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Diverse Lingue - Academia Brasileira de Letras

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Vera Lúcia <strong>de</strong> Oliveira<br />

com tantas e diferentes ilhas históricas, geográficas e culturais. Mas se o indígena,<br />

o africano e o imigrante assimilaram o português, o português brasileiro<br />

também soube, por sua vez, plasmar e englobar prosódias, vocábulos, inteiras<br />

expressões que alteraram o seu aspecto, transformaram até mesmo a sua sintaxe,<br />

sem corromper ou <strong>de</strong>spersonalizar a sua estrutura fundamental. E é essa<br />

língua que o país sente como própria, que <strong>de</strong>u e que recebeu um pouco <strong>de</strong> cada<br />

um, na qual cada falante po<strong>de</strong> se ver refletido e que reflete, por sua vez, também<br />

o rosto e a vivência <strong>de</strong> uma inteira comunida<strong>de</strong>. O bilingüismo, o multilingüismo,<br />

a diglossia são problemas que a cultura brasileira enfrentou em momentos<br />

diversos da sua história, mas que hoje parecem solucionados, com o<br />

prevalecer consensual do português como língua nacional, mesmo se em uma<br />

variante própria e original.<br />

Sobre essa “língua curumim”, dirá Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, outro protagonista<br />

da revolução mo<strong>de</strong>rnista, que tanto contribuiu para fixar o que ele <strong>de</strong>finiu<br />

como “a estilização culta da linguagem popular brasileira”: 19<br />

Brasil...<br />

Mastigado na gostosura quente do amendoim...<br />

Falado numa língua curumim<br />

De palavras incertas num remeleixo melado melancólico...<br />

Saem lentas frescas trituradas pelos meus <strong>de</strong>ntes bons...<br />

Molham meus beiços que dão beijos alastrados<br />

E <strong>de</strong>pois semitoam sem malícia as rezas bem nascidas... 20<br />

[Brasile... / Masticato nel caldo sapore <strong>de</strong>lle arachidi... / Parlato in una lingua infantile / Di parole<br />

incerte modulate con garbo caramelloso e malinconico... / Che escono lente e fresche, triturate dai miei buoni<br />

<strong>de</strong>nti... / E che mi inumidiscono le labbra che diffondono baci / Per poi semitonare senza malizia le preghiere<br />

costumate...]<br />

19<br />

Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, A lição do amigo: cartas <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> a Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Record, 1988, p. 37. Sobre o tema, cfr. Leonor Scliar Cabral, As idéias lingüísticas <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, Florianópolis: Editora da EFSC, 1986.<br />

20<br />

Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, “O poeta come amendoim”, in Io sono trecento, org, por Giuliana Segre Giorgi,<br />

Torino: Einaudi, 1973, pp. 44-47.<br />

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