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Diverse Lingue - Academia Brasileira de Letras

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Evanildo Bechara<br />

O plano histórico faz referência a uma língua <strong>de</strong>terminada, inserida numa<br />

tradição histórica, razão por que não existe simplesmente língua, mas língua<br />

portuguesa, isto é, língua acompanhada <strong>de</strong> um adjetivo que a liga a uma tradição<br />

histórica. Até as línguas inventadas (o esperanto, o volapuque), ao serem<br />

construídas, passam a representar uma nova tradição histórica da língua dos<br />

outros (do inglês, do francês), e, noutra referência, percebe se alguém fala bem<br />

ou mal sua língua.<br />

O plano individual faz alusão ao fato <strong>de</strong> ser sempre um indivíduo que fala<br />

uma língua <strong>de</strong>terminada, e o faz cada vez segundo uma circunstância <strong>de</strong>terminada.<br />

A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um indivíduo falar conforme a conveniência <strong>de</strong> uma dada<br />

circunstância, Coseriu chama-a discurso, e diz que, nessa aplicação, não se <strong>de</strong>ve<br />

confundir discurso com texto, que já é entendido como produto <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong>,<br />

produto do discurso. O discurso, tal como o texto, está <strong>de</strong>terminado por<br />

quatro fatores: o falante,o<strong>de</strong>stinatário,oobjeto ou tema <strong>de</strong> que se fala e a situação.<br />

Como toda ativida<strong>de</strong>, o falar é uma ativida<strong>de</strong> que revela um saber fazer, uma<br />

competência, ainda que intuitivamente sabida, sem possibilida<strong>de</strong>, portanto, <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r ser fundamentada, isto é, um saber não reflexivo, aquilo a que os gregos<br />

chamam téchne e os romanos ars, <strong>de</strong> que falaremos mais adiante.<br />

Consoante os planos aqui distinguidos da linguagem, po<strong>de</strong>remos ter um saber<br />

falar em geral (chamado saber elocutivo ou competência lingüística geral), um saber falar<br />

uma língua <strong>de</strong>terminada como representante <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> lingüística com<br />

tradições comunitárias do saber falar (chamado saber idiomático ou competência lingüística<br />

particular) e um saber falar individual com vista à maneira <strong>de</strong> construir textos em<br />

situações <strong>de</strong>terminadas (chamado saber expressivo ou competência textual).<br />

O saber elocutivo ou competência lingüística geral não correspon<strong>de</strong> a saber falar uma<br />

língua <strong>de</strong>terminada (português, por exemplo), mas falar segundo os princípios<br />

da congruência em relação aos padrões universais do pensamento e do conhecimento<br />

geral que o homem tem das coisas existentes no mundo em que vive.<br />

Lembra Coseriu que a norma <strong>de</strong> congruência não <strong>de</strong>ve ser aqui confundida<br />

com os princípios do pensamento lógico; portanto, é uma falsa questão para o<br />

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