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Edição: novembro | dezembro de 2019

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iluminação e controle, como LED, li-fi, Wi-Fi, bluetooth, cidades<br />

e assim por diante. Mas devemos lembrar que são ferramentas.<br />

Precisamos sempre perguntar primeiro: “O que queremos?” e<br />

depois examinar essas novas ferramentas para ver se elas podem<br />

nos ajudar a conseguir isso.<br />

Infelizmente, neste momento, sinto que os agentes interessados<br />

na cidade – designers, anunciantes, gerentes de marcas e meios<br />

de comunicação – estão criando intervenções individuais que<br />

acabam contribuindo para camadas e camadas de caos visual. Eles<br />

não estão trabalhando juntos nem mesmo fazendo a perguntachave<br />

“O que queremos como resultado?”.<br />

Então, também posso ver que o escopo das intervenções que<br />

envolvem a luz está se tornando cada vez mais amplo. Um bom<br />

exemplo seriam os carros. De simples faróis, luzes traseiras e uma luz<br />

interior, comumente vemos iluminação interior decorativa colorida<br />

mais complexa e assim por diante. E agora os grandes fabricantes<br />

de carros estão trabalhando em como aplicar a iluminação no<br />

exterior dos novos carros autônomos, como meio de sinalização<br />

para os pedestres. Isso tem o potencial de mudar completamente<br />

a paisagem noturna das nossas cidades. Como lighting designers,<br />

precisamos estar cientes de que, gostemos ou não, essas outras<br />

indústrias provavelmente fornecerão sistemas de iluminação – às<br />

vezes como um subproduto do que estão criando.<br />

Lembro-me do trabalho de Marshall McLuhan, que, na década<br />

de 1960, escreveu sobre a comunicação de massa e o mundo se<br />

tornando uma “aldeia global”. É incrível ver como sua previsão<br />

se tornou realidade na forma de uma rede mundial apoiada<br />

pela publicidade, exatamente como ele previu. No entanto, se<br />

recuarmos e perguntarmos como as pessoas querem que as<br />

cidades sejam, a resposta é, cada vez mais, que as queremos mais<br />

calmas, mais escuras, menos visualmente poluídas e melhores<br />

para nosso bem-estar. Mas, ao mesmo tempo, queremos que as<br />

nossas cidades tenham um senso de caráter individual e sejam<br />

alegres após o anoitecer. Acima de tudo, queremos que elas sejam<br />

seguras e protegidas. Eu sinto que essa convergência de mídia<br />

e tecnologia da informação com a iluminação e a mudança de<br />

tudo para o LED atualmente estão nos levando na direção oposta.<br />

ÉTICA NO DESIGN E RESPONSABILIDADE<br />

Acredito que temos a responsabilidade, como lighting designers,<br />

de exercer controle sobre os projetos em que trabalhamos e de<br />

ter a coragem de dizer não a intervenções e projetos que não<br />

julgamos adequados. De certa forma, como lighting designers,<br />

devemos agir no interesse de um contexto visual mais amplo<br />

e apoiar a sociedade para a qual trabalhamos. Às vezes, um<br />

cliente quer algo para o seu espaço que não está certo quando<br />

se considera o edifício e os arredores. Às vezes, os lighting<br />

designers são seduzidos a criar uma solução elaborada ou<br />

icônica para um projeto que realmente não a justifica, porque<br />

os clientes querem fazer uma afirmação pessoal.<br />

Frequentemente nos encontramos educadamente dizendo<br />

“não” a clientes que nos procuram para projetos de iluminação de<br />

Acredito que temos a responsabilidade,<br />

como lighting designers, de exercer<br />

controle sobre os projetos em que<br />

trabalhamos e de ter a coragem de<br />

dizer não a intervenções e projetos<br />

que não julgamos adequados.<br />

exteriores, de certos tipos de edifício comercial, com base no fato<br />

de que não sentimos que determinado edifício deva ser iluminado<br />

no contexto daquela parte da cidade. Nós perguntamos: “Por que<br />

você quer iluminá-los?” e tentamos gentilmente convencê-los<br />

de que talvez haja uma maneira melhor, por exemplo, utilizar a<br />

luz das áreas internas para dar uma expressão externa positiva.<br />

O número de lighting designers aumentou bastante nos últimos<br />

anos, e não temos um código de ética coletivamente acordado.<br />

Penso que, como profissão, devemos realmente nos organizar<br />

melhor e nos apoiar nesse sentido. Na ausência de um sistema<br />

educacional regulamentado ou um processo de legitimação,<br />

poderíamos realmente usar algumas “regras de compromisso”<br />

que ajudam a definir uma abordagem responsável para os projetos<br />

de iluminação. Nas profissões mais tradicionais de engenharia ou<br />

arquitetura, você aprende o básico sobre o que é certo e errado,<br />

embora, é claro, essas noções sejam necessariamente desafiadas e<br />

evoluam continuamente. Na iluminação, talvez estejamos perdendo<br />

esse nível básico de ética aceito no design e que lembra aos<br />

designers que eles não estão apenas servindo ao cliente ou a si<br />

mesmos, mas estão servindo a sociedade.<br />

EDUCAÇÃO E PESQUISA<br />

Muito embora as pessoas da nossa equipe cheguem até nós<br />

com todo tipo de formação educacional, de experiência profissional<br />

e de aprendizado prévio, insistimos que passem por um processo<br />

de treinamento completo conosco. Um aspecto central da nossa<br />

filosofia é nos vermos como um “escritório de formação” que investe<br />

em seu pessoal. Queremos criar grandes lighting designers e, para<br />

isso, os educamos em todos os aspectos. Isso inclui não apenas<br />

treinamento criativo e técnico, mas também uma base sólida de<br />

comportamento profissional e responsabilidade no design.<br />

Admito que tenho de fazer um grande esforço em pesquisas<br />

que demonstram meu pensamento e minhas opiniões para as<br />

palestras que dou, bem como para minhas contribuições em livros,<br />

artigos e outros tipos de material educacional. Eu diria, porém,<br />

que grande parte da nossa pesquisa é baseada em projetos.<br />

Digo isso no sentido de que nos interessamos por uma área de<br />

pesquisa e, em seguida, abrimos oportunidades para trabalhar<br />

em projetos específicos, nos quais podemos explorar essas<br />

ideias e desenvolver nosso pensamento. Isso ajuda a tornar a<br />

pesquisa financeiramente viável, permitindo-nos dedicar tempo<br />

a ela como parte de nosso trabalho remunerado, de maneira que<br />

também beneficie o cliente e o usuário final.<br />

LUZ E APRENDIZADO HISTÓRICO<br />

O conceito de “originalidade” é complexo e fascinante. As<br />

pessoas parecem ficar muito preocupadas com plágio e cópia,<br />

mas eu me pergunto como podemos distinguir entre essas<br />

coisas e “inspiração” e “influência”. Quando algo deixa de ser<br />

“influenciado por” e se torna “copiado”?<br />

Eu tenho um livrinho divertido em casa chamado Steal Like<br />

an Artist (“Roube como um artista”), de Austin Kleon, de fácil<br />

leitura, mas com uma visão provocativa, de como um(a) artista<br />

foi influenciado(a) por outro e mais outro, e assim por diante.<br />

Em termos de iluminação, podemos observar o desenvolvimento<br />

da luz industrializada: primeiro gás, depois eletricidade. Uma vez<br />

que nos livramos de queimar as coisas, podemos ver como os<br />

arquitetos, por exemplo, no início do século XX, na Alemanha,<br />

pegaram esse novo “material” – luz artificial – e o usaram como<br />

uma ferramenta para expressar seus edifícios. Essas ideias de<br />

“Lichtarchitektur” (arquitetura noturna) expressas há mais de um<br />

século não são tão diferentes de muitas expressas hoje, embora<br />

elas geralmente não tivessem a tecnologia para alcançá-las.<br />

Quando você observa com atenção, descobre que nada é tão<br />

novo – muitas vezes é uma evolução, portanto devemos olhar<br />

para o passado e aprender.<br />

Quando trabalhamos em prédios históricos, tentamos<br />

descobrir quando o prédio passou a ter luz artificial – como a<br />

maioria deles já teve em algum momento. Atualmente, estamos<br />

trabalhando num novo projeto de iluminação para o interior<br />

da Abadia de Westminster, que recebeu luz elétrica em 1913.<br />

Sempre tentamos descobrir quais eram as ideias originais, porque<br />

seria uma arrogância supor que as pessoas que abordaram o<br />

design antes de você não tenham pensado muito sobre a melhor<br />

maneira de iluminar.<br />

Quando trabalhamos na Catedral de Saint Paul, estávamos<br />

substituindo uma solução da década de 1950. Estudamos isso e<br />

olhamos para o passado para descobrir quais foram as soluções<br />

originais de iluminação pré-eletricidade, observando na Galeria<br />

Nacional pinturas do período em que ela foi construída. Nós<br />

nos perguntamos por que eles fizeram as coisas daquele modo,<br />

o que foi muito revelador. Algumas das soluções existentes<br />

com as quais concordamos simplesmente tiveram a tecnologia<br />

atualizada. Em outros casos, discordamos profundamente e<br />

mudamos a abordagem.<br />

Esse processo de questionamento é valioso para nos<br />

ajudar a esclarecer nosso próprio pensamento de design.<br />

Acredito que fazer perguntas abrangentes sobre o projeto<br />

de iluminação e fazer uma pesquisa completa sobre o que,<br />

quando e por que é fundamental. Todos nós devemos fazer isso.<br />

LUZ E COMUNICAÇÃO<br />

Embora todos os projetistas de iluminação tenham maneiras<br />

diferentes de fazer as coisas, é importante que, como profissional,<br />

trabalhemos para comunicar ideias sobre a luz muito bem e com<br />

O design de iluminação é<br />

essencialmente um esforço colaborativo –<br />

e uma boa comunicação é fundamental<br />

para embasar um relacionamento<br />

colaborativo bem-sucedido, seja<br />

com um cliente, seja, mais<br />

comumente, com um arquiteto.<br />

muita clareza. No Speirs + Major usamos uma série de técnicas<br />

para expressar nossas ideias. É interessante pensar qual é a melhor<br />

maneira de comunicar algo que você não consegue ver – algo<br />

que revela as coisas. Nós usamos as mais recentes tecnologias,<br />

como modelagem em 3D, VR e BIM, mas descobrimos que<br />

algumas ideias podem ser melhor expressas usando uma simples<br />

imagem de referência ou um bom croqui – então usamos todas<br />

essas ferramentas.<br />

Outra coisa que eu acho muito importante é dar crédito.<br />

Tentamos usar apenas o nosso próprio trabalho para comunicar<br />

ideias, mas isso nem sempre é possível. Por isso, se você<br />

usar o trabalho ou as imagens de outra pessoa, deverá dar o<br />

devido crédito.<br />

O design de iluminação é essencialmente um esforço<br />

colaborativo – e uma boa comunicação é fundamental para<br />

embasar um relacionamento colaborativo bem-sucedido, seja<br />

com um cliente, seja, mais comumente, com um arquiteto.<br />

Escolhemos nossos projetos com cuidado, pois não queremos<br />

atuar como técnicos ou especificadores. Buscamos trabalhos<br />

em que possamos ter conversas abertas sobre o que a luz<br />

pode oferecer em um projeto não apenas funcionalmente, mas<br />

expressivamente, em termos de revelar forma, espaço, materiais<br />

e narrativa. Às vezes, há diferenças de opinião, mas nunca nos<br />

permitimos ser forçados a fazer algo que fundamentalmente<br />

discordamos. Sempre tentaremos encontrar uma maneira<br />

de ouvir e encontrar uma sintonia, por meio de raciocínio,<br />

explicação, debate e descrição, e é aí que a força na comunicação<br />

de ideias é essencial.<br />

E PARA CONCLUIR<br />

Eu já falei muito, talvez demais, mas sou apaixonado pelo<br />

que faço. Um dos grandes privilégios de ser um lighting designer<br />

é que temos variedade e escolha. Variedade por meio dos<br />

projetos incríveis para os quais somos convidados a colaborar<br />

e todas as pessoas que conhecemos e trabalhamos. Escolha,<br />

porque somos parte de uma nova profissão, poderíamos<br />

dizer um novo movimento criativo, e, nesse sentido, ainda<br />

somos capazes de ditar regras e quebrá-las. Acima de tudo,<br />

temos a sorte de trabalhar com um meio tão incrível: a luz!<br />

Intangível, bonita, efêmera e indescritível. É verdadeiramente<br />

mágico e especial.<br />

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