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Diverse Lingue - Academia Brasileira de Letras

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A tradução italiana <strong>de</strong> Os sertões, <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da Cunha<br />

uma tópica romântica, a da “viagem na minha terra”. Partindo <strong>de</strong> uma comparação<br />

com Almeida Garrett, procurei <strong>de</strong>fini-la como “uma outra viagem na<br />

minha terra”. Então propus:<br />

“Ao escrever Os sertões, o primeiro impulso expressivo <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da<br />

Cunha correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>sejo pessoal mais íntimo <strong>de</strong> revelar aos brasileiros<br />

um Brasil <strong>de</strong>sconhecido. Narrando os eventos <strong>de</strong> Canudos, ele parte em<br />

modo particular do princípio da absoluta ignorância vivida pelo homem<br />

brasileiro da imensida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> do universo Brasil. Para Eucli<strong>de</strong>s da<br />

Cunha esta é a razão central do sub<strong>de</strong>senvolvimento cultural do brasileiro do<br />

seu tempo. O homem brasileiro vive, geralmente, isolado em um limite regional,<br />

<strong>de</strong> dimensões físicas e culturais, mesmo quando participa da vida <strong>de</strong><br />

centros urbanos. As suas perspectivas sociais e existenciais quase nunca superam<br />

as fronteiras da própria região ou da própria cida<strong>de</strong>. Como conseqüência,<br />

o seu é um sistema sociocultural restrito, confinante e confinado em<br />

normas fechadas, absolutamente conservadoras. O Brasil não ultrapassa, então,<br />

as dimensões <strong>de</strong> tantos pequenos micro-universos medíocres, her<strong>de</strong>iros<br />

<strong>de</strong> uma tradição colonial que ignora quase completamente o macro-universo<br />

nacional. Tais confins psicoculturais correspon<strong>de</strong>m à predominância <strong>de</strong><br />

uma configuração estatal incapaz <strong>de</strong> uma real renovação política. Como resultado<br />

final do império <strong>de</strong> um tal Estado, resulta uma socieda<strong>de</strong> civil igualmente<br />

incapaz <strong>de</strong> afirmar-se com tal.<br />

A formação positivista <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da Cunha – formação <strong>de</strong> claras raízes<br />

iluministas, levadas às maiores conseqüências pelos sistemas positivos do mais<br />

mo<strong>de</strong>rno pensamento realista oitocentista – faz com que ele assuma posição<br />

participante no ambiente nacional. Mais uma vez verifica-se que o intelectual<br />

iluminista – integrado na melhor mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu tempo – se sente na<br />

obrigação <strong>de</strong> operar na consciência histórica das constantes relações entre arte<br />

e socieda<strong>de</strong>. O escritor escolhe a liberda<strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong> criar escrevendo com a<br />

perspectiva predominante en<strong>de</strong>reçada à sua socieda<strong>de</strong> nacional.<br />

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