

luta de classe e distanciamento da perspectiva de implementação de um projeto de<br />

sociedade mais democrática e justa iniciado com o governo Lula. Contudo, respeitava<br />

sua postura ética na política. Sabemos bem que o golpe iniciou com a tomada das<br />

elites, os donos do capital, sob os rumos da economia brasileira, sobretudo com a<br />

nomeação do Levy para a pasta do Ministério da Fazenda; seguido do domínio da<br />

política com a aprovação da pauta do impeachment no Congresso Nacional; fechando<br />

com o desfecho do golpe. Continua, pós-golpe, a onda ideológica de fazer o povo<br />

acreditar que o País ficou endividado devido ao excesso e à má gestão dos programas<br />

sociais para os mais pobres e ao aumento no acesso da população aos serviços e bens<br />

públicos. A crise econômica brasileira não é oriunda dos gastos sociais, até porque,<br />

relativo ao PIB, o gasto com pagamento da dívida pública consome 45% de nossas<br />

receitas, o repasse para estados e municípios próximo de 10%, enquanto que a saúde,<br />

a educação e a assistência social, cada uma responde por menos de 3%. Situação que<br />

pode ser agravada com a proposta de emenda à constituição, PEC 55/2016, que ora<br />

tramita no Senado.<br />

|Você considera que o impeachment de Dilma Rousseff terá algum impacto na<br />

participação feminina na política? Em que sentido?<br />

Sim, podendo ser negativo ou positivo. Vou contribuir para que seja positivo,<br />

incentivando maior participação das mulheres na política. O governo Temer e o<br />

Congresso Nacional não estão fazendo política, que é a prática de fazer diálogos<br />

democráticos entre representantes do Estado e da sociedade, visando construir<br />

consensos a favor dos interesses da maioria, ou seja, da população. Fora da política não<br />

há saída, mas sim acirramento dos conflitos de classe, de raça, de gênero, de geração.<br />

Tem sido muito gratificante ver a juventude, em especial as mulheres jovens, assumir o<br />

protagonismo das lutas sociais e políticas em defesa da democracia, contra o golpe e<br />

contra a PEC 55/2016 [que tramitou na Câmara dos Deputados como PEC 241],<br />

entrando na cena política nacional e internacional. A elite brasileira fará questão de<br />

escrever na historiografia política que tivemos uma mulher que chegou à presidência<br />

do País, mas que foi impedida de exercer sua função por incapacidade de comandar o<br />

Brasil. Livros como este [Mídia Misoginia e Golpe] são muito importantes para disputar<br />

a narrativa política de como ocorreu o golpe de 2016 no Brasil, dando ênfase às<br />

práticas de misoginia que ocorreu no processo do impeachment. Além de um golpe<br />

jurídico-legislativo-midiático, ratifico, como disse a ex-ministra Eleonora Menicucci, que<br />

também foi um golpe patriarcal com clivagens de gênero, de raça e de classe.<br />

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