REBOSTEIO Nº 3
Revista REBOSTEIO DIGITAL número três - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.
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etórica acadêmica de homem de “curso superior”?<br />
Pretensiosamente discorro sobre o outro e sua<br />
cultura dita negra. Onde começa minha ignorância e<br />
até onde me permito ver, escutar, perceber a<br />
diferença étnica sem reduzi-la a meus pre<br />
conceitos?<br />
“...Não sou brasileiro, / Não sou estrangeiro, /<br />
Não sou brasileiro,/ Não sou estrangeiro. / Não<br />
sou de nenhum lugar, / Sou de lugar nenhum. /<br />
Não sou de São Paulo, não sou japonês. / Não sou<br />
carioca, não sou português. / Não sou de Brasília,<br />
não sou do Brasil. / Nenhuma pátria me pariu. /<br />
Eu não tô nem aí. / Eu não tô nem aqui. ...” [6]<br />
Meio caboclo maranhense, meio gaúcho/ucraniano,<br />
um brasileiro tipicamente híbrido, busca destacar-se<br />
desse outro denominado negro, discriminado pela<br />
cor, (jamais ouvi ninguém dizer: “olha aquela<br />
branca gostosa passando no outro lado da calçada”)<br />
numa terra onde a fusão, a mestiçagem, a<br />
miscigenação prevalecem desde sua descoberta.<br />
“... Somos todos juntos uma miscigenação /<br />
E não podemos fugir da nossa etnia / Índios,<br />
brancos, negros e mestiços / Nada de errado em<br />
seus princípios / O seu e o meu são iguais / Corre<br />
nas veias sem parar / Costumes, é folclore é<br />
tradição / Capoeira que rasga o chão / Samba<br />
que sai da favela acabada / É hip hop na minha<br />
embolada<br />
É o povo na arte / É arte no povo / E não o povo<br />
na arte / De quem faz arte com o povo ...” [7]<br />
Onde 45% da população é “negra”, de acordo com<br />
os critérios racistas do último recenseamento<br />
realizado no país. Os outros 55% são sub<br />
classificados em “pardos” (!) sendo 5%, “brancos”<br />
(puros?), naturalmente, aqueles filhos ou netos de<br />
pais e avós de imigrantes. Mais arbitrário do que o<br />
critério, brasileiro “negro”, é a subclassificação,<br />
“pardo”, inexistente em qualquer catálogo<br />
profissional de cores. A indefinição dessa “cor<br />
suja” - uma “gíria” de artista visual para uma<br />
mescla “fracassante” de cores que não leva a<br />
nenhum matiz relevante, sem valor cromático na<br />
pintura, a adoção dessa sub categorização nos<br />
remete a esses 50% fantasmáticos, brasileiros<br />
analfabetos funcionais, muitos sem identidade<br />
pessoal formalizada numa mera “RG”, decisiva<br />
para que iniciem o longo e tortuoso percurso de<br />
aquisição de status de cidadão ciente de seus<br />
direitos básicos.<br />
“Primeiro levaram os negros / Mas não me<br />
importei com isso / Eu não era negro<br />
fotoarte: mercedes lorenzo<br />
página 34