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REBOSTEIO Nº 3

Revista REBOSTEIO DIGITAL número três - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.

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condições de higiene, moradia, infraestrutura,<br />

etc. Tenta-se mascarar o<br />

preconceito racial justificando-o como<br />

preconceito de classe.<br />

O mito da democracia racial tem como<br />

função oficial criar uma imagem<br />

pacificadora e irreal para esconder os<br />

conflitos existentes, além de procurar<br />

manter um controle sobre a população<br />

negra exercendo uma violência<br />

invisível e portanto não sujeita a<br />

contestação.<br />

A música e o esporte são quase que as<br />

únicas brechas onde é socialmente<br />

aceito o negro se destacar, alcançando<br />

ascenção social e econômica. Ainda<br />

assim, são atividades do ponto de vista<br />

mais racional consideradas lúdicas,<br />

destinadas ao entretenimento, portanto<br />

estão fora das atividades consideradas<br />

de “responsabilidade”.<br />

Pelé, um dos ídolos do esporte mais<br />

respeitados no mundo, é usado para<br />

reafirmar a idéia insidiosa de que o<br />

preconceito no Brasil é de classe, não<br />

étnico. Ele próprio assimilou esse<br />

discurso, afirmando que nunca sofreu<br />

qualquer espécie de preconceito e<br />

omitindo-se nas questões raciais.<br />

O rei do futebol e outros negros que<br />

conseguiram se destacar são exceções,<br />

pois o “fracasso” da grande maioria<br />

dos negros é taxado pela sua suposta<br />

falta de vontade de progredir. Quando<br />

falam do preconceito sofrido,<br />

costumam ouvir mais uma das<br />

“pérolas” discriminatórias: “você tem<br />

é complexo de cor!”<br />

O negro assimila esse conceito de que<br />

ele “não serve para nada” e passa a<br />

objetivar um “embranquecimento”<br />

social, seja através de uma atividade<br />

ou de casamentos mistos, ou mesmo o<br />

recurso de cosméticos que prometem o<br />

clareamento da pele.<br />

Para aqueles que ainda acreditam que<br />

o Brasil não é um país racista: não faz<br />

tanto tempo assim, uma das emissoras<br />

de maior audiência do país pôs no ar<br />

uma novela (Corpo a Corpo, de<br />

Gilberto Braga) onde Zezé Mota fazia<br />

par com Marcos Paulo (ator branco).<br />

Foi imenso o número de cartas<br />

protestando contra esse casal interracial,<br />

sugerindo entre outras<br />

barbaridades, que o ator lavasse a boca<br />

com água sanitária a cada beijo dado<br />

em Zezé Mota. Embora a miscigenação<br />

seja um dos pilares da “democracia<br />

racial”, na prática as pessoas<br />

dificilmente admitem a mistura de<br />

cores.<br />

A mulher negra e a mulata,<br />

transformada em objeto de exportação,<br />

sofrem tripla discriminação: social,<br />

racial e sexual. Portanto os problemas<br />

da população negra no geral atingem a<br />

mulher pelo menos três vezes mais.<br />

São vítimas do machismo dentro e fora<br />

do seu grupo étnico, e somado a isto o<br />

mito racista de que são “quentes na<br />

cama” as torna vulneráveis ao assédio<br />

de uma forma muito mais agressiva do<br />

que ocorre com a mulher branca.<br />

O racismo “à moda brasileira” coloca o<br />

negro na cozinha, nos elevadores de<br />

serviço, na miséria e na cama.<br />

Proibidos de ter acesso a muitos<br />

lugares, sistematicamente são<br />

perseguidos e vítimas da polícia. A<br />

carteira de trabalho assinada é a<br />

garantia de acesso a esse livre trânsito,<br />

mas como o grande contingente de<br />

desempregados são negros, seu lugar é<br />

principalmente na cadeia. Oficialmente<br />

não somos um país segregacionista,<br />

mas sabemos onde ele coloca a grande<br />

maioria de sua população negra.<br />

O Movimento Negro tem procurado,<br />

através da conscientização, mudar o<br />

quadro dessa doença social brasileira,<br />

denunciando as sutilezas que tentam<br />

maquiar seus sintomas e as possíveis<br />

formas de combate-la.<br />

A LEI <strong>Nº</strong> 10.639/03 de 9 de Janeiro de 2003:<br />

Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação<br />

nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática «História<br />

e Cultura Afro-brasileira», e dá outras providências.<br />

página 08

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