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eyond the line<br />
Andrew Itaga/Unspash<br />
Pela inclusão<br />
étnico-racial<br />
Movimento representa mais um avanço<br />
na direção <strong>de</strong> um ambiente mais inclusivo<br />
Alexis Thuller PAgliArini<br />
No último dia 23, em São Paulo, na Cinemateca<br />
Brasileira, durante o Festival do<br />
Clube <strong>de</strong> Criação, foi realizada a cerimônia<br />
<strong>de</strong> assinatura do Pacto <strong>de</strong> Inclusão Social <strong>de</strong><br />
Jovens Negras e Negros no Mercado <strong>de</strong> Trabalho.<br />
O foco era o mercado <strong>de</strong> trabalho das<br />
agências <strong>de</strong> propaganda porque, como disse<br />
Valdirene Silva <strong>de</strong> Assis, procuradora do<br />
trabalho e coor<strong>de</strong>nadora regional/SP <strong>de</strong> Promoção<br />
<strong>de</strong> Igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oportunida<strong>de</strong>s e Eliminação<br />
<strong>de</strong> Discriminação no Trabalho (Coordigualda<strong>de</strong>),<br />
engajar as agências <strong>de</strong> propaganda<br />
é um dos caminhos mais eficazes <strong>de</strong><br />
disseminação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias.<br />
Mas o motivo menos nobre <strong>de</strong> envolver as<br />
agências é também o fato <strong>de</strong> haver poucos<br />
profissionais negros nas agências <strong>de</strong> propaganda.<br />
Estive na cerimônia para, ao lado dos<br />
colegas Humberto Men<strong>de</strong>s e Vilma <strong>de</strong> Oliveira,<br />
representar a Fenapro, que é signatária do<br />
pacto. Nosso <strong>de</strong>cano Humberto Men<strong>de</strong>s nos<br />
representou na assinatura do documento.<br />
Esse movimento representa mais um<br />
avanço na direção <strong>de</strong> um ambiente mais<br />
inclusivo e menos preconceituoso, também<br />
no ecossistema da propaganda. Não à toa,<br />
o Cannes Lions <strong>de</strong>ste ano foi tão pródigo na<br />
premiação <strong>de</strong> cases voltados à inclusão e<br />
às iniciativas <strong>de</strong> combate ao racismo. Nada<br />
menos <strong>de</strong> três Grand Prix adotaram explicitamente<br />
a temática <strong>de</strong> combate ao racismo,<br />
um <strong>de</strong>les brasileiro: da AKQA para Baco Exu<br />
do Blues – lançamento do álbum Bluesman<br />
– ganhador na categoria Entertainment for<br />
Music.<br />
Nesta mesma categoria, houve outro ganhador<br />
<strong>de</strong> Grand Prix, coinci<strong>de</strong>ntemente<br />
adotando temática idêntica. Foi a campanha<br />
<strong>de</strong> This is America, do cantor Childish Gambino,<br />
<strong>de</strong>senvolvida pela Doomsday Entertainment,<br />
<strong>de</strong> Los Angeles, EUA. Ambas fizeram<br />
do lançamento <strong>de</strong> álbuns verda<strong>de</strong>iros<br />
manifestos contra o racismo.<br />
O terceiro case ganhador <strong>de</strong> Grand Prix<br />
com abordagem contra o preconceito racial<br />
foi o da FCB, em parceria com a Six, <strong>de</strong> Toronto,<br />
Canadá.<br />
Trata-se do impactante Go Back to Africa,<br />
<strong>de</strong>senvolvido para a Black & Abroad, visando<br />
ao estímulo do turismo <strong>de</strong> negros para seus<br />
países <strong>de</strong> origem (ou <strong>de</strong> origem dos seus ancestrais).<br />
Eles conseguiram transformar a<br />
expressão odiosa “Volte pra África!”, usada<br />
por racistas e supremacistas radicais americanos,<br />
em algo positivo.<br />
A mensagem central foi Go Back to Africa,<br />
mas adotada <strong>de</strong> forma positiva, convidando<br />
negros a voltarem para a África, mas para<br />
curtir as belezas dos 54 países do continente<br />
africano. Esses três cases foram expressões<br />
importantes <strong>de</strong> um movimento <strong>de</strong> inclusão,<br />
já presente há anos no Cannes Lions, mas<br />
não foram as únicas.<br />
A discussão extrapolou a premiação e permeou<br />
o conteúdo do evento também. Os publicitários<br />
são estimulados a incluir nas suas<br />
campanhas representantes <strong>de</strong> etnias fora do<br />
estereótipo do tipo caucasiano. Mas o movimento<br />
não para por aí: a inclusão <strong>de</strong>ve se dar<br />
também para <strong>de</strong>ntro das agências e anunciantes.<br />
É preciso pensar na diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma<br />
holística, incluindo negros à equipe que vai<br />
<strong>de</strong>senvolver i<strong>de</strong>ias e campanhas publicitárias.<br />
Ou seja, <strong>de</strong>vemos vê-los representados<br />
não só nas imagens das peças publicitárias,<br />
mas, também, entre aqueles que criam e planejam<br />
essas campanhas. Esse é o pacto que<br />
foi assinado por importantes agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />
e por instituições como Fenapro,<br />
Abap e Sinapros.<br />
É, sim, uma inciativa <strong>de</strong> resgate à igualda<strong>de</strong><br />
racial, mas também <strong>de</strong> justiça ao tamanho<br />
do mercado.<br />
Os negros são maioria no Brasil, representando<br />
56% da população. Por que, então, não<br />
estão representados em mesma proporção no<br />
mercado <strong>de</strong> trabalho e nas imagens das campanhas<br />
publicitárias brasileiras?<br />
Alguns <strong>de</strong>vem pensar em praticá-la (a<br />
inclusão social) como um ato <strong>de</strong> justiça social,<br />
outros, mais pragmáticos, <strong>de</strong>vem fazê-<br />
-lo pensando na conquista <strong>de</strong> um mercado<br />
maior para seus produtos.<br />
Afinal, os negros são maioria neste país!<br />
Não importa o motivo. É hora <strong>de</strong> nos mobilizarmos<br />
por um mundo mais inclusivo, mais<br />
justo e mais diverso!<br />
Alexis Thuller Pagliarini é superinten<strong>de</strong>nte<br />
da Fenapro (Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Agências<br />
<strong>de</strong> Propaganda)<br />
alexis@fenapro.org.br<br />
jornal propmark - <strong>30</strong> <strong>de</strong> <strong>setembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> 29