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Gestão Hospitalar N.º 12 2018

Entrevista a Xavier Corbella, Secretário Geral da International Fedaration Internal Medicine

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e a melhoria de outcome e do tempo de internamento 1,2 .<br />

A adoção destas condutas implica uma alteração de<br />

paradigmas, o desafiar de práticas clínicas profundamente<br />

enraizadas na abordagem tradicional do doente cirúrgico,<br />

mas que se encontram associadas a efeitos deletérios<br />

à recuperação pós-operatória. Foca-se na educação do<br />

doente, na otimização da capacidade funcional antes da<br />

cirurgia, na diminuição do tempo de jejum, na escolha de<br />

técnicas cirúrgicas com menor agressão possível, na restrição<br />

de fluidos, no controlo eficaz da dor com efeitos secundários<br />

mínimos e na reintrodução precoce da alimentação<br />

oral e da atividade física após a cirurgia.<br />

Um dos grandes desafios deste projeto consiste em<br />

criar uma equipa multidisciplinar, centrada no doente, capaz<br />

de mudar mentalidades e atitudes numa instituição<br />

de saúde. O verdadeiro trabalho em equipa, multiprofissional,<br />

em oposição à tradicional organização de serviços<br />

estanques, permite alterações eficazes e sustentadas à<br />

prática clínica e cria um ambiente geral de abertura à inovação.<br />

A uniformização das atitudes de toda a equipa que<br />

presta cuidados ao doente cirúrgico cria confiança e facilita<br />

o ensino e o envolvimento dos doentes e das suas<br />

famílias numa recuperação ativa e participada.<br />

Muitos estudos têm sido feitos no sentido de avaliar os<br />

resultados da implementação deste programa, focando-<br />

-se a maioria deles na evolução da taxa de complicações<br />

pós-operatórias e no tempo de duração do internamento.<br />

Observam-se reduções de quase 50% na morbilidade<br />

pós-operatória, especialmente no que se refere às complicações<br />

não cirúrgicas, e uma diminuição de cerca de<br />

2 dias na estadia hospitalar, isto sem alterar as taxas de<br />

readmissão 1,2,3,4 .<br />

No que respeita ao Hospital Beatriz Ângelo, nos primeiros<br />

6 meses de programa, verificou-se uma diminuição<br />

das complicações médicas e cirúrgicas graves de 20.9%<br />

para <strong>12</strong>.9%, da mortalidade de 7% para 0% e do número<br />

de re-intervenções de 19% para 14%. As três complicações<br />

mais frequentes na fase pré- ERAS ® foram a infeção<br />

da ferida operatória (16%), a deiscência da anastomose<br />

(15%) e a pneumonia (7%). Após a implementação do programa,<br />

as complicações mais frequentes passaram a ser<br />

náuseas e vómitos (20%) - cujo aumento poderá dever-se<br />

à sua avaliação e registo sistemático –, a infeção da ferida<br />

operatória (14%) - que se mantém estável – e a deiscência<br />

da anastomose (4%). Constata-se também que o tempo<br />

médio de internamento diminuiu de 14.7 para 6.5 dias<br />

(mediana de internamento passou de 7 para 5 dias), sem<br />

aumento da taxa de readmissões (que diminuiu de 0.6%<br />

para 0.3%). Estes resultados são provavelmente decorrentes<br />

do aumento da compliance geral com o programa<br />

que passou de 37% na fase Pré-ERAS ® para 89% com a<br />

sua implementação.<br />

Os fundamentos do conceito ERAS ® aliados aos bons<br />

resultados obtidos levaram a equipa de implementação<br />

do programa a planear a sua introdução em outras áreas<br />

cirúrgicas, eletivas e urgentes e a estudar a sua aplicação<br />

a outras áreas não cirúrgicas.<br />

Conclusões<br />

Os resultados alcançados reproduzem os dados da<br />

literatura internacional 5,6,7 , reforçando o conceito<br />

ERAS ® como uma ferramenta de melhoria de Cuidados de<br />

Saúde, tanto no âmbito da qualidade como da segurança.<br />

De realçar que o investimento efetuado na aquisição<br />

do Programa de Implementação (24.000€ + IVA à taxa<br />

em vigor), na formação das equipas e no tempo dedicado<br />

pelos profissionais demonstrou ter um retorno rápido<br />

e significativo, não só pela diminuição da demora média<br />

de internamento (21.600€, contabilizando apenas a redução<br />

em 2 dias de hotelaria por doente, em 6 meses),<br />

como pela melhoria dos resultados alcançados ao nível<br />

da qualidade do serviço prestado, traduzida pela redução<br />

das complicações major (com impacto financeiro também<br />

considerável).<br />

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