12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> material: “Trata-se, com efeito, <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> concernente ao po<strong>de</strong>r instrutório do magistrado,<br />

imprescindível à formação <strong>de</strong> sua convicção, <strong>de</strong> que, inequivocamente, se faz instrumento; e à qual se agrega, em<br />

múltiplas e variadas circunstâncias, aquela resultante do po<strong>de</strong>r acautelatório, por ele <strong>de</strong>sempenhado para garantir o<br />

<strong>de</strong>sfecho do processo criminal” (Do corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito no direito processual penal brasileiro, p. 88). O princípio da<br />

verda<strong>de</strong> real significa, pois, que o magistrado <strong>de</strong>ve buscar provas, tanto quanto as partes, não se contentando com o<br />

que lhe é apresentado, simplesmente. Note-se o disposto nos arts. 209, caput (“o juiz, quando julgar necessário,<br />

po<strong>de</strong>rá ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas partes” – grifamos), 234 (“se o juiz tiver notícia da<br />

existência <strong>de</strong> documento relativo a ponto relevante da acusação ou da <strong>de</strong>fesa, provi<strong>de</strong>nciará, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong><br />

requerimento <strong>de</strong> qualquer das partes, para sua juntada aos autos, se possível” – grifo nosso), 147 (“o juiz po<strong>de</strong>rá,<br />

<strong>de</strong> ofício, proce<strong>de</strong>r à verificação da falsida<strong>de</strong>” – grifamos), 566 (“não será <strong>de</strong>clarada a nulida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ato processual<br />

que não houver influído na apuração da verda<strong>de</strong> substancial ou na <strong>de</strong>cisão da causa” – <strong>de</strong>staque nosso) do <strong>Código</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>, ilustrativos <strong>de</strong>ssa colheita <strong>de</strong> ofício e da expressa referência à busca da verda<strong>de</strong> real.<br />

Contrariamente à verda<strong>de</strong> formal, inspiradora do processo civil, on<strong>de</strong> o juiz não está obrigado a buscar provas,<br />

mormente em ações <strong>de</strong> conteúdo exclusivamente patrimonial, que constitui interesse disponível, contentando-se<br />

com as trazidas pelas partes e extraindo sua conclusão com o que se <strong>de</strong>scortina nos autos, a verda<strong>de</strong> real vai além:<br />

quer que o magistrado seja coautor na produção <strong>de</strong> provas. Esse princípio muitas vezes inspira o afastamento da<br />

aplicação literal <strong>de</strong> preceitos legais. Exemplo disso é o que ocorre quando a parte <strong>de</strong>seja ouvir mais testemunhas<br />

do que lhe permite a lei. Invocando a busca da verda<strong>de</strong> real, po<strong>de</strong> obter do magistrado a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazê-lo.<br />

Sabemos, no entanto, que a doutrina vem tornando relativo o princípio da busca da verda<strong>de</strong> formal no processo<br />

civil, mencionando vários dispositivos do <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> Civil que imporiam ao magistrado o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> buscar<br />

a prova da verda<strong>de</strong> tanto quanto as partes. Expõe Marco Antonio <strong>de</strong> Barros, cuidando do processo civil, que “todas<br />

essas regras processuais” – fazendo menção aos arts. 130, 342, 355 e 440 do CPC/1973 – vi<strong>de</strong> arts. 370, 385, 396<br />

e 481 do CPC/2015 – “constituem providências que melhor se encaixam à estrutura do princípio da verda<strong>de</strong><br />

material, sobretudo pela previsão <strong>de</strong> diligências investigativas que po<strong>de</strong>m ser or<strong>de</strong>nadas pelo juiz ex officio, isto é,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da iniciativa ou vonta<strong>de</strong> das partes. A lei confere ao julgador a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicá-las em<br />

qualquer processo. Isto revela, mais uma vez, a tendência publicista do direito processual mo<strong>de</strong>rno, que se <strong>de</strong>stina a<br />

produzir a efetivação da justiça, em cujo contexto inclui-se a provi<strong>de</strong>ncial intervenção do juiz durante a instrução<br />

do processo, realizada com o propósito <strong>de</strong> garantir a paz social” (A busca da verda<strong>de</strong> no processo penal, p. 33). A<br />

mostra realística <strong>de</strong> que o processo civil preza a verda<strong>de</strong> formal, em <strong>de</strong>trimento da verda<strong>de</strong> real, é o disposto no art.<br />

344 do CPC/2015: “se o réu não contestar a ação, será consi<strong>de</strong>rado revel e presumir-se-ão verda<strong>de</strong>iras as<br />

alegações <strong>de</strong> fato formuladas pelo autor”. Ameniza-se a busca da verda<strong>de</strong> formal, por meio do art. 348 do<br />

CPC/2015: “se o réu não contestar a ação, o juiz, verificando a inocorrência do efeito da revelia previsto no art.<br />

344, or<strong>de</strong>nará que o autor especifique as provas que pretenda produzir, se ainda não as tiver indicado”.<br />

Contrariando, igualmente, a distinção entre verda<strong>de</strong> material e verda<strong>de</strong> formal, Gustavo Badaró afirma que não são<br />

verda<strong>de</strong>s absolutas, logo essas expressões serviriam apenas para distinguir graus distintos <strong>de</strong> aproximação daquela<br />

“verda<strong>de</strong> absoluta e intangível”. Ainda assim, o conceito <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> seria uno e não comportaria adjetivações (Ônus<br />

da prova no processo penal, p. 31-36). Porém, esclarecem Ada Pellegrini Grinover, Antonio Carlos <strong>de</strong> Araújo<br />

Cintra e Cândido Rangel Dinamarco o seguinte: “No processo penal sempre predominou o sistema da livre<br />

investigação <strong>de</strong> provas. Mesmo quando, no processo civil, se confiava exclusivamente no interesse das partes para<br />

o <strong>de</strong>scobrimento da verda<strong>de</strong>, tal critério não po<strong>de</strong>ria ser seguido nos casos em que o interesse público limitasse ou<br />

excluísse a autonomia privada. Isso porque, enquanto no processo civil em princípio o juiz po<strong>de</strong> satisfazer-se com a<br />

verda<strong>de</strong> formal (ou seja, aquilo que resulta ser verda<strong>de</strong>iro em face das provas carreadas aos autos), no processo<br />

penal o juiz <strong>de</strong>ve aten<strong>de</strong>r à averiguação e ao <strong>de</strong>scobrimento da verda<strong>de</strong> real (ou verda<strong>de</strong> material), como<br />

fundamento da sentença” (Teoria geral do processo, p. 71). A<strong>de</strong>mais, não questionamos que a verda<strong>de</strong> é una e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!