Catálogo "Tempo Presente"
Catálogo da exposição "Tempo Presente", com textos críticos e fotos das obras dos oito artistas integrantes: Tomie Ohtake, Gisela Motta e Leandro Lima, Laura Vinci, OPAVIVARÁ!, Nazareno, Raquel Kogan e Laura Belém. Curadoria de Amanda Dafoe e Rodrigo Villela.
Catálogo da exposição "Tempo Presente", com textos críticos e fotos das obras dos oito artistas integrantes: Tomie Ohtake, Gisela Motta e Leandro Lima, Laura Vinci, OPAVIVARÁ!, Nazareno, Raquel Kogan e Laura Belém. Curadoria de Amanda Dafoe e Rodrigo Villela.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
mármore cada um dos visitantes imprime a sua marca,<br />
pequenos textos, formando infinitas e espontâneas citações<br />
sobrepostas. Efêmeras, individuais e também coletivas,<br />
as palavras-textos são esculpidas a cada passo dado<br />
na instalação.<br />
Longe de ser utilizado em sua forma sólida – seja para<br />
uma escultura, uma construção arquitetônica ou uma jazida<br />
– o mármore é usado aqui, em sua forma mais maleável,<br />
recebendo diferentes formatos conforme a passagem<br />
do tempo da exposição. Para além da lâmina<br />
microscópica, da escrita sobre a parafina, ou até mesmo<br />
dos livros-caixas, a impressão gráfica das palavras, em<br />
vol.ver se dá em tempo presente a partir do diálogo com<br />
cada um dos visitantes.<br />
São 72 as palavras que formam a instalação: volver, a casa,<br />
a dor, a lágrima, a memória, amar, o caminho, ver, viver,<br />
testemunho, vida, morte, arquivo, dentre outras. A única<br />
palavra que se repete é: VIDA. Não me parece um acaso.<br />
Mais do que uma discussão sobre a própria condição da<br />
linguagem , pode-se dizer que este chão de pó de mármore<br />
é como se fosse uma grande página em branco<br />
que corporifica, de forma muito particular, o caminhar da<br />
‘vida’ e a travessia de cada um dos visitantes. A escritura,<br />
aqui, faz referência não somente ao texto, mas também<br />
pode ser vista como uma escrita-testemunho que integra<br />
esta grande escritura coletiva.<br />
A caminhada é vagarosa, pois para imprimir a letra, o<br />
andar tem que ser atento. Interessante perceber que<br />
Kogan, em diálogo com sua própria travessia pessoal,<br />
inicia vol.ver a partir de pesquisa realizada na Polônia,<br />
no resgate da história e da memória de seu percurso<br />
familiar.<br />
Mesclando a caminhada pessoal às caminhadas coletivas,<br />
Kogan escolhe 72 palavras para compor a instalação.<br />
A escolha, mais uma vez, não é casual, mas parece fazer<br />
referência aos 72 nomes dados para o Criador nas escrituras<br />
sagradas judaicas. Cada um deles expressa um atributo<br />
ou qualidade da natureza divina. Em vol.ver, esses<br />
atributos parecem se referir ao mesmo tempo, às vivências<br />
e experiências que cada de nós têm no percurso de<br />
nossas vidas.<br />
Como uma espécie de ritual, e à semelhança de seu primeiro<br />
trabalho na Capela do Morumbi, vol.ver é uma obra<br />
efêmera que se dá na passagem do tempo. O tempo, no<br />
mark, short texts forming infinite and spontaneous<br />
superimposed quotations. Ephemeral,<br />
individual and also collective, the words/<br />
texts are sculpted with each step taken in the<br />
installation.<br />
Far from use in its solid form—whether for a<br />
sculpture, an architectural construction or a<br />
sepulcher—the marble is used here in its most<br />
malleable form, receiving different formats<br />
in conformance with the passage of time in<br />
the exhibition. In addition to the microscopic<br />
slide, the writing on paraffin, or even the<br />
books-boxes, the graphic impression of words,<br />
in vol.ver happens in the present tense in dialogue<br />
with each visitor.<br />
Seventy-two words comprise the installation:<br />
return, home, pain, tears, memory, love, the<br />
path, seeing, living, testimony, life, death, archive,<br />
among others. The only word that repeats<br />
itself is LIFE. To me this does not seem<br />
random. More than a discussion of the very<br />
condition of language, one can say that this<br />
floor of marble dust is as if it were a very<br />
large blank page that embodies, in a very<br />
particular way, the path of “life” and each visitor’s<br />
journey. Here the writing refers not only<br />
to the text, but can also be seen as a testimonial<br />
writing that integrates this great collective<br />
writing.<br />
The walking must be slow because, in order to<br />
imprint the letter, each step has to be attentive.<br />
It is interesting to note that Kogan, in dialogue<br />
with her own personal trajectory, finds<br />
the beginnings of vol.ver in investigations carried<br />
out in Poland as she sought to recover the<br />
history and memory of her family’s path.<br />
Merging the personal walk with collective<br />
walks, Kogan chooses 72 words to compose<br />
the installation. The choice, once again, is no<br />
coincidence, but rather seems to refer to the<br />
72 names ascribed to the Creator in the sacred<br />
Jewish scriptures. Each of them expresses<br />
an attribute or quality of the divine nature.<br />
In vol.ver, these attributes seem, at the same<br />
time, to refer to the happenings and experiences<br />
that each one of us has in the course of<br />
our lifetime.<br />
As a kind of ritual, and similar to her first work<br />
in the Morumbi Chapel, vol.ver is an ephemeral<br />
work that takes place as time passes. Time,<br />
however, does not refers just to the time of the<br />
installation but, metaphorically, to the path we<br />
each are taking: the pure writing out of LIFE.<br />
Like other works by Kogan, vol.ver gives us a<br />
poetic and extremely forceful way of seeing<br />
these delicate moments in which the aesthetic<br />
quality merges with the small testimonies of<br />
personal and collective stories.<br />
Priscila Arantes<br />
entanto, não se refere somente ao tempo da instalação,<br />
mas, metaforicamente, à caminhada de cada um de nós:<br />
pura escrita de VIDA.<br />
À semelhança de outros trabalhos de Kogan, vol.ver nos<br />
dá a ver de forma poética e extremamente contundente<br />
estes momentos delicados em que a qualidade estética<br />
se funde aos pequenos testemunhos das histórias pessoais<br />
e coletivas.<br />
Priscila Arantes<br />
80 81