REBOSTEIO Nº 3
Revista REBOSTEIO DIGITAL número três - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.
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“O CAPOEIRA<br />
- qué apanhá sordado?<br />
- o quê?<br />
- qué apanhá?<br />
Pernas e cabeças na calçada.<br />
(Oswald de Andrade)<br />
Mais que uma luta ou um esporte, a capoeira é<br />
uma expressão cultural que inclui a musicalidade<br />
e os símbolos traduzidos da memória corporal.<br />
Não há consenso histórico sobre a origem ser<br />
primordialmente africana ou brasileira, dos<br />
escravos fugidos que teriam desenvolvido esse<br />
tipo de auto-defesa em locais onde a mata era<br />
rala, as 'capoeiras', palavra originária do tupiguarani<br />
(ka'a = mata) + (pûer = que foi).<br />
Refere-se às áreas de mata rasteira do interior do<br />
Brasil onde era praticada agricultura indígena.<br />
Acredita-se que a capoeira tenha obtido o nome a<br />
partir destas áreas que cercavam as grandes<br />
propriedades rurais de base escravocrata.<br />
Historicamente a capoeira ganhou força nos<br />
quilombos, como meio de defesa dos mesmos,<br />
até o ponto em que soldados portugueses<br />
relataram ser necessário mais de um “dragão”<br />
(militar da infantaria montada) para capturar um<br />
quilombola, pois este normalmente se defendia<br />
com uma “estranha técnica de ginga ou luta”.<br />
Considerada subversiva, a capoeira foi proibida<br />
no Brasil desde 1821 até a década de 1930,<br />
através de portarias que estabeleciam castigos<br />
corporais severos e outras medidas de repressão<br />
à sua prática. Porém durante muito tempo, após a<br />
abolição da escravatura e a conseqüente<br />
concorrência da mão de obra estrangeira na<br />
agricultura, muitos ex-escravos capoeiristas<br />
começaram a utilizar suas habilidades para<br />
sobreviver como guardas de corpo, mercenários,<br />
assassinos de aluguel, capangas. Isso levou o<br />
governo a proibir completamente a capoeira em<br />
todo o território nacional a partir de 1890, em<br />
vista da vantagem que um capoeirista levava no<br />
confronto corporal contra um policial. Qualquer<br />
cidadão pego praticando capoeira era passível de<br />
prisão, tortura e mutilação.<br />
Esse status, no entanto, só mudou radicalmente a<br />
partir de 18 de julho de 2008, quando o IPHAN<br />
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico<br />
Nacional) reconheceu-a como patrimônio<br />
cultural brasileiro, em cerimônia realizada no<br />
Palácio Rio Branco, em Salvador.<br />
Em 1932, com o relaxamento da perseguição, foi<br />
fundada em Salvador a primeira academia de<br />
capoeira da história, por mestre Bimba, exímio<br />
lutador no ringue e em lutas de rua ilegais.<br />
Mestre Bimba enxugou a capoeira tornando-a<br />
mais eficiente, inseriu alguns outros movimentos<br />
de artes marciais e também o conceito de<br />
graduações, representadas por um lenço<br />
amarrado na cintura. Desenvolveu um dos<br />
primeiros métodos de treinamento sistemático e<br />
fundou o Centro de Cultura Física e Luta<br />
Regional. Como a palavra “capoeira” ainda era<br />
proibida pelo código penal, Bimba chamou seu<br />
novo estilo de Luta Regional Baiana, e com isso<br />
obteve aceitação social, passando a ensinar para<br />
as elites econômicas de Salvador. Finalmente em<br />
1940 a capoeira saiu do código penal brasileiro e<br />
deixou a ilegalidade. Das muitas apresentações<br />
que mestre Bimba fez com seu grupo, talvez a<br />
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