REBOSTEIO Nº 3
Revista REBOSTEIO DIGITAL número três - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.
Revista REBOSTEIO DIGITAL número três - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O TREM DE MOGI A SÃO PAULO<br />
NÃO ANDA. NEM NÓS.<br />
Maranhense, nascido em 1954. Jornalista e poeta.<br />
Viveu em Pernambuco vários anos.<br />
Poemas do livro: Vá, vá ver como esses negros<br />
cultivam a mandioca - Ed. Rumo Gráfica Ltda. 1981<br />
BRANCO, UMA MODA QUE DESFIGURA<br />
Haverá um dia,<br />
não por vias naturais,<br />
em que ser branco<br />
estará inteiramente<br />
fora de moda.<br />
Aí, não caberão<br />
mais nos cabeções<br />
estilizados (um dia<br />
roupa de escravos)<br />
a «doença» política da raça,<br />
da cor da pele.<br />
E os trejeitos e<br />
balangandãs (um dia<br />
ornamento de escravos)<br />
não cumprirão uma ordem<br />
universal do capital.<br />
E os olhos verdes<br />
os olhos castanhos<br />
os olhos pretos<br />
os lábios róseos<br />
os cabelos escorridos<br />
o rouge não esconderão mais<br />
a liberdade das relações<br />
pessoais, impessoais dos homens<br />
das gentes que vão pelas ruas e,<br />
neste dia, estará<br />
falida a Helena Rubinstein.<br />
O trem vem de Mogi<br />
corta quintais expostos,<br />
braços articulando lavagens<br />
de pratos em girais<br />
ídolos e sobrecargas<br />
dos idealistas utópicos.<br />
O trem metalmente<br />
vai em frente, abarrotado<br />
de estudantes<br />
comprimindo o ar,<br />
as lesões das vozes<br />
que espatifam-se nas<br />
paredes galvanizadas.<br />
Imprensados, os corpos,<br />
as aspirações, maquinam<br />
os golpes futuros,<br />
à risca: ora dos ensinamentos<br />
de Paine, ora de Burke,<br />
ora da família, ora misticamente<br />
sob Mazzini. O trem, estômagos à mão<br />
vão-se... Os corpos enrijecem à mesma<br />
manhã sem futuro?<br />
Suas veias Mogi-São Paulo<br />
diariamente entopem na<br />
baixa dos motivos da volta.<br />
O trem se manda, a educação<br />
entre sutiãs, comprimem-se<br />
entre trilhos, que fremita,<br />
pernoita no abrir e fechar<br />
das bocas incoerentes das cidades.<br />
O trem, os estudantes,<br />
caminham para lados diferentes<br />
um, por certo, oxidará<br />
os outros esconderão<br />
por inocência ou excesso de zelo<br />
as provas reticências<br />
o trem, em seu percurso mesmo,<br />
sobre os mesmos ossos e sonhos presentes,<br />
quebra o ritmo das mãos<br />
abanando adeus e<br />
os estudantes, inocentemente, aquecem-lhe<br />
a veia mantida a óleo e fumaça.<br />
O ar não move-se,<br />
os olhares furtivos de desejos<br />
esvaem-se na perda dos abraços solitários.