Fotos: TainaraTorres Arte: Débora Mendes Editorial 1 ano. Nesse pedaço de vida se faz aniversário, passa-se de ano na escola, visita-se os avós, chupa-se jabuticaba ou manga. Dá tempo de ir à Igreja, plantar, ir no bar da esquina, contar alguns casos. Ainda dá tempo de vender coxinha, festejar na Folia de Reis, banhar na cachoeira e fazer um bordado. Até agora, se for bem agilizado, consegue-se correr pelas ruas, subir em árvores, pescar, pular no rio, comer uma pimentinha de leve e depois deitar para descansar em uma sombra. Não pode faltar a reunião na praça, o futebol do semana, o campeonato de truco, o café do vizinho e o lendário retrato de família. Aqui em Mariana, Minas Gerais, 1 ano foi o suficiente para acumular destroços, memórias e indignação. Foi o período necessário para o fortalecimento dos movimentos populares da região e para as pessoas entenderem o poder que o povo tem nas mãos. Além de perceberem demissões, construções de diques e aquisições de novos terrenos. Foram tempos de conhecer quem é a Samarco e como é a cidade sem mineração. 365 dias na Bacia do Rio Doce destacaram a morosidade da burocracia e da justiça encadeando multas e prisões. Foi indispensável pensar nos cuidados com o meio ambiente e sentir saudade na falta dele. Saudade instaurada desde o dia 05 de novembro de 2015, quando a barragem de Fundão se rompeu. Depois dos rejeitos vimos a poeira. Que incomoda, adoece, cega. O cisco no olho dói. Mesmo depois de tirado, permanece arranhando. As marcas ficam. As respostas não chegam. Famílias resistem. Brigam para entrar nas suas próprias terras que outros entram sem autorização. Choram pelas mortes tantas que persistem. Buscam sobreviver, de alguma forma, com os cortes dos cartões de crédito e sem previsão para indenizações. Sonham com um futuro previsto para... 20<strong>19</strong>. Aquele pensado, moldado e limitado por quem tudo destruiu? É o que parece. A espera cansa e angustia. Devagar, timidamente, mostra a vontade de buscar um pouco d’água para limpar o lamaceiro. E a torcida para renascer se faz presente. Após um ano, a <strong>19</strong>ª edição da <strong>Curinga</strong> traz os desfechos do desastre que atingiu os subdistritos de Bento Rodrigues, Paracatu e toda uma bacia hidrográfica. Especialistas, poder público, empresa, trabalhadores, vítimas. É preciso ocupar a memória da tragédia. Em razão dela, lembrar para não esquecer. Carol Vieira
eu no mundo