Diverse Lingue - Academia Brasileira de Letras
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uma recomposição também social, <strong>de</strong> uma literatura que dê conta da complexida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> um país capaz <strong>de</strong> discriminar, como ocorrera no passado e ainda se<br />
verifica no presente, faixas inteiras da população:<br />
Quero antes o lirismo dos loucos<br />
O lirismo dos bêbedos<br />
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />
O lirismo dos clowns <strong>de</strong> Shakespeare<br />
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. 15<br />
[Voglio piuttosto il lirismo <strong>de</strong>i pazzi / Il lirismo <strong>de</strong>gli ubriachi / Il lirismo difficile e pungente <strong>de</strong>gli ubriachi<br />
/ Il lirismo <strong>de</strong>i clowns di Shakespeare // – Non ne voglio più sapere <strong>de</strong>l lirismo che non è liberazione.]<br />
Retornemos ao quesito inicial. Se Ban<strong>de</strong>ira é o poeta da recomposição entre<br />
alto e baixo da literatura e da realida<strong>de</strong>, é possível traduzi-lo para o italiano, uma<br />
língua que muitos dos próprios falantes sentem hoje, em alguns casos, como elitista<br />
e, em outros, como asséptica? É possível trasladar e reconstituir a ternura, a<br />
expressivida<strong>de</strong>, a intensida<strong>de</strong> e, ao mesmo tempo, o seu elóquio suave e gentil, <strong>de</strong><br />
quem fala baixo, <strong>de</strong> quem sobretudo escuta, <strong>de</strong> quem bate na porta <strong>de</strong> manhã<br />
com um pão quente nas mãos e o temor <strong>de</strong> incomodar a tranqüilida<strong>de</strong> da alma,<br />
própria e alheia? Assim é Manuel Ban<strong>de</strong>ira e o seu lirismo. Traduzi-lo em italiano<br />
é tarefa árdua, porque algumas das suas poesias po<strong>de</strong>riam parecer, ao leitor<br />
italiano, habituado à tradição literária <strong>de</strong>sta língua, um tanto pueris, com todos<br />
aqueles diminutivos que remetem à linguagem infantil:<br />
No entanto a feira burburinha.<br />
Vão chegando as burguesinhas pobres,<br />
E as criadas das burguesinhas ricas,<br />
E mulheres do povo, e as lava<strong>de</strong>iras da redon<strong>de</strong>za.<br />
15 M. Ban<strong>de</strong>ira, “Poética”, op. cit., p. 207.<br />
A tradução <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira em italiano<br />
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