condições de higiene, moradia, infraestrutura, etc. Tenta-se mascarar o preconceito racial justificando-o como preconceito de classe. O mito da democracia racial tem como função oficial criar uma imagem pacificadora e irreal para esconder os conflitos existentes, além de procurar manter um controle sobre a população negra exercendo uma violência invisível e portanto não sujeita a contestação. A música e o esporte são quase que as únicas brechas onde é socialmente aceito o negro se destacar, alcançando ascenção social e econômica. Ainda assim, são atividades do ponto de vista mais racional consideradas lúdicas, destinadas ao entretenimento, portanto estão fora das atividades consideradas de “responsabilidade”. Pelé, um dos ídolos do esporte mais respeitados no mundo, é usado para reafirmar a idéia insidiosa de que o preconceito no Brasil é de classe, não étnico. Ele próprio assimilou esse discurso, afirmando que nunca sofreu qualquer espécie de preconceito e omitindo-se nas questões raciais. O rei do futebol e outros negros que conseguiram se destacar são exceções, pois o “fracasso” da grande maioria dos negros é taxado pela sua suposta falta de vontade de progredir. Quando falam do preconceito sofrido, costumam ouvir mais uma das “pérolas” discriminatórias: “você tem é complexo de cor!” O negro assimila esse conceito de que ele “não serve para nada” e passa a objetivar um “embranquecimento” social, seja através de uma atividade ou de casamentos mistos, ou mesmo o recurso de cosméticos que prometem o clareamento da pele. Para aqueles que ainda acreditam que o Brasil não é um país racista: não faz tanto tempo assim, uma das emissoras de maior audiência do país pôs no ar uma novela (Corpo a Corpo, de Gilberto Braga) onde Zezé Mota fazia par com Marcos Paulo (ator branco). Foi imenso o número de cartas protestando contra esse casal interracial, sugerindo entre outras barbaridades, que o ator lavasse a boca com água sanitária a cada beijo dado em Zezé Mota. Embora a miscigenação seja um dos pilares da “democracia racial”, na prática as pessoas dificilmente admitem a mistura de cores. A mulher negra e a mulata, transformada em objeto de exportação, sofrem tripla discriminação: social, racial e sexual. Portanto os problemas da população negra no geral atingem a mulher pelo menos três vezes mais. São vítimas do machismo dentro e fora do seu grupo étnico, e somado a isto o mito racista de que são “quentes na cama” as torna vulneráveis ao assédio de uma forma muito mais agressiva do que ocorre com a mulher branca. O racismo “à moda brasileira” coloca o negro na cozinha, nos elevadores de serviço, na miséria e na cama. Proibidos de ter acesso a muitos lugares, sistematicamente são perseguidos e vítimas da polícia. A carteira de trabalho assinada é a garantia de acesso a esse livre trânsito, mas como o grande contingente de desempregados são negros, seu lugar é principalmente na cadeia. Oficialmente não somos um país segregacionista, mas sabemos onde ele coloca a grande maioria de sua população negra. O Movimento Negro tem procurado, através da conscientização, mudar o quadro dessa doença social brasileira, denunciando as sutilezas que tentam maquiar seus sintomas e as possíveis formas de combate-la. A LEI <strong>Nº</strong> 10.639/03 de 9 de Janeiro de 2003: Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática «História e Cultura Afro-brasileira», e dá outras providências. página 08
Ethel Muniz é um velho companheiro desses nossos encontros virtuais. Sua música, sua pintura, poemas e performances, além da sua pessoa querida, garantem uma aproximação carinhosa quase física e de bem querer constantes. Confiram nessa entrevista, que nos concedeu com toda simpatia e disponibilidade, o encontro de culturas aparentemente tão díspares.