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Revista Curinga Edição 19

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Uma luta de todos<br />

“Lembro de Bento Rodrigues desde o primeiro dia que pisei<br />

lá, quando eu tinha seis anos”, recorda Manoel Marcos Muniz,<br />

53 anos, ou simplesmente Seu Marquinho, como é chamado.<br />

Seu Marquinho trabalhou na Samarco por quase 30 anos.<br />

Um ano e um dia após se desligar da empresa seus planos foram<br />

interrompidos. “A ideia era curtir a minha aposentadoria<br />

lá em Bento. Lá eu vendia laranja, banana, jabuticaba, ovos,<br />

frango. Tinha criação de gado, porcos, galinhas e codornas”,<br />

conta. O aposentado estava em Mariana no dia 05 de novembro<br />

de 2015, e ao saber do rompimento, foi para o local, não<br />

conseguindo resgatar seus pertences.<br />

Das lembranças que a lama não conseguiu apagar, Marquinhos<br />

encontrou forças na escrita para resistir. E faz isso<br />

participando do jornal A Sirene, criado pelo coletivo “Um Minuto<br />

de Sirene” em parceria com a Arquidiocese de Mariana<br />

e o Ministério Público de Minas Gerais. “No jornal podemos<br />

falar e através dele nós também contamos nossas histórias<br />

e sofrimentos”, desabafa.<br />

O “Um Minuto de Sirene” surgiu uma semana após o desastre<br />

da Samarco. A posteriori, em março de 2016, veio o jornal.<br />

Ambos são compostos por voluntários e atingidos. De acordo<br />

com uma das criadoras do coletivo, a professora Ana Elisa Novais,<br />

37, a ideia surgiu como metáfora da ausência de sinalização<br />

sonora em Bento Rodrigues no dia do rompimento da barragem.<br />

Todo dia 05 de cada mês, o coletivo toca uma sirene na<br />

cidade de Mariana, promovendo ações que remetem à memória<br />

e ao desejo de respostas. Constituído por voluntários, o grupo<br />

tem encontrado dificuldades de atuação. “A única certeza que<br />

temos é que não podemos sair da praça. A gente não pode parar<br />

de soar a sirene, porque agora os próprios atingidos contam<br />

com isso”, explica Ana Elisa.<br />

João Celestino mora no mesmo lugar em<br />

Paracatu desde que se casou, há mais de<br />

25 anos: “Tenho que agradecer à Deus<br />

porque minha casa ficou.”

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