inspiração “Inspiração é aquilo que acontece na hora, sem perceber. Não dá tempo <strong>de</strong> formular” i<strong>de</strong>ia boa acontece como o arrepio Criativo da Publicis afirma que para ela surgir é preciso <strong>de</strong>dicação, repertório, insistência. "E tudo isso leva tempo" 20 6 <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark
Kevin Zung é diretor- -executivo <strong>de</strong> criação da Publicis Brasil MyetEck/Shutterstock Kevin Zung especial para o PROPMARiK Este texto começa como qualquer outro trabalho: uma folha em branco e um frio na barriga. Sensação terrível, inquietante e diária na vida <strong>de</strong> qualquer profissional <strong>de</strong> criação. Talvez isso seja o que mais nos move. O receio da vergonha e da <strong>de</strong>rrota é provavelmente o combustível mais cruel, e menos nobre, que me motiva a buscar novas i<strong>de</strong>ias, novas soluções, novos caminhos. Por isso pensei em consi<strong>de</strong>rar esse pavor do iminente fracasso como o tema <strong>de</strong>ste texto. Mas isso não é inspiração. Isso é medo. Então, começo a pensar em trabalhos que me inspiram. E são muitos. Se tem uma coisa que a propaganda faz com você é te provar que tem muita gente fazendo bons trabalhos por aí. Eles estão longe <strong>de</strong> ser maioria, mas, quando você menos esperar, vai ver que alguém chegou num insight, numa i<strong>de</strong>ia, numa execução que, Deus do céu, por que você não pensou nisso antes? E isso é só o começo. E aquele clipe, aquela série fotográfica, aquele layout, aquela trilha? Coisas que ficariam perfeitas e fariam toda a diferença num job que estava na sua mesa exatamente ontem. Isso também me empurra. É como ir a uma festa, ver os outros se divertindo e pensar: “Eu é que não vou ficar aqui sentado”. Com certeza, ver trabalhos que você gostaria <strong>de</strong> ter feito é uma gran<strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> inspiração. Mas não... isso não é inspiração. Isso é inveja mesmo. E se inspiração for mesmo aquele elemento mágico, aquele click? A inspiração do artista, a epifania, a “eureka”? Do jeito que seus amigos imaginam, do jeito que até mesmo outras pessoas na agência às vezes falam. Não, isso não existe. Em minha humil<strong>de</strong> opinião, as i<strong>de</strong>ias são fruto <strong>de</strong> suor e tempo investido. Para as i<strong>de</strong>ias nascerem é preciso <strong>de</strong>dicação, repertório, insistência. E tudo isso leva tempo. Para quem tem a propaganda como ofício, <strong>de</strong> nada serve a melhor i<strong>de</strong>ia do mundo se o prazo já era. E, para a i<strong>de</strong>ia sair no tempo certo, é preciso método, não apenas talento. Enfim, eu acredito que aquela i<strong>de</strong>ia que apareceu no meio do banho não veio <strong>de</strong> um momento único da conjunção <strong>de</strong> astros, portanto isso também não é inspiração. Isso é simplesmente trabalho. Então, talvez a inspiração venha <strong>de</strong> outras pessoas, por que não? Existem muitos que eu admiro pelas mais diversas razões. A começar por Marcel Bleustein-Blanchet, fundador da Publicis. Com uma trajetória épica, ele fundou a primeira agência <strong>de</strong> propaganda da França. Lutou contra os nazistas na II Guerra, teve seus negócios confiscados, mas voltou ao trabalho anos <strong>de</strong>pois. Mais tar<strong>de</strong>, viu sua agência ar<strong>de</strong>r em chamas e construiu tudo novamente. Uma história <strong>de</strong> insistência e <strong>de</strong> mudanças como poucas que já vi. Também posso lembrar <strong>de</strong> Ed Catmull, presi<strong>de</strong>nte da Pixar, contando quantas vezes se <strong>de</strong>sesperou ao acompanhar prévias horríveis daqueles que viriam a se tornar os maiores sucessos <strong>de</strong> animação do cinema. Foi preciso mudar processos, às vezes trocar o time, criar um jeito novo <strong>de</strong> trabalhar. Talvez, <strong>de</strong> fato, pessoas como eles me inspirem. Mas falando assim, parece-me meio frio, calculado. Isso tá mais pra admiração, respeito, não inspiração. Chego à conclusão que, para mim, inspiração é aquilo que acontece na hora, sem perceber. Não dá tempo <strong>de</strong> formular, é um arrepio. Inspiração não se pensa. É curta, breve, volátil. Inspiração é aquele silêncio quando o filme no cinema acaba. É puxar o ar nos pulmões e, por alguns segundos, sentir ele preso em você. É o <strong>de</strong>sconhecido. Inspiração é uma vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>scontrolada <strong>de</strong> sair correndo pra fazer algo que você nem sabe o que é. Mas saiba que, em algum momento, essa energia toda estará sendo usada para tentar fazer alguém sentir exatamente isso. Aí, sim, é possível enten<strong>de</strong>r o que é inspiração. Lev Radin/Shutterstock Divulgação Animação “Também posso lembrar <strong>de</strong> Ed Catmull, presi<strong>de</strong>nte da Pixar, contando quantas vezes se <strong>de</strong>sesperou ao acompanhar prévias horríveis daqueles que viriam a se tornar os maiores sucessos <strong>de</strong> animação do cinema”. O criativo da Publicis se refere à animação Toy Story, conhecida por ser o primeiro longa-metragem dos estúdios Pixar e também o primeiro da história do cinema feito por computação gráfica. Divulgação Admiração “...talvez a inspiração venha <strong>de</strong> outras pessoas, por que não? Existem muitos que eu admiro pelas mais diversas razões. A começar por Marcel Bleustein-Blanchet (foto), fundador da Publicis. Com uma trajetória épica...” jornal propmark - 6 <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> 21