28.05.2017 Views

REBOSTEIO Nº 3

Revista REBOSTEIO DIGITAL número três - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.

Revista REBOSTEIO DIGITAL número três - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

etórica acadêmica de homem de “curso superior”?<br />

Pretensiosamente discorro sobre o outro e sua<br />

cultura dita negra. Onde começa minha ignorância e<br />

até onde me permito ver, escutar, perceber a<br />

diferença étnica sem reduzi-la a meus pre<br />

conceitos?<br />

“...Não sou brasileiro, / Não sou estrangeiro, /<br />

Não sou brasileiro,/ Não sou estrangeiro. / Não<br />

sou de nenhum lugar, / Sou de lugar nenhum. /<br />

Não sou de São Paulo, não sou japonês. / Não sou<br />

carioca, não sou português. / Não sou de Brasília,<br />

não sou do Brasil. / Nenhuma pátria me pariu. /<br />

Eu não tô nem aí. / Eu não tô nem aqui. ...” [6]<br />

Meio caboclo maranhense, meio gaúcho/ucraniano,<br />

um brasileiro tipicamente híbrido, busca destacar-se<br />

desse outro denominado negro, discriminado pela<br />

cor, (jamais ouvi ninguém dizer: “olha aquela<br />

branca gostosa passando no outro lado da calçada”)<br />

numa terra onde a fusão, a mestiçagem, a<br />

miscigenação prevalecem desde sua descoberta.<br />

“... Somos todos juntos uma miscigenação /<br />

E não podemos fugir da nossa etnia / Índios,<br />

brancos, negros e mestiços / Nada de errado em<br />

seus princípios / O seu e o meu são iguais / Corre<br />

nas veias sem parar / Costumes, é folclore é<br />

tradição / Capoeira que rasga o chão / Samba<br />

que sai da favela acabada / É hip hop na minha<br />

embolada<br />

É o povo na arte / É arte no povo / E não o povo<br />

na arte / De quem faz arte com o povo ...” [7]<br />

Onde 45% da população é “negra”, de acordo com<br />

os critérios racistas do último recenseamento<br />

realizado no país. Os outros 55% são sub<br />

classificados em “pardos” (!) sendo 5%, “brancos”<br />

(puros?), naturalmente, aqueles filhos ou netos de<br />

pais e avós de imigrantes. Mais arbitrário do que o<br />

critério, brasileiro “negro”, é a subclassificação,<br />

“pardo”, inexistente em qualquer catálogo<br />

profissional de cores. A indefinição dessa “cor<br />

suja” - uma “gíria” de artista visual para uma<br />

mescla “fracassante” de cores que não leva a<br />

nenhum matiz relevante, sem valor cromático na<br />

pintura, a adoção dessa sub categorização nos<br />

remete a esses 50% fantasmáticos, brasileiros<br />

analfabetos funcionais, muitos sem identidade<br />

pessoal formalizada numa mera “RG”, decisiva<br />

para que iniciem o longo e tortuoso percurso de<br />

aquisição de status de cidadão ciente de seus<br />

direitos básicos.<br />

“Primeiro levaram os negros / Mas não me<br />

importei com isso / Eu não era negro<br />

fotoarte: mercedes lorenzo<br />

página 34

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!