12.06.2017 Views

Código de Processo Penal Comentado (2016) - Guilherme de Souza Nucci

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

com eficácia, caso o magistrado participe ativamente da colheita das provas realmente interessantes ao <strong>de</strong>slin<strong>de</strong> da<br />

causa. Assim, se a testemunha não foi arrolada pela acusação (na <strong>de</strong>núncia) ou pela <strong>de</strong>fesa (na <strong>de</strong>fesa prévia), po<strong>de</strong><br />

haver a sugestão ao juiz para ouvi-la, ficando ao seu pru<strong>de</strong>nte critério <strong>de</strong>ferir ou não.<br />

56. Reinquirição <strong>de</strong> testemunha já ouvida: é possível, conforme o critério judicial. Se ao magistrado<br />

cabe o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a inquirição <strong>de</strong> pessoa não arrolada pelas partes, é natural po<strong>de</strong>r ouvir, novamente,<br />

qualquer testemunha já inquirida, para formar o seu convencimento. Entretanto, resguardados <strong>de</strong>vem ser os<br />

princípios do contraditório e da ampla <strong>de</strong>fesa, razão pela qual é preciso <strong>de</strong>signar audiência específica para tal<br />

propósito, intimando-se as partes e permitindo-se reperguntas dos interessados. Não se trata <strong>de</strong> ato privativo do<br />

juiz, pois não se está em procedimento inquisitório.<br />

57. Inquirição das testemunhas referidas: trata-se <strong>de</strong> outra hipótese <strong>de</strong> oitiva <strong>de</strong> testemunhas do juízo,<br />

pois o critério <strong>de</strong> <strong>de</strong>ferimento é, exclusivamente, do magistrado. Entretanto, quando alguma testemunha arrolada<br />

pela parte fizer expressa referência a pessoa não constante no rol das partes, nem tampouco nos autos do inquérito,<br />

é preciso que o magistrado tenha sensibilida<strong>de</strong> suficiente para avaliar a conveniência e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvi-la. A<br />

inquirição <strong>de</strong>scontrolada <strong>de</strong> várias pessoas, somente porque foram citadas por outras, produz excesso <strong>de</strong> prova,<br />

conturbando a instrução e provocando o inconveniente <strong>de</strong> obrigar o julgador ou o tribunal a ler volumes<br />

inteiramente inúteis para o <strong>de</strong>sfecho da causa. Tal situação não contribui para a <strong>de</strong>scoberta da verda<strong>de</strong> real,<br />

po<strong>de</strong>ndo, isto sim, ocultá-la diante da complexida<strong>de</strong> inútil atingida pela instrução. Por outro lado, o mero<br />

in<strong>de</strong>ferimento, a pretexto <strong>de</strong> estar o magistrado satisfeito com a prova produzida até então, po<strong>de</strong>rá privar futura<br />

avaliação <strong>de</strong> importante prova por tribunal superior ou por outro juiz, caso o feito seja anulado e submetido a novo<br />

julgamento, sob a competência <strong>de</strong> julgador diverso. Insista-se, pois, que a prudência do juiz na colheita da prova é<br />

fundamental para o <strong>de</strong>vido processo legal. Conferir: STF: “Decisão <strong>de</strong> in<strong>de</strong>ferimento <strong>de</strong> oitiva <strong>de</strong> testemunha<br />

fundamentada. Discricionarieda<strong>de</strong> do magistrado (art. 209, § 1.º, do <strong>Código</strong> <strong>de</strong> <strong>Processo</strong> <strong>Penal</strong>). Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>negada”<br />

(HC 113.160, 2.ª T., rel. Cármen Lúcia, DJ 27.11.2012).<br />

58. Cômputo <strong>de</strong> testemunha: refere-se, naturalmente, ao rol oferecido pelas partes, que possuem um<br />

número preestabelecido pela lei. Não se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que o § 2.º diga respeito ao juiz e às testemunhas do juízo,<br />

pois estas não po<strong>de</strong>m ser limitadas, como menciona o caput (“po<strong>de</strong>rá ouvir outras testemunhas”) do art. 209 em<br />

comento, sem especificar número. Como regra, pois, as partes somente po<strong>de</strong>m substituir suas testemunhas, caso<br />

elas não sejam encontradas, mas é preciso <strong>de</strong>stacar que, havendo a inquirição <strong>de</strong> pessoas que nada sabem sobre os<br />

fatos, frustrando a parte que a arrolou, <strong>de</strong>ve o magistrado permitir a substituição. Mais uma vez a cautela se impõe,<br />

para não haver burla ao espírito da lei. Se o órgão acusatório arrola para <strong>de</strong>por uma pessoa já ouvida no inquérito,<br />

nada dizendo <strong>de</strong> relevante, não po<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>r substituí-la, após sua inquirição em juízo, valendo-se do disposto no<br />

§ 2.º <strong>de</strong>ste artigo. Sabendo do conteúdo do <strong>de</strong>poimento, previamente, arrolou-a porque quis e não houve surpresa<br />

alguma. Entretanto, po<strong>de</strong> a acusação fiar-se no <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> pessoa inserida no Boletim <strong>de</strong> Ocorrência que, no<br />

entanto, não foi ouvida ao longo do inquérito. Nessa hipótese, <strong>de</strong>sconhecendo totalmente o conteúdo da narrativa<br />

da testemunha, verificando-se que absolutamente nada sabe sobre os fatos interessantes à <strong>de</strong>cisão da causa, po<strong>de</strong> o<br />

acusador pedir a substituição ao juiz, visto ser a letra da lei clara: não será computada como testemunha a pessoa<br />

que nada souber, permitindo-se, assim, o complemento do rol, <strong>de</strong>ntro do número máximo permitido. Quanto à<br />

<strong>de</strong>fesa, diga-se o mesmo. Arrolando pessoa <strong>de</strong>sconhecida, inserida num documento qualquer, por exemplo, mas que<br />

<strong>de</strong>cepciona ao ser ouvida, po<strong>de</strong> a parte pedir a substituição. Situação diversa ocorrerá, caso arrole pessoa indicada<br />

pelo próprio réu, que nada saiba. Agiu <strong>de</strong>sse modo por sua própria conta e risco, não lhe sendo permitido exigir a<br />

substituição.<br />

Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma <strong>de</strong> per si, <strong>de</strong> modo que umas não saibam nem ouçam os<br />

<strong>de</strong>poimentos das outras, 59 <strong>de</strong>vendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao falso testemunho. 60

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!