inspiração sensações arrebatadoras A busca pelo <strong>de</strong>sconhecido, pelo inesperado e o friozinho na barriga é o que motiva Sergio Alves a manter o olhar para as soluções inspiradoras, <strong>de</strong> um quadro a um tubo no Leblon Sergi direto criaç 28 <strong>18</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2017</strong> - jornal propmark
o Alves é r-executivo <strong>de</strong> ão da Cheil Brasil Fotos: Arquivo Pessoal Sergio AlveS especial para o ProPMArK Lembro-me, como se fosse hoje, da primeira vez que me <strong>de</strong>parei frente a frente com o quadro Sunrise with Sea Monsters, <strong>de</strong> <strong>18</strong>45, do pintor inglês J. M. William Turner, na National Gallery <strong>de</strong> Londres – lugar que se tornou uma fonte <strong>de</strong> inspiração constante nos meus oito anos vividos naquela cida<strong>de</strong>. Todas as sensações arrebatadoras que um objeto pendurado na pare<strong>de</strong> provocou em mim ainda causam certo arrepio. O mesmo acorreu quando conheci o trabalho dos fotógrafos americanos Joel-Peter Witkin e Ansel Adams, que possuem olhares tão distintos que levam a uma profunda reflexão sobre influências, pontos <strong>de</strong> vista e escolhas. Durante a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Comunicação na PUC-RJ, tive uma aula <strong>de</strong> direção <strong>de</strong> arte com um professor que no primeiro dia disse aos alunos: “Qualquer um <strong>de</strong> vocês que quiser tirar uma semana em NY ou Londres para conhecer museus, galerias e bares estará automaticamente aprovado na minha disciplina”. Infelizmente nenhum <strong>de</strong> nós teve tamanha audácia, mas felizmente as aulas foram tão provocativas e interessantes quanto a sua proposta. Não estu<strong>de</strong>i propaganda naquele semestre. Li Em Busca do Tempo Perdido, <strong>de</strong> Proust, criei um <strong>de</strong>ck <strong>de</strong> cartas satirizando os políticos da época, capas <strong>de</strong> LPs diretamente influenciadas por David Carson e sua revista Ray Gun. Escrevi até uma resenha sobre Guido Crepax e um artigo sobre a interativida<strong>de</strong> na arte em que tentava traçar um paralelo entre os artistas brasileiros Hélio Oiticica e Lygia Clark com o trabalho do norte-americano Richard Serra. Essa foi certamente uma aula sobre inspiração. Sobre buscar, nos mais diversos lugares e fontes, o material bruto necessário que fomentaria o meu dia a dia <strong>de</strong> lá para cá. Voltando aos sentimentos, talvez seja essa busca pelo <strong>de</strong>sconhecido, pelo inesperado, por aquela sensação <strong>de</strong> frio na barriga que realmente me faz ir atrás <strong>de</strong> forças inspiradoras. Recordo-me que após o término da faculda<strong>de</strong> fui cursar cinema no San Francisco Art Institute. Logo no primeiro mês embarquei na minha primeira e única experiência hippie, durante o Solstício <strong>de</strong> Verão <strong>de</strong> 2002. Uns amigos me levaram a uma festa nas Sierra Mountains, na Califórnia, on<strong>de</strong> homens e mulheres, acampados por três dias, passaram a maior parte do tempo convivendo nus, em meio a uma mesa comunitária em que todos ajudavam no preparo das refeições e festas que iam até o sol raiar. Depois do primeiro dia, inspirado pela sensação <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> presente no ar e, confesso, por certo grau <strong>de</strong> constrangimento <strong>de</strong> ser um dos únicos mais pudicos, acabei sucumbindo e terminei a jornada alegremente trajando a minha Zorba branca, com um sorriso estampado no rosto a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> alguns olhares <strong>de</strong>saprovadores dos meus colegas peladões. São esses sentimentos díspares que aparecem em situações e momentos inesperados, mas que <strong>de</strong> alguma forma se conectam e se transformam em algo maior, que realmente me inspiram. Sentimentos esses que se mostraram presentes quando vi O Homem Elefante, <strong>de</strong> David Lynch, e Muito Além do Jardim, <strong>de</strong> Peter Sellers, pela primeira vez. Ou toda vez que assisto Toy Story e a maioria dos filmes da Pixar. Essa força inspiradora que por vezes me <strong>de</strong>ixa embasbacado, sem reação e com frio na barriga, sem saber como me portar, é uma das dádivas pelas quais sou grato. Po<strong>de</strong>r ver, ao vivo, um quadro <strong>de</strong> um dos meus pintores favoritos, Egon Schiele, ou tirar um tubo na praia do Leblon, tendo o Morro Dois Irmãos como pano <strong>de</strong> fundo, contribuem igualmente para esse cal<strong>de</strong>irão <strong>de</strong> emoções. A própria <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> “inspirar” no dicionário, do verbo transitivo <strong>de</strong> atrair (o ar) aos pulmões para <strong>de</strong>pois expirar, a meu ver traduz a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma constante busca e aprimoramento. Como disse Sócrates, “Só sei que nada sei”, portanto, sigo a minha caminhada com nada melhor do que uma boa dose diária <strong>de</strong> incredulida<strong>de</strong> e curiosida<strong>de</strong> na busca por algo que, parafraseando os ingleses, “makes me tick”. Sentimentos díspares A arte conecta. E transforma. Mas a interpretação é individual. É como a frase <strong>de</strong> Sócrates: “Só sei que nada sei”. Contemplar o mar ou pegar uma onda (foto à esquerda acima) fomentam sentimentos multifacetados que embasbacam e surpreen<strong>de</strong>m. O cal<strong>de</strong>irão <strong>de</strong> emoções não programadas, porém, revela a necessida<strong>de</strong> da busca pelo aperfeiçoamento constante. jornal propmark - <strong>18</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2017</strong> 29