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Diverse Lingue - Academia Brasileira de Letras

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A tradução <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira em italiano<br />

to e <strong>de</strong> contato com a realida<strong>de</strong>. É assim que, no Brasil, um José <strong>de</strong> Alencar romântico<br />

e um Raul Bopp mo<strong>de</strong>rnista pu<strong>de</strong>ram, ambos, transportar do tupi-guarani<br />

ao português, sem maiores dificulda<strong>de</strong>s, as modalida<strong>de</strong>s sensíveis<br />

da língua nativa, em obras nas quais o mito é a medula, o centro irradiador <strong>de</strong><br />

conteúdos e formas. Idêntica síntese efetuam, hoje, os escritores africanos <strong>de</strong><br />

língua portuguesa, que imergem a língua no magma da própria cultura e da<br />

própria terra, impregnando-a da riqueza dos mitologemas, transmitidos oralmente<br />

<strong>de</strong> geração em geração.<br />

Mas, se nos países africanos, as possíveis e futuras variantes do português<br />

estão in progress, no que diz respeito ao Brasil, o português é sentido pelos falantes<br />

como língua congênita, intrínseca e arraigada. Ela cumpre o seu papel e <strong>de</strong>sempenha<br />

todas as inúmeras funções comunicativas, orais e escritas, possui um<br />

repertório flexível e adaptado à expressão <strong>de</strong> um complexo <strong>de</strong> conotações estilísticas,<br />

<strong>de</strong> nuanças afetivas, que servem para manifestar, plena e eficazmente, a<br />

essência e a alma <strong>de</strong> um povo expansivo, que dá gran<strong>de</strong> relevo ao aspecto emotivo<br />

e sensível das relações interpessoais. O seu repertório <strong>de</strong> signos parte dos<br />

vocábulos hipocorísticos da fala materna e infantil, para chegar ao registro elevado,<br />

culto e abstrato do discurso religioso ou filosófico. É a língua tanto das<br />

classes abastadas como das mais pobres, dos brancos, mulatos e negros, dos<br />

habitantes do árido Nor<strong>de</strong>ste e dos pampas do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, do fleumático<br />

mineiro e do superdinâmico paulista, e conserva, nas gírias e nas formas<br />

regionais <strong>de</strong> falar, o princípio da unida<strong>de</strong> na diversida<strong>de</strong>.<br />

Bem outra é a situação do italiano, o qual, como vimos por meio dos testemunhos<br />

<strong>de</strong> poetas como Franco Scataglini e Franco Loi, não <strong>de</strong>sempenha<br />

todas as funções ou todos os níveis <strong>de</strong> comunicação, mas em que os falantes<br />

escolhem, ao contrário, a língua nacional ou o idioma regional, em base ao ambiente<br />

e ao interlocutor. Sob este ponto <strong>de</strong> vista, o português cumpre todas as<br />

tarefas que uma parte da comunida<strong>de</strong> italiana confia a duas línguas, das quais<br />

uma tem a função <strong>de</strong> manifestar, sem embaraços ou proibições, os impulsos, as<br />

emoções, a esfera afetiva enfim, enquanto que a outra <strong>de</strong>ve expor o rosto público,<br />

as máscaras ou a imagem dos contextos formais.<br />

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