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Diverse Lingue - Academia Brasileira de Letras

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A tradução <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira em italiano<br />

fenômenos <strong>de</strong> bilingüismo e, mais freqüentemente, <strong>de</strong> diglossia, ou seja, <strong>de</strong><br />

duas ou mais línguas que têm um âmbito <strong>de</strong> utilização diverso e uma função<br />

social diferente e hierarquizada. O uso do dialeto, difundido em muitas regiões<br />

da Itália, está presente na vida quotidiana e nos relacionamentos familiares<br />

e, geralmente, informais, enquanto que em outros contextos e situações se<br />

usa a língua oficial.<br />

Talvez este papel e este uso formal do italiano tenham provocado, com o<br />

tempo, seu empobrecimento – como constata Franco Loi – distanciando-o da<br />

expressão autêntica <strong>de</strong> sentimentos, <strong>de</strong> nuanças afetivas e <strong>de</strong> toda uma gama <strong>de</strong><br />

estados <strong>de</strong> espírito funcionais ou propícios ao ato criativo e poético. Ou, talvez,<br />

o nivelamento da língua seja só uma conseqüência do rebaixamento da<br />

qualida<strong>de</strong> das mensagens televisivas, que difundiram um idioma trivial e vazio,<br />

formado na maior parte dos casos por slogans publicitários.<br />

Isso é tanto mais paradoxal se pensarmos que o italiano é uma língua plasmada,<br />

em seus exórdios, por um dos maiores poetas oci<strong>de</strong>ntais. Com Dante, o<br />

florentino adquiriu uma eloqüência e uma relevância que outros vulgares da<br />

península não conheceram. Mas Dante, na Commedia, utiliza com liberda<strong>de</strong> e<br />

invenção todos os registros, do plebeu ao cortês, criando neologismos, permutando<br />

termos dos outros dialetos e também do latim e do francês, termos que<br />

se impuseram no uso e que caracterizam, ainda hoje, tanto a língua poética e literária<br />

quanto a falada. É só <strong>de</strong>pois que o cânone passará a ser a língua refinada<br />

e áulica do lirismo petrarquesco, <strong>de</strong>cantada das contaminações das formas populares,<br />

<strong>de</strong> modo que a literatura começa a distanciar-se e a isolar-se em seu sublime<br />

gueto.<br />

Reinventar um italiano menos convencional, menos codificado e burocrático,<br />

mais flexível e dúctil às gradações e as tonalida<strong>de</strong>s, não é apenas uma aspiração<br />

dos estudiosos da língua e da literatura, mas um imperativo dos escritores,<br />

os quais não po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sconhecer ou ignorar a distância que se criou entre<br />

literatura e realida<strong>de</strong>. É para sanar tal ruptura que um poeta como Giorgio Caproni<br />

(1912-1989) utilizou em sua obra, com igual dignida<strong>de</strong>, o registro alto<br />

e baixo, “contaminou” a língua literária convencional com toda a riqueza, a va-<br />

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