Catálogo "Tempo Presente"
Catálogo da exposição "Tempo Presente", com textos críticos e fotos das obras dos oito artistas integrantes: Tomie Ohtake, Gisela Motta e Leandro Lima, Laura Vinci, OPAVIVARÁ!, Nazareno, Raquel Kogan e Laura Belém. Curadoria de Amanda Dafoe e Rodrigo Villela.
Catálogo da exposição "Tempo Presente", com textos críticos e fotos das obras dos oito artistas integrantes: Tomie Ohtake, Gisela Motta e Leandro Lima, Laura Vinci, OPAVIVARÁ!, Nazareno, Raquel Kogan e Laura Belém. Curadoria de Amanda Dafoe e Rodrigo Villela.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
do horizonte é criada. O pretume como o buraco do<br />
Universo.<br />
O preto nos ‘puxa’ para dentro, o branco nos deixa de<br />
fora. A placa entra como uma janela sobre o preto para<br />
nos manter na superfície do nada.<br />
São metáforas da vida em processos literários e visuais. A<br />
partir da leitura as palavras são resgatadas e tornam-se<br />
enunciação de questões filosóficas, históricas, políticas e<br />
estéticas.<br />
Parafraseando e mudando a escrita de Enrique Vila-<br />
Matas sobre a escritora francesa Marguerite Duras, em<br />
que dá o seguinte título ao seu ensaio Escreve-se para<br />
observar como morre uma mosca, para justificar-se de<br />
que a escrita da autora (a artista), acontece o que ocorre<br />
com a primeira frase de A Metamorfose, de Franz Kafka.<br />
Quando lemos que um jovem escriturário desperta em<br />
sua cama convertido em um inseto monstruoso, temos<br />
apenas duas opções: fechar incrédulos o livro e não continuar,<br />
ou então crer nessa saborosa verdade de Kafka,<br />
continuar lendo” e mergulhar no imaginário profundo<br />
do artista.<br />
É também o que nos propõe Nazareno com sua obra. Um<br />
“conto visual” fantástico acerca do humano. Sua obra tem<br />
a beleza do mundo em miniatura, do tamanho de uma<br />
criança. Tem a magia de misturar ficção com realidade,<br />
lendas e mitologia. É parar e refletir diante do que se está<br />
lendo ou vendo, ou passar adiante, rapidamente, para<br />
não se deparar com o questionamento muitas vezes perturbador<br />
que nos faz. Vale o jargão de que a verdade dói.<br />
É perturbadora.<br />
osophical, historical, political and aesthetic<br />
questions.<br />
Paraphrasing and altering the writing of<br />
Enrique Vila-Matas about French writer<br />
Marguerite Duras, when he gives the following<br />
title to his essay: Escreve-se para observar<br />
como morre uma mosca [Write up to watch<br />
how a fly dies], to justify that in the author’s<br />
writing (the artist), the same thing happens as<br />
in the first sentence of The Metamorphosis, by<br />
Franz Kafka. When we read that a young traveling<br />
salesman wakes up in his bed transformed<br />
into a monstrous insect, we have only two options:<br />
to close the book in disbelief and not<br />
continue, or to believe in Kafka’s savory truth,<br />
continue reading and delve into the artist’s<br />
deep imaginary.<br />
This is also what Nazareno is proposing with<br />
his work: a fantastic “visual tale” about what is<br />
human. His work has the beauty of the miniature<br />
world, the size of a child. It has the magic<br />
of merging fiction with reality, legends and mythology.<br />
It means stopping and reflecting before<br />
what is being read or seen, or going on by<br />
quickly, so as not to find ourselves facing the often-disturbing<br />
questioning that he asks of us.<br />
It’s like the saying that truth hurts. It disturbs.<br />
The artist creates a visual world of his own in<br />
which the drawing, the word, and the text are<br />
visual forms of inquiry. Verbal visual murmurs in<br />
the form of metaphors that invoke the “why” of<br />
our passage here.<br />
Ricardo Resende<br />
O artista cria um mundo próprio visual em que o desenho,<br />
a palavra e o texto são formas visuais de indagação.<br />
Murmúrios plásticos verbais na forma de metáforas que<br />
invocam o porquê da nossa passagem por aqui.<br />
Ricardo Resende<br />
68 69