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COM A PALAVRA,<br />
MARK MAJOR<br />
Texto: Mark Major, a partir de entrevista concedida a Mariana Novaes<br />
Versão para o português: Mariana Novaes com revisão de Diogo de Oliveira | Foto: Speirs+Major<br />
Era maio de 2018 e estava com viagem marcada para<br />
Londres, para participar da cerimônia de entrega do<br />
prêmio internacional 40under40 durante o Lighting<br />
Design Awards. Mark Major, titular do escritório Speirs +<br />
Major, havia recém-aceitado o convite para ser um dos<br />
principais palestrantes do 10º LEDforum. A pedido da <strong>L+D</strong>,<br />
Major concordou em me receber para falar sobre seu processo<br />
de escolha e desenvolvimento dos temas de suas palestras.<br />
Em uma típica manhã londrina, cinzenta e chuvosa, fui<br />
gentilmente recebida em um café próximo ao seu escritório,<br />
mesmo com o meu atraso, culpa do labiríntico metrô de Londres.<br />
O que eu imaginava ser uma entrevista, rapidamente se<br />
transformou em um agradável bate-papo de uma hora, em<br />
que pude conhecer algumas reflexões, questionamentos, e<br />
motivações do apaixonado e comprometido profissional Major<br />
– não à toa, um dos lighting designers mais reconhecidos<br />
do mundo. A revista então sugeriu que este material fosse<br />
editado em forma de ensaio pelas mãos do Mark Major,<br />
tarefa que foi graciosamente aceita por ele e sua igualmente<br />
dedicada equipe. (Mariana Novaes)<br />
O VALOR DA LUZ E DA ESCURIDÃO<br />
Embora eu ache importante falar sobre coisas que conhecemos,<br />
também é sempre interessante adotar uma perspectiva diferente.<br />
Minha paixão particular não é apenas pela luz, mas também pela<br />
importância da escuridão e sua relação com a forma construída.<br />
Descobri que esse tema pode ser considerado de vários ângulos:<br />
o da perspectiva humana, em termos do impacto social e na<br />
saúde, e do ponto de vista ambiental e ecológico. Embora eu tenha<br />
me formado arquiteto, minha paixão pela luz e pela escuridão<br />
se cristalizou para além da prática de projetos de edifícios<br />
individuais, no campo do design urbano. Sinto fortemente que<br />
o papel da luz e da escuridão no ambiente urbano é uma área<br />
de atuação em que os lighting designers podem contribuir<br />
consideravelmente para a sociedade. Para mim, fazer isso em<br />
uma cidade – seja Londres, Sydney ou qualquer outro lugar – é<br />
bastante estimulante porque a luz está intrinsecamente ligada<br />
à maneira como as pessoas experienciam seu próprio mundo.<br />
Como você ilumina o espaço público, ou seja, onde você adiciona<br />
luz e onde mantém escuridão – e níveis de luz e sombra –, ajuda<br />
a moldar a maneira como as pessoas experienciam e usam<br />
um lugar. Isso não é apenas um privilégio, mas também uma<br />
responsabilidade. Muitas cidades são mal iluminadas. Não se<br />
trata apenas de se sentir seguro ou evitar a criminalidade, mas<br />
a experiência visual em si é muitas vezes abaixo do esperado.<br />
A maioria das cidades pode ser facilmente apreciada durante<br />
o dia, podemos caminhar por uma cidade, admirar a paisagem,<br />
os edifícios e sentir o burburinho de estar em um ambiente<br />
urbano. Contudo, mesmo nas cidades mais bonitas do mundo,<br />
o mesmo apreço não acontece à noite. Obviamente, mesmo<br />
que fosse possível, não replicaríamos a experiência diurna no<br />
período noturno.<br />
Em vez disso, todos nós precisamos dedicar mais tempo e<br />
esforço estudando como gostaríamos que a experiência noturna<br />
de uma cidade seja percebida, assim como reinterpretando o<br />
ambiente visual e como isso pode ser alcançado.<br />
LUZ PARA AS PESSOAS<br />
Os sociólogos com quem falo gostam de me lembrar que<br />
pensar nas necessidades das “pessoas” é complexo. Todo mundo<br />
é diferente e experiencia as coisas de maneiras diferentes.<br />
No entanto, acredito que podemos reconhecer que, embora<br />
sempre existam diferenças de valores com base em idade, sexo,<br />
educação e cultura, entre outras coisas, ainda podemos falar<br />
sobre “iluminação para as pessoas”. Sem pessoas, na verdade,<br />
não haveria necessidade de luz artificial. Possivelmente, somos<br />
as únicas criaturas do planeta que são altamente ativas durante<br />
a noite sem ser visualmente adaptadas a isso.<br />
Precisamos dedicar mais tempo e<br />
esforço estudando como gostaríamos<br />
que a experiência noturna de uma<br />
cidade seja percebida, assim como<br />
reinterpretando o ambiente visual e<br />
como isso pode ser alcançado.<br />
LUZ COMO REINTERPRETAÇÃO<br />
Outro tema que acho muito interessante é a reinterpretação.<br />
Quando projetamos com luz e sombra, criamos uma interpretação<br />
do edifício que molda a experiência que se tem dele. Quando<br />
trabalhamos com arquitetos e designers em um edifício ou um<br />
lugar novo ou reformado, geralmente podemos colaborar com<br />
eles, usando a luz como uma ferramenta narrativa que revela<br />
algo sobre os princípios fundamentais do design.<br />
No entanto, em alguns projetos, por exemplo, de paisagens<br />
e estruturas industriais antigas, nos encontramos iluminando<br />
algo que nunca foi planejado para ser iluminado. Da mesma<br />
forma, em arquiteturas históricas, como igrejas e catedrais,<br />
estamos criando uma interpretação totalmente nova do edifício,<br />
porque, quando esses edifícios foram concebidos, ninguém<br />
poderia prever que fossem permanentemente iluminados com<br />
luz elétrica. Esse é outro exemplo de como a iluminação tem<br />
um aspecto de responsabilidade social. Nesses casos, acho que<br />
o principal objetivo do edifício e as diferentes maneiras pelas<br />
quais as pessoas usam e experienciam o espaço devem ser as<br />
principais considerações que compõem nossa interpretação. Os<br />
edifícios religiosos são um excelente exemplo disso.<br />
Se você pensar em dez ou quinze anos atrás, muitas vezes<br />
a iluminação de edifícios religiosos era abordada de uma<br />
maneira altamente dramática, puramente para realçar a beleza<br />
da arquitetura. Mas, quando você para e considera que o<br />
principal objetivo de uma catedral é a adoração, entende que<br />
realmente o principal papel da iluminação é apoiá-la com<br />
um discreto senso de espiritualidade. Celebrar a arquitetura<br />
para o turismo ainda pode ser importante, mas não deve ser<br />
o objetivo principal do projeto de iluminação.<br />
MÍDIA E ILUMINAÇÃO<br />
Enquanto testemunho a rápida evolução das tecnologias<br />
do século XXI, tenho me interessado na maneira como a mídia<br />
– tecnologia da informação, telas, telefones e redes – está<br />
convergindo cada vez mais com o campo da iluminação. De modo<br />
simples, existem novas possibilidades criadas por tecnologias de<br />
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