Gestão Hospitalar N.º 12 2018
Entrevista a Xavier Corbella, Secretário Geral da International Fedaration Internal Medicine
Entrevista a Xavier Corbella, Secretário Geral da International Fedaration Internal Medicine
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Discussão<br />
Os problemas apresentados são maioritariamente<br />
sobre o tempo de espera para cuidados. O relatório<br />
do 1.<strong>º</strong> semestre de 2016 da Entidade Reguladora da Saúde<br />
indica que o tema mais frequente é o dos procedimentos<br />
administrativos (19,8%), seguido dos tempos de espera<br />
(19,6%) e do acesso aos cuidados de saúde (15,9%) (Entidade<br />
Reguladora da Saúde, 2015). Estes dados, devido à<br />
sua classificação, apresentam dificuldades de comparação<br />
com os deste trabalho. Contudo, os tempos de espera são<br />
o segundo tema mais relevante, o primeiro neste trabalho.<br />
O tema das instalações (4,2%) é semelhante ao revelado<br />
por este estudo (3,7%). Os restantes temas não são passiveis<br />
de comparação.<br />
Um trabalho de revisão (Reader, Gillesppie, 2014) revela<br />
que o tempo de espera para aceder aos cuidados foi alvo<br />
de 35,1% das reclamações. Esta percentagem aproxima-<br />
-se do resultado encontrado neste trabalho (tempo de espera<br />
para cuidados-46,1%).<br />
À semelhança do revelado por outros estudos, os médicos<br />
e os dirigentes são os mais visados nas reclamações<br />
(Cabete, Lencastre, 20<strong>12</strong>; Direção-Geral de Saúde, 20<strong>12</strong>;<br />
Reader, Gillesppie, 2014).<br />
A literatura não mostra qualquer tipo de análise sobre<br />
a relação entre a produção assistencial e o número de reclamações,<br />
assim como sobre o tempo de resposta às exposições.<br />
A análise revelou que o tempo mediano de resposta às<br />
exposições (2015: 29 dias; 2016: 49 dias) excedeu o tempo<br />
prescrito (5 dias úteis). O tempo necessário para analisar<br />
os problemas e realizar as audições numa organização<br />
complexa como é um hospital, não se compadece com as<br />
prescrições legislativas que abrangem toda a estrutura<br />
dos serviços públicos como se fossem todos, estruturalmente,<br />
iguais.<br />
O relatório do sistema Sim-Cidadão (Direção-Geral de<br />
Saúde, 20<strong>12</strong>) mostra que o tempo de espera nos Serviços<br />
de Urgência do SNS é a primeira causa (<strong>12</strong>,73%) das reclamações,<br />
seguida do tempo de espera para atendimento<br />
(7,76%) e da falta de cortesia (5,9%). Os resultados<br />
apresentados neste relatório são semelhantes aos encontrados<br />
por este trabalho. O gráfico de Pareto mostra que<br />
80,0% das dez causas mais frequentes das reclamações<br />
são o tempo de espera no Serviço de Urgência, as taxas<br />
moderadoras, a falta de cortesia e o tempo de espera para<br />
tratamento médico.<br />
Conclusão<br />
falta de cortesia atribuída aos profissionais é a<br />
A causa que pode ser resolvida com a melhoria dos<br />
processos de atendimento, reforçando-se os mecanismos<br />
de apoio ao controlo da tensão relacional entre os atores.<br />
Ocupa lugar de relevo (o 3.<strong>º</strong>) na análise das causas e deverá,<br />
pela sua natureza e dimensão, despertar ação pedagógica<br />
intrainstitucional na linha da humanização do agir<br />
que há de marcar o quotidiano hospitalar.<br />
A importância das reclamações enquanto mecanismo<br />
de participação dos utentes é ainda uma prática residual<br />
porque não se evidenciam mudanças significativas nos<br />
processos de produção hospitalar que devolvam ao utente,<br />
de forma evidente, a reparação da sua insatisfação,<br />
mesmo quando reconhecida. Mas cada uma das reclamações<br />
deverá merecer uma oportunidade, inadiável, de repensar<br />
procedimentos e diretrizes institucionais.<br />
Bibliografia<br />
Farias SA, Santos RC. “Modelagem de equações estruturais e satisfação do consumidor: uma investigação teórica e prática”. Revista de Administração<br />
Contemporânea. 2000;4(3).<br />
Direção-Geral de Saúde. Relatório Sistema Sim-Cidadão 2011. Lisboa: Ministério da Saúde; 20<strong>12</strong>.<br />
Cabete J, Lencastre A, Apetato M, Paiva Lopes MJ. “[Why are our patients claiming? Statistics from a dermatology clinic]”. Acta medica portuguesa.<br />
20<strong>12</strong>;25(5):265-70.<br />
Entidade Reguladora da Saúde. Sistema de <strong>Gestão</strong> de Reclamações - Síntese descritia do 1.<strong>º</strong> semestre de 2016. Lisboa: Entidade Reguladora da Saúde<br />
− Ministéro da Saúde; 2015.<br />
Despacho n.<strong>º</strong> 26/86, Diário da República, 2.ª série, 24 de Julho (1986).<br />
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2006;42(<strong>12</strong>):707-<strong>12</strong>.<br />
Anderson K, Allan D, Finucane P. “Complaints concerning the hospital care of elderly patients: a <strong>12</strong>-month study of one hospital’s experience”. Age<br />
and ageing. 2000;29(5):409-<strong>12</strong>.<br />
Reader T, Gillesppie A, Roberts J. “Patient complaints in healthcare systems: a systematic review and coding taxonomy”. BMJ quality & safety.<br />
2014(0):1-<strong>12</strong>.<br />
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