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L+D 75

Edição: novembro | dezembro de 2019

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COM A PALAVRA,<br />

MARK MAJOR<br />

Texto: Mark Major, a partir de entrevista concedida a Mariana Novaes<br />

Versão para o português: Mariana Novaes com revisão de Diogo de Oliveira | Foto: Speirs+Major<br />

Era maio de 2018 e estava com viagem marcada para<br />

Londres, para participar da cerimônia de entrega do<br />

prêmio internacional 40under40 durante o Lighting<br />

Design Awards. Mark Major, titular do escritório Speirs +<br />

Major, havia recém-aceitado o convite para ser um dos<br />

principais palestrantes do 10º LEDforum. A pedido da <strong>L+D</strong>,<br />

Major concordou em me receber para falar sobre seu processo<br />

de escolha e desenvolvimento dos temas de suas palestras.<br />

Em uma típica manhã londrina, cinzenta e chuvosa, fui<br />

gentilmente recebida em um café próximo ao seu escritório,<br />

mesmo com o meu atraso, culpa do labiríntico metrô de Londres.<br />

O que eu imaginava ser uma entrevista, rapidamente se<br />

transformou em um agradável bate-papo de uma hora, em<br />

que pude conhecer algumas reflexões, questionamentos, e<br />

motivações do apaixonado e comprometido profissional Major<br />

– não à toa, um dos lighting designers mais reconhecidos<br />

do mundo. A revista então sugeriu que este material fosse<br />

editado em forma de ensaio pelas mãos do Mark Major,<br />

tarefa que foi graciosamente aceita por ele e sua igualmente<br />

dedicada equipe. (Mariana Novaes)<br />

O VALOR DA LUZ E DA ESCURIDÃO<br />

Embora eu ache importante falar sobre coisas que conhecemos,<br />

também é sempre interessante adotar uma perspectiva diferente.<br />

Minha paixão particular não é apenas pela luz, mas também pela<br />

importância da escuridão e sua relação com a forma construída.<br />

Descobri que esse tema pode ser considerado de vários ângulos:<br />

o da perspectiva humana, em termos do impacto social e na<br />

saúde, e do ponto de vista ambiental e ecológico. Embora eu tenha<br />

me formado arquiteto, minha paixão pela luz e pela escuridão<br />

se cristalizou para além da prática de projetos de edifícios<br />

individuais, no campo do design urbano. Sinto fortemente que<br />

o papel da luz e da escuridão no ambiente urbano é uma área<br />

de atuação em que os lighting designers podem contribuir<br />

consideravelmente para a sociedade. Para mim, fazer isso em<br />

uma cidade – seja Londres, Sydney ou qualquer outro lugar – é<br />

bastante estimulante porque a luz está intrinsecamente ligada<br />

à maneira como as pessoas experienciam seu próprio mundo.<br />

Como você ilumina o espaço público, ou seja, onde você adiciona<br />

luz e onde mantém escuridão – e níveis de luz e sombra –, ajuda<br />

a moldar a maneira como as pessoas experienciam e usam<br />

um lugar. Isso não é apenas um privilégio, mas também uma<br />

responsabilidade. Muitas cidades são mal iluminadas. Não se<br />

trata apenas de se sentir seguro ou evitar a criminalidade, mas<br />

a experiência visual em si é muitas vezes abaixo do esperado.<br />

A maioria das cidades pode ser facilmente apreciada durante<br />

o dia, podemos caminhar por uma cidade, admirar a paisagem,<br />

os edifícios e sentir o burburinho de estar em um ambiente<br />

urbano. Contudo, mesmo nas cidades mais bonitas do mundo,<br />

o mesmo apreço não acontece à noite. Obviamente, mesmo<br />

que fosse possível, não replicaríamos a experiência diurna no<br />

período noturno.<br />

Em vez disso, todos nós precisamos dedicar mais tempo e<br />

esforço estudando como gostaríamos que a experiência noturna<br />

de uma cidade seja percebida, assim como reinterpretando o<br />

ambiente visual e como isso pode ser alcançado.<br />

LUZ PARA AS PESSOAS<br />

Os sociólogos com quem falo gostam de me lembrar que<br />

pensar nas necessidades das “pessoas” é complexo. Todo mundo<br />

é diferente e experiencia as coisas de maneiras diferentes.<br />

No entanto, acredito que podemos reconhecer que, embora<br />

sempre existam diferenças de valores com base em idade, sexo,<br />

educação e cultura, entre outras coisas, ainda podemos falar<br />

sobre “iluminação para as pessoas”. Sem pessoas, na verdade,<br />

não haveria necessidade de luz artificial. Possivelmente, somos<br />

as únicas criaturas do planeta que são altamente ativas durante<br />

a noite sem ser visualmente adaptadas a isso.<br />

Precisamos dedicar mais tempo e<br />

esforço estudando como gostaríamos<br />

que a experiência noturna de uma<br />

cidade seja percebida, assim como<br />

reinterpretando o ambiente visual e<br />

como isso pode ser alcançado.<br />

LUZ COMO REINTERPRETAÇÃO<br />

Outro tema que acho muito interessante é a reinterpretação.<br />

Quando projetamos com luz e sombra, criamos uma interpretação<br />

do edifício que molda a experiência que se tem dele. Quando<br />

trabalhamos com arquitetos e designers em um edifício ou um<br />

lugar novo ou reformado, geralmente podemos colaborar com<br />

eles, usando a luz como uma ferramenta narrativa que revela<br />

algo sobre os princípios fundamentais do design.<br />

No entanto, em alguns projetos, por exemplo, de paisagens<br />

e estruturas industriais antigas, nos encontramos iluminando<br />

algo que nunca foi planejado para ser iluminado. Da mesma<br />

forma, em arquiteturas históricas, como igrejas e catedrais,<br />

estamos criando uma interpretação totalmente nova do edifício,<br />

porque, quando esses edifícios foram concebidos, ninguém<br />

poderia prever que fossem permanentemente iluminados com<br />

luz elétrica. Esse é outro exemplo de como a iluminação tem<br />

um aspecto de responsabilidade social. Nesses casos, acho que<br />

o principal objetivo do edifício e as diferentes maneiras pelas<br />

quais as pessoas usam e experienciam o espaço devem ser as<br />

principais considerações que compõem nossa interpretação. Os<br />

edifícios religiosos são um excelente exemplo disso.<br />

Se você pensar em dez ou quinze anos atrás, muitas vezes<br />

a iluminação de edifícios religiosos era abordada de uma<br />

maneira altamente dramática, puramente para realçar a beleza<br />

da arquitetura. Mas, quando você para e considera que o<br />

principal objetivo de uma catedral é a adoração, entende que<br />

realmente o principal papel da iluminação é apoiá-la com<br />

um discreto senso de espiritualidade. Celebrar a arquitetura<br />

para o turismo ainda pode ser importante, mas não deve ser<br />

o objetivo principal do projeto de iluminação.<br />

MÍDIA E ILUMINAÇÃO<br />

Enquanto testemunho a rápida evolução das tecnologias<br />

do século XXI, tenho me interessado na maneira como a mídia<br />

– tecnologia da informação, telas, telefones e redes – está<br />

convergindo cada vez mais com o campo da iluminação. De modo<br />

simples, existem novas possibilidades criadas por tecnologias de<br />

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