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última página<br />
Mihajlo Maricic/iStock<br />
O po<strong>de</strong>r das<br />
boas histórias<br />
CLAUDIA PENTEADO<br />
semana que passou foi especial. Fui<br />
A agraciada com o prêmio Comunique-<br />
-se <strong>de</strong> jornalismo na categoria Propaganda<br />
e Marketing, esse fervilhante tema que<br />
<strong>de</strong>safia minha cachola e pulsa na pequena<br />
tela do meu laptop dia após dia, há mais<br />
<strong>de</strong> 20 anos. Devo dizer que foi sensacional<br />
constatar, na festa <strong>de</strong> entrega em São Paulo,<br />
que - apesar <strong>de</strong> alguns acontecimentos<br />
recentes bastante tristes envolvendo<br />
fechamentos e <strong>de</strong>missões - a autoestima<br />
do jornalismo está em dia. A vibração das<br />
pessoas que subiram ao palco junto comigo<br />
na noite <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> <strong>setembro</strong>, uma terça-feira<br />
qualquer <strong>de</strong> muito trabalho para todos nós,<br />
foi revigorante. Gente experiente recebendo<br />
homenagens com gente muito jovem,<br />
pela primeira vez mais mulheres do que<br />
homens (e isso só é relevante, claro, porque<br />
historicamente sempre foram premiados<br />
mais homens do que mulheres),<br />
um tratamento <strong>de</strong> Oscar dado a<br />
uma categoria acostumada a levar<br />
mais porrada do que aplausos.<br />
Na festa que uniu gran<strong>de</strong>s<br />
marcas (como Samsung, E<strong>de</strong>nred,<br />
Itaú e Vivo) e gran<strong>de</strong>s jornalistas,<br />
<strong>de</strong>u uma quentura no peito<br />
ver o po<strong>de</strong>r que tudo isso tem<br />
e, afinal <strong>de</strong> contas, é o que inspira<br />
diariamente o meu trabalho:<br />
a potência da conexão bem feita<br />
entre marcas e pessoas.<br />
O que move não só o jornalismo, mas a comunicação<br />
em sua perspectiva mais ampla,<br />
é o po<strong>de</strong>r da narrativa, das boas histórias, e<br />
eu aproveitei o que meu (parco) fôlego emocionado<br />
permitiu dizer, ao receber este que<br />
foi o terceiro troféu Comunique-se da minha<br />
carreira, que eu acredito em jornalismo com<br />
alma. Aquele que eu procuro fazer, no meu<br />
dia a dia, pensando em quem me lê, estabelecendo<br />
com ele (a) uma conversa olho no olho,<br />
sempre que possível, e oferecendo sempre<br />
a melhor história que me for possível contar.<br />
Porque nem sempre as circunstâncias ajudam:<br />
prazos, correria, fontes que não <strong>de</strong>ram retorno.<br />
Mas o que vale é a busca <strong>de</strong> uma conexão<br />
que vá além do óbvio, que respeita quem se dá<br />
ao trabalho <strong>de</strong> ler o que eu escrevo. Inspirei-<br />
-me bastante na entrevista que está bem aqui<br />
nesta edição do PROPMARK, com a editora da<br />
O que mOve<br />
nãO só O<br />
jOrnalismO,<br />
mas tOda a<br />
cOmunicaçãO,<br />
é O pO<strong>de</strong>r da<br />
narrativa<br />
revista Vida Simples, Ana Holanda. Acompanho<br />
seu trabalho faz algum tempo, intrigada<br />
com a longevida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa pequena gran<strong>de</strong> revista<br />
que é a Vida Simples, e acabei enfurnada<br />
em um <strong>de</strong> seus cursos sobre escrita afetuosa.<br />
Impressionou-me o po<strong>de</strong>r da mensagem da<br />
Ana, e o fã-clube que a acompanha por todo o<br />
Brasil. Na entrevista para esta edição, ela fala<br />
daquilo que po<strong>de</strong> salvar o jornalismo da vala<br />
comum: a verda<strong>de</strong>ira conexão com as pessoas.<br />
A conexão, por exemplo, que vem <strong>de</strong> histórias<br />
fascinantes como a do morador <strong>de</strong> rua Fofão,<br />
da Augusta, contada por Chico Felitti, <strong>de</strong><br />
BuzzFeed BR, que recebeu no Comunique-se<br />
o prêmio <strong>de</strong> melhor Repórter <strong>de</strong> Mídia Escrita.<br />
A internet po<strong>de</strong> ser, sim, espaço para reportagens<br />
aprofundadas e cheias <strong>de</strong> alma. É só uma<br />
tela luminosa, que convive com a porosida<strong>de</strong><br />
familiar da folha <strong>de</strong> papel, que nossos <strong>de</strong>dos<br />
tocam há mais <strong>de</strong> 2000 anos.<br />
Qualquer plataforma tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> espalhar<br />
as boas histórias que contamos.<br />
A TV é o meio do Caco<br />
Barcellos, da Globo, premiado<br />
como Repórter <strong>de</strong> Mídia Falada.<br />
O rádio, um dos principais meios<br />
<strong>de</strong> Ricardo Boechat, o jornalista<br />
mais premiado da noite <strong>de</strong> terça,<br />
mencionado com entusiasmo pelo<br />
taxista que me levou ao aeroporto<br />
<strong>de</strong> Congonhas: “Ah, a senhora<br />
ganhou aquele prêmio que o Boechat<br />
também ganhou, né?” Boechat<br />
exerce sua profissão com alma, e fala ao<br />
pé do ouvido e ao coração das pessoas. Eliane<br />
Brum, do El País, premiada como melhor colunista<br />
<strong>de</strong> Opinião, disse certa vez: “Sou terra<br />
habitada, me sinto habitada por todas as pessoas<br />
que eu escutei, todas as pessoas que me<br />
honraram, abrindo a porta das suas casas e<br />
das suas vidas para me contar suas histórias”.<br />
Ouvi muitos jornalistas no palco, prêmios em<br />
punho, brilho nos olhos, confessando, quase<br />
se <strong>de</strong>sculpando, serem “bichos da escrita”,<br />
exatamente como eu sou. Porque o mundo é<br />
da imagem, do ví<strong>de</strong>o, afinal <strong>de</strong> contas. Também.<br />
Narrativas bem construídas e autênticas<br />
sempre encontrarão olhos e ouvidos dispostos<br />
a lê-las, escutá-las, assisti-las. Contá-las é<br />
uma escolha <strong>de</strong> quem tomou para si a missão<br />
<strong>de</strong> ajudar a tornar este mundo um lugar melhor<br />
para se viver. Vale para jornalistas, escribas<br />
em geral, vale para marcas. E há melhor<br />
escolha, afinal <strong>de</strong> contas, do que essa, por aí?<br />
58 <strong>17</strong> <strong>de</strong> <strong>setembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark