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marketing & negócios<br />
Gearstd/iStock<br />
A maturida<strong>de</strong> do<br />
digital se aproxima<br />
Duas consequências são esperadas:<br />
menor ritmo <strong>de</strong> crescimento e aumento<br />
<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e da <strong>de</strong>ontologia<br />
Rafael Sampaio<br />
Primeiro, os números: o último forecast<br />
do Grupo M (holding <strong>de</strong> mídia da WPP)<br />
indica que as tendências dos últimos anos<br />
estão se transformado. Depois <strong>de</strong> retirar<br />
parte importante da receita dos jornais e<br />
revistas e tentar avançar, sem sucesso sobre<br />
a TV, o ritmo <strong>de</strong> expansão da mídia digital<br />
entra em “business as usual”, ou seja,<br />
expansão <strong>de</strong> um dígito - o que é bom, como<br />
se sabe, mas não espetacular. A chamada<br />
mídia impressa vem reagindo, inclusive<br />
migrando para o digital e disputando receita<br />
com as chamadas “novas mídias, mas a<br />
vida <strong>de</strong>les continua sujeita a chuvas e trovoadas<br />
intensas. Mas eles estão apren<strong>de</strong>ndo<br />
e, como se verá mais adiante, serão protagonistas<br />
da era adulta da internet.<br />
No Reino Unido, que é o mercado publicitário<br />
mensurado com maior precisão<br />
entre todos, o digital “pure player” sai <strong>de</strong><br />
uma performance <strong>de</strong> 15,1% e 11,1% <strong>de</strong> crescimento<br />
em 20<strong>17</strong> e <strong>2018</strong>, respectivamente,<br />
para a previsão <strong>de</strong> 8,6% em 2019. A TV, que<br />
chegou a per<strong>de</strong>r alguma coisa em 20<strong>17</strong> naquele<br />
mercado, recuperou parte em <strong>2018</strong> e<br />
crescerá em 2019. O rádio e o OOH, pouco<br />
afetados pelo tsunami digital, até porque<br />
conseguiram migrar mais facilmente para<br />
lá, permanecem ganhando espaço ano a<br />
ano. O cinema, que é bem pequeno diante<br />
dos <strong>de</strong>mais, segue sua toada, crescendo<br />
lentamente.<br />
É evi<strong>de</strong>nte que o mundo digital continua<br />
alar<strong>de</strong>ando crescimento bombástico,<br />
especialmente no mobile, que, apesar <strong>de</strong><br />
ganhar importante espaço no dia a dia das<br />
pessoas e no e-commerce, em termos publicitários<br />
continua sendo mais uma promessa<br />
que uma realida<strong>de</strong> efetiva. Mas a<br />
verda<strong>de</strong> é que o digital enfrenta uma ressaca<br />
pelo seu crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado e<br />
vive o contrafluxo das avaliações e análises<br />
menos entusiasmadas e mais robustas, que<br />
<strong>de</strong>monstram que suas entregas e retornos<br />
não são como o prometido e esperado.<br />
Além do que já caiu a ficha que o digital<br />
funciona bem mesmo em combinação e<br />
sincronia com outros meios, em especial a<br />
TV.<br />
A verda<strong>de</strong>ira recente avalanche <strong>de</strong> problemas<br />
que se suce<strong>de</strong>m com o digital por<br />
todo o mundo combina a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong><br />
esquemas fraudulentos, números imprecisos<br />
e inflados, um certo enfado do público<br />
com esquemas rasos e repetitivos e, não<br />
menos importante, a imposição <strong>de</strong> novas<br />
leis e a conscientização <strong>de</strong> alguns players<br />
do setor que a fase das loucuras da adolescência<br />
e juventu<strong>de</strong> está passando com a<br />
chegada do natural aumento da responsabilida<strong>de</strong><br />
da maturida<strong>de</strong>.<br />
Contribui para isso a migração das mídias<br />
ditas tradicionais para o digital, pois<br />
elas tiveram <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, ao longo <strong>de</strong> décadas<br />
e reveses vindos do controle público<br />
e da própria competição pela audiência e<br />
verbas publicitárias, que a responsabilida<strong>de</strong>,<br />
os princípios e as práticas <strong>de</strong>ontológicas<br />
em relação ao público e aos anunciantes é<br />
condição sine qua non para sua expansão e<br />
sobrevivência sustentável.<br />
Passada a excitação natural pelo feérico<br />
da novida<strong>de</strong>, tanto público como anunciantes<br />
querem ter a precisão, a diversida<strong>de</strong><br />
e a honestida<strong>de</strong> do jornalismo; capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> encantamento e envolvimento do<br />
entretenimento; atrativida<strong>de</strong> e correção<br />
na cobertura esportiva, prestação <strong>de</strong> serviços<br />
abrangente e verda<strong>de</strong>iramente útil; e,<br />
não menos importante, transparência das<br />
relações entre a tría<strong>de</strong> veículo-audiência-<br />
-anunciante.<br />
O que implica em fatos básicos como<br />
não disfarçar publicida<strong>de</strong> como editorial;<br />
não comercializar <strong>de</strong> modo dissimulado<br />
os dados da audiência; e manter postura<br />
ético-comercial condizente em relação aos<br />
clientes-anunciantes e aos próprios concorrentes.<br />
Ou seja, nada que um jornal, revista<br />
ou re<strong>de</strong>/emissora <strong>de</strong> rádio e TV <strong>de</strong> boa<br />
reputação não saiba ou <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> fazer, mas<br />
que parte do universo digital achou que<br />
não aplicava a ele.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafael.sampaio@uol.com.br<br />
38 <strong>17</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark