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“Quando determinamos metas mensais, os vendedores conseguem<br />

enxergar a linha de chegada somente no dia 28 ou 29.”<br />

nem no segundo, nem no terceiro… Pronto! Ele<br />

aprendeu a não correr mais atrás e desiste de se<br />

empenhar nos meses seguintes, dedicando-se menos.<br />

Nesse ponto, sei que muitos leitores vão levantar<br />

suas mãos e exclamar: “Tem uma empresa famosa<br />

de bebidas que usa metas diárias e, para eles, dá<br />

certo!” É compreensível que muitas empresas acreditem<br />

na efetividade do benchmarking, porém, do<br />

ponto de vista da ciência, essa prática tem sérios<br />

problemas. Para defender uma posição, a ciência<br />

nunca pode se dar ao luxo de estudar apenas um<br />

caso, ou de estudar apenas o caso mais conveniente.<br />

Para defender a efetividade de uma estratégia, a ciência<br />

precisa analisar uma amostra confiável de<br />

eventos para entender como o fenômeno realmente<br />

funciona. Se a ciência fosse usar apenas uma ocorrência<br />

para estabelecer uma verdade, estudaria o<br />

caso de uma pessoa que fumou até os 92 anos e<br />

morreu de uma doença não relacionada ao cigarro,<br />

chegando à seguinte conclusão: fumar faz bem à<br />

saúde! Mas, como bem sabemos, morrer com 92 anos<br />

não é a realidade da maioria dos fumantes – esse é<br />

apenas um caso, o caso mais conveniente, a exceção,<br />

não a regra.<br />

Dentro de uma realidade de metas semanais, é<br />

interessante também que as metas sejam da equipe,<br />

nunca individuais. Essa é uma estratégia que gera<br />

melhores resultados para as empresas e tem grande<br />

suporte de estudos científicos.<br />

Dessa forma, quando a equipe atinge o ponto X,<br />

todo o time irá acelerar – o que jamais seria possível<br />

com objetivos individuais. Porém, para a estratégia<br />

funcionar, é importante que durante a semana os<br />

vendedores sejam informados de que estão no ponto<br />

X, ou seja, de que alcançaram 70% da meta. Isso<br />

é o que os fará acelerar e atingira meta com mais<br />

facilidade.<br />

“Mas por que avisar o quanto eles atingiram da<br />

meta e não o quanto falta para a meta ser batida?”,<br />

você pode se perguntar. A verdade é que, apesar de<br />

essa prática ser muito comum dentro das empresas,<br />

ela é extremamente prejudicial para a performance<br />

das equipes comerciais. Num experimento científico<br />

genial publicado no Journal of Marketing Research<br />

em 2006, os pesquisadores Ran Kivetz, Oleg Urminsky<br />

e Yuhuang Zheng distribuíram cartões de fidelidade<br />

aos clientes de uma cafeteria na Universidade de<br />

Columbia. Para um grupo de pessoas, o cartão continha<br />

dez casas que, ao serem carimbadas de acordo<br />

com suas próximas compras, davam o direito de<br />

ganhar um café gratuito. Para outro grupo de pessoas,<br />

o cartão apresentava 12 casas, com a diferença<br />

de que as duas primeiras já vinham carimbadas. No<br />

final das contas, os dois grupos precisavam comprar<br />

dez cafés para ganhar um gratuitamente. O que<br />

aconteceu? O grupo que recebeu o cartão com duas<br />

casas carimbadas acelerou em média 20% a mais do<br />

que o outro grupo, completando o cartão cinco dias<br />

mais cedo. Coincidência? Não, ciência! Perceba que<br />

o que causa a aceleração na Teoria da Meta Gradativa<br />

é o quanto as pessoas já andaram, não o quanto<br />

falta para elas andarem.<br />

E agora, qual é a sua conclusão sobre o fato de<br />

os vendedores baterem suas metas apenas no final<br />

do mês? Culpa dos vendedores ou das empresas?<br />

Quando as coisas dão errado nas empresas, é<br />

sempre fácil culpar as pessoas, porém, muitos dos<br />

erros são estratégicos, pois parte da performance<br />

dos empregados é um reflexo das estratégias das<br />

empresas. Metas mal-formuladas irão causar resultados<br />

fracos, por mais que os seus vendedores tenham<br />

grandes habilidades em negociação, conhecimento<br />

do produto ou do mercado.<br />

Foi ao conhecer comprovações científicas como<br />

a de Clark Hull – que tem mais de 90 anos e é desconhecida<br />

pelas empresas –, assim como as descobertas<br />

de que comissões geram menos vendas, de<br />

que benchmarking não é muito efetivo, de que quando<br />

as pessoas estipulam suas próprias metas elas as<br />

alcançam com mais facilidade, além de descobrir<br />

que um estudo científico é lido, em média, por apenas<br />

dez pessoas, que eu deixei de lado minha carreira<br />

de mais de 15 anos como executivo para me<br />

tornar consultor, instrutor de treinamentos e professor<br />

universitário. Eu espero que, com este artigo,<br />

eu tenha feito parte da minha missão de despertar<br />

em você o sentimento de que o mundo corporativo<br />

precisa desesperadamente da ciência para tomar<br />

decisões melhores.<br />

Luiz Gaziri<br />

Professor da FAE Business School, autor<br />

do livro A incrível ciência das vendas e um dos<br />

Gigantes das vendas da <strong>VendaMais</strong>.<br />

Visite: luizgaziri.com<br />

54<br />

vendamais.com.br - JULHO-AGOSTO 2017

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