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Edição: novembro | dezembro de 2019

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Imagens: MONA/Jesse Hunniford<br />

¿QUÉ PASA?<br />

PESO DA ESCURIDÃO<br />

Antes de começar a escrever este texto, perguntei à<br />

minha irmã como ela via a diferença entre estar de olhos<br />

fechados ou de olhos abertos em plena escuridão. Ela me<br />

respondeu: “Acho que, quando estamos de olhos abertos<br />

em um escuro profundo, nossos olhos ficam em um estado<br />

de busca constante pela luz”. Acho que era exatamente<br />

isso que James Turrell estava pensando quando desenhou<br />

a sua obra Weight of Darkness, que está no Museum of Old<br />

and New Art, Mona, na Tasmânia, Austrália.<br />

Quando visitei o museu tive a escolha de fazer uma<br />

dobradinha de duas obras do artista. É assim que Turrell<br />

sugere a experiência Unseen Seen (“Não visto visto”) e<br />

Weight of Darkness (“Peso da escuridão”). Primeiro, você<br />

entra sozinho em uma cápsula circular, desenhada pelo<br />

artista, na qual é submetido a um show de luzes; todas<br />

as cores, formas e ritmos formam uma intensa experiência<br />

que dura em torno de 15 minutos. Quando o show acaba,<br />

você é cuidadosamente conduzido à segunda obra, em<br />

que, mais uma vez sozinho, caminha por um corredor<br />

estreito que o leva até uma sala completamente escura.<br />

Então, tem de usar o tato e deslizar as mãos pelas paredes<br />

para chegar até lá e finalmente encontrar uma poltrona em<br />

que se senta e não faz mais nada além de ficar no escuro.<br />

Acho que eu nunca tinha experienciado tal escuridão.<br />

Primeiro, veio uma sensação quase claustrofóbica, como<br />

se existisse uma barreira negra em volta do meu corpo que<br />

aos poucos poderia tirar todo o meu ar. Em um segundo<br />

momento, essa barreira se dissolveu, e sim, a busca pela<br />

luz acontece, e dentro dessa infinita escuridão surge uma<br />

sensação de liberdade. A obra sugere a busca por sua “luz<br />

interior”, na qual, no peso da escuridão, somos capazes<br />

de encontrar a mais pura liberdade.<br />

Não sei se foi exatamente essa a reflexão que James<br />

Turrell quis provocar ao desenhar essa obra, mas, para<br />

uma designer de iluminação como eu, que sempre<br />

acreditou que não desenhamos com luz, mas sim com<br />

as sombras, foi inevitável ter me impactado mais pela<br />

segunda parte da experiência. A luz sugere constante<br />

movimento, marcando a duração dos dias, dos anos e<br />

do nosso tempo interno. Assim, devemos esperar que a<br />

manipulação da luz artificial faça o mesmo por nós. (por<br />

Auma Estúdio)<br />

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