PME Magazine - Edição 5 - Julho 2017
António Saraiva, presidente da CIP, é a figura de destaque da 5.ª edição da PME Magazine, que marca o primeiro aniversário da empresa. Leia na íntegra aqui.
António Saraiva, presidente da CIP, é a figura de destaque da 5.ª edição da PME Magazine, que marca o primeiro aniversário da empresa. Leia na íntegra aqui.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
“A ECONOMIA NÃO SE GERE<br />
POR OBJETIVOS POLÍTICOS”<br />
<strong>PME</strong> Mag. – Depois de os parceiros sociais<br />
chegarem a acordo para o aumento do salário<br />
mínimo para 557 euros este ano o Governo já<br />
fala nos 580 euros para o ano. Qual a posição<br />
da CIP?<br />
A.S.– O Governo tem um objetivo de chegar a<br />
600 euros em 2019, acordo que tem com um dos<br />
partidos, o Bloco de Esquerda. Há de facto esse<br />
compromisso político do Partido Socialista e hoje,<br />
como é governo, de o cumprir, mas, sendo certo<br />
que o salário mínimo é baixo e todos o<br />
reconhecemos, temos de perceber que o salário,<br />
seja o mínimo, seja outro qualquer da grelha<br />
salarial das empresas, tem de estar<br />
inevitavelmente indexado a ganhos de<br />
produtividade. Não podemos crescer os salários<br />
se não houver ganhos de produtividade que os<br />
sustentem. É muito bom passarmos de 900 euros<br />
para 1200 euros se no mês seguinte não tivermos<br />
desemprego. De que me serve aumentarem-me<br />
300 euros o meu salário, se no mês seguinte a<br />
empresa perde condições de mo pagar e eu vou<br />
para o desemprego? Então vamos, numa<br />
discussão séria, honesta, com dados objetivos,<br />
fazer evoluir o salário mínimo com base em<br />
indicadores que sejam mensuráveis e essa tem<br />
sido a nossa preocupação. De uma forma leal,<br />
honesta, transparente, com os elementos que<br />
estejam disponíveis, variar os salários em função<br />
de três critérios objetivos: crescimento económico,<br />
inflação e produtividade.<br />
O salário hoje é 557. Vamos-lhe incorporar estes<br />
três fatores objetivos para evolução. Quanto é o<br />
crescimento económico? 1,8%, 2%? Muito bem.<br />
Quanto é o ganho de produtividade? Igual?<br />
Muito bem. Quanto é a inflação? Com base nisto,<br />
definimos que o salário deve aumentar, para que<br />
a economia o sustente, para 580? Muito bem, se<br />
for esse o valor que se encontrar, seja 580. Então<br />
e se for 575? E se for 590? Se for 590 toda a gente<br />
concordará, mas se for 575 não pode ser, porque<br />
há um objetivo político que seja 580.<br />
JULHO <strong>2017</strong><br />
WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />
“QUANDO CHEGARMOS<br />
A OUTUBRO, O GOVERNO<br />
VAI QUERER DISCUTIR<br />
O SALÁRIO MÍNIMO<br />
APONTANDO 580”<br />
A economia não se rege por objetivos políticos.<br />
A economia, a capacidade das empresas, o<br />
crescimento económico, é que deve gerar<br />
sustentadamente uma correta politica salarial.<br />
É evidente que não podemos ter desigualdades,<br />
temos de ter uma preocupação social e o salário<br />
mínimo incorpora uma componente social que não<br />
pode ser esquecida, mas essa componente social<br />
deve ser o próprio Estado a incorporá-la. E por isso<br />
é que o diálogo deve ser tripartido, Governo,<br />
empregadores, sindicatos, para, com base nestes<br />
critérios, definirmos o escalonamento da evolução<br />
do salário mínimo, não pode ser por decreto!<br />
Eu não posso chegar a uma empresa e decretar<br />
que a empresa agora deve pagar 600 euros.<br />
Se a empresa não puder pagar mais do que 500 eu<br />
vou fechar a empresa, tenho que ter esta lucidez,<br />
vou provocar desemprego. Então vamos, numa<br />
discussão honesta, com base em indicadores que<br />
todos conhecemos e que todos possamos<br />
valorizar – não pode ser com fatores de<br />
malandrice negocial, mas coisas objetivas,<br />
mensuráveis. Se dá dez é dez, mas se der sete é<br />
sete! É esta discussão séria que deve ser feita em<br />
sede de concertação social. Obviamente que não<br />
vamos ser ingénuos, sabemos que o Governo,<br />
tendo este objetivo político, quando chegarmos<br />
a outubro, vai querer começar a discutir o salário<br />
mínimo do ano que vem, apontando 580. Tem uma<br />
componente social, tem um objetivo político em<br />
que nós não interviemos – não fomos tidos nem<br />
achados nesse objetivo político.<br />
13