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iluminação e controle, como LED, li-fi, Wi-Fi, bluetooth, cidades<br />
e assim por diante. Mas devemos lembrar que são ferramentas.<br />
Precisamos sempre perguntar primeiro: “O que queremos?” e<br />
depois examinar essas novas ferramentas para ver se elas podem<br />
nos ajudar a conseguir isso.<br />
Infelizmente, neste momento, sinto que os agentes interessados<br />
na cidade – designers, anunciantes, gerentes de marcas e meios<br />
de comunicação – estão criando intervenções individuais que<br />
acabam contribuindo para camadas e camadas de caos visual. Eles<br />
não estão trabalhando juntos nem mesmo fazendo a perguntachave<br />
“O que queremos como resultado?”.<br />
Então, também posso ver que o escopo das intervenções que<br />
envolvem a luz está se tornando cada vez mais amplo. Um bom<br />
exemplo seriam os carros. De simples faróis, luzes traseiras e uma luz<br />
interior, comumente vemos iluminação interior decorativa colorida<br />
mais complexa e assim por diante. E agora os grandes fabricantes<br />
de carros estão trabalhando em como aplicar a iluminação no<br />
exterior dos novos carros autônomos, como meio de sinalização<br />
para os pedestres. Isso tem o potencial de mudar completamente<br />
a paisagem noturna das nossas cidades. Como lighting designers,<br />
precisamos estar cientes de que, gostemos ou não, essas outras<br />
indústrias provavelmente fornecerão sistemas de iluminação – às<br />
vezes como um subproduto do que estão criando.<br />
Lembro-me do trabalho de Marshall McLuhan, que, na década<br />
de 1960, escreveu sobre a comunicação de massa e o mundo se<br />
tornando uma “aldeia global”. É incrível ver como sua previsão<br />
se tornou realidade na forma de uma rede mundial apoiada<br />
pela publicidade, exatamente como ele previu. No entanto, se<br />
recuarmos e perguntarmos como as pessoas querem que as<br />
cidades sejam, a resposta é, cada vez mais, que as queremos mais<br />
calmas, mais escuras, menos visualmente poluídas e melhores<br />
para nosso bem-estar. Mas, ao mesmo tempo, queremos que as<br />
nossas cidades tenham um senso de caráter individual e sejam<br />
alegres após o anoitecer. Acima de tudo, queremos que elas sejam<br />
seguras e protegidas. Eu sinto que essa convergência de mídia<br />
e tecnologia da informação com a iluminação e a mudança de<br />
tudo para o LED atualmente estão nos levando na direção oposta.<br />
ÉTICA NO DESIGN E RESPONSABILIDADE<br />
Acredito que temos a responsabilidade, como lighting designers,<br />
de exercer controle sobre os projetos em que trabalhamos e de<br />
ter a coragem de dizer não a intervenções e projetos que não<br />
julgamos adequados. De certa forma, como lighting designers,<br />
devemos agir no interesse de um contexto visual mais amplo<br />
e apoiar a sociedade para a qual trabalhamos. Às vezes, um<br />
cliente quer algo para o seu espaço que não está certo quando<br />
se considera o edifício e os arredores. Às vezes, os lighting<br />
designers são seduzidos a criar uma solução elaborada ou<br />
icônica para um projeto que realmente não a justifica, porque<br />
os clientes querem fazer uma afirmação pessoal.<br />
Frequentemente nos encontramos educadamente dizendo<br />
“não” a clientes que nos procuram para projetos de iluminação de<br />
Acredito que temos a responsabilidade,<br />
como lighting designers, de exercer<br />
controle sobre os projetos em que<br />
trabalhamos e de ter a coragem de<br />
dizer não a intervenções e projetos<br />
que não julgamos adequados.<br />
exteriores, de certos tipos de edifício comercial, com base no fato<br />
de que não sentimos que determinado edifício deva ser iluminado<br />
no contexto daquela parte da cidade. Nós perguntamos: “Por que<br />
você quer iluminá-los?” e tentamos gentilmente convencê-los<br />
de que talvez haja uma maneira melhor, por exemplo, utilizar a<br />
luz das áreas internas para dar uma expressão externa positiva.<br />
O número de lighting designers aumentou bastante nos últimos<br />
anos, e não temos um código de ética coletivamente acordado.<br />
Penso que, como profissão, devemos realmente nos organizar<br />
melhor e nos apoiar nesse sentido. Na ausência de um sistema<br />
educacional regulamentado ou um processo de legitimação,<br />
poderíamos realmente usar algumas “regras de compromisso”<br />
que ajudam a definir uma abordagem responsável para os projetos<br />
de iluminação. Nas profissões mais tradicionais de engenharia ou<br />
arquitetura, você aprende o básico sobre o que é certo e errado,<br />
embora, é claro, essas noções sejam necessariamente desafiadas e<br />
evoluam continuamente. Na iluminação, talvez estejamos perdendo<br />
esse nível básico de ética aceito no design e que lembra aos<br />
designers que eles não estão apenas servindo ao cliente ou a si<br />
mesmos, mas estão servindo a sociedade.<br />
EDUCAÇÃO E PESQUISA<br />
Muito embora as pessoas da nossa equipe cheguem até nós<br />
com todo tipo de formação educacional, de experiência profissional<br />
e de aprendizado prévio, insistimos que passem por um processo<br />
de treinamento completo conosco. Um aspecto central da nossa<br />
filosofia é nos vermos como um “escritório de formação” que investe<br />
em seu pessoal. Queremos criar grandes lighting designers e, para<br />
isso, os educamos em todos os aspectos. Isso inclui não apenas<br />
treinamento criativo e técnico, mas também uma base sólida de<br />
comportamento profissional e responsabilidade no design.<br />
Admito que tenho de fazer um grande esforço em pesquisas<br />
que demonstram meu pensamento e minhas opiniões para as<br />
palestras que dou, bem como para minhas contribuições em livros,<br />
artigos e outros tipos de material educacional. Eu diria, porém,<br />
que grande parte da nossa pesquisa é baseada em projetos.<br />
Digo isso no sentido de que nos interessamos por uma área de<br />
pesquisa e, em seguida, abrimos oportunidades para trabalhar<br />
em projetos específicos, nos quais podemos explorar essas<br />
ideias e desenvolver nosso pensamento. Isso ajuda a tornar a<br />
pesquisa financeiramente viável, permitindo-nos dedicar tempo<br />
a ela como parte de nosso trabalho remunerado, de maneira que<br />
também beneficie o cliente e o usuário final.<br />
LUZ E APRENDIZADO HISTÓRICO<br />
O conceito de “originalidade” é complexo e fascinante. As<br />
pessoas parecem ficar muito preocupadas com plágio e cópia,<br />
mas eu me pergunto como podemos distinguir entre essas<br />
coisas e “inspiração” e “influência”. Quando algo deixa de ser<br />
“influenciado por” e se torna “copiado”?<br />
Eu tenho um livrinho divertido em casa chamado Steal Like<br />
an Artist (“Roube como um artista”), de Austin Kleon, de fácil<br />
leitura, mas com uma visão provocativa, de como um(a) artista<br />
foi influenciado(a) por outro e mais outro, e assim por diante.<br />
Em termos de iluminação, podemos observar o desenvolvimento<br />
da luz industrializada: primeiro gás, depois eletricidade. Uma vez<br />
que nos livramos de queimar as coisas, podemos ver como os<br />
arquitetos, por exemplo, no início do século XX, na Alemanha,<br />
pegaram esse novo “material” – luz artificial – e o usaram como<br />
uma ferramenta para expressar seus edifícios. Essas ideias de<br />
“Lichtarchitektur” (arquitetura noturna) expressas há mais de um<br />
século não são tão diferentes de muitas expressas hoje, embora<br />
elas geralmente não tivessem a tecnologia para alcançá-las.<br />
Quando você observa com atenção, descobre que nada é tão<br />
novo – muitas vezes é uma evolução, portanto devemos olhar<br />
para o passado e aprender.<br />
Quando trabalhamos em prédios históricos, tentamos<br />
descobrir quando o prédio passou a ter luz artificial – como a<br />
maioria deles já teve em algum momento. Atualmente, estamos<br />
trabalhando num novo projeto de iluminação para o interior<br />
da Abadia de Westminster, que recebeu luz elétrica em 1913.<br />
Sempre tentamos descobrir quais eram as ideias originais, porque<br />
seria uma arrogância supor que as pessoas que abordaram o<br />
design antes de você não tenham pensado muito sobre a melhor<br />
maneira de iluminar.<br />
Quando trabalhamos na Catedral de Saint Paul, estávamos<br />
substituindo uma solução da década de 1950. Estudamos isso e<br />
olhamos para o passado para descobrir quais foram as soluções<br />
originais de iluminação pré-eletricidade, observando na Galeria<br />
Nacional pinturas do período em que ela foi construída. Nós<br />
nos perguntamos por que eles fizeram as coisas daquele modo,<br />
o que foi muito revelador. Algumas das soluções existentes<br />
com as quais concordamos simplesmente tiveram a tecnologia<br />
atualizada. Em outros casos, discordamos profundamente e<br />
mudamos a abordagem.<br />
Esse processo de questionamento é valioso para nos<br />
ajudar a esclarecer nosso próprio pensamento de design.<br />
Acredito que fazer perguntas abrangentes sobre o projeto<br />
de iluminação e fazer uma pesquisa completa sobre o que,<br />
quando e por que é fundamental. Todos nós devemos fazer isso.<br />
LUZ E COMUNICAÇÃO<br />
Embora todos os projetistas de iluminação tenham maneiras<br />
diferentes de fazer as coisas, é importante que, como profissional,<br />
trabalhemos para comunicar ideias sobre a luz muito bem e com<br />
O design de iluminação é<br />
essencialmente um esforço colaborativo –<br />
e uma boa comunicação é fundamental<br />
para embasar um relacionamento<br />
colaborativo bem-sucedido, seja<br />
com um cliente, seja, mais<br />
comumente, com um arquiteto.<br />
muita clareza. No Speirs + Major usamos uma série de técnicas<br />
para expressar nossas ideias. É interessante pensar qual é a melhor<br />
maneira de comunicar algo que você não consegue ver – algo<br />
que revela as coisas. Nós usamos as mais recentes tecnologias,<br />
como modelagem em 3D, VR e BIM, mas descobrimos que<br />
algumas ideias podem ser melhor expressas usando uma simples<br />
imagem de referência ou um bom croqui – então usamos todas<br />
essas ferramentas.<br />
Outra coisa que eu acho muito importante é dar crédito.<br />
Tentamos usar apenas o nosso próprio trabalho para comunicar<br />
ideias, mas isso nem sempre é possível. Por isso, se você<br />
usar o trabalho ou as imagens de outra pessoa, deverá dar o<br />
devido crédito.<br />
O design de iluminação é essencialmente um esforço<br />
colaborativo – e uma boa comunicação é fundamental para<br />
embasar um relacionamento colaborativo bem-sucedido, seja<br />
com um cliente, seja, mais comumente, com um arquiteto.<br />
Escolhemos nossos projetos com cuidado, pois não queremos<br />
atuar como técnicos ou especificadores. Buscamos trabalhos<br />
em que possamos ter conversas abertas sobre o que a luz<br />
pode oferecer em um projeto não apenas funcionalmente, mas<br />
expressivamente, em termos de revelar forma, espaço, materiais<br />
e narrativa. Às vezes, há diferenças de opinião, mas nunca nos<br />
permitimos ser forçados a fazer algo que fundamentalmente<br />
discordamos. Sempre tentaremos encontrar uma maneira<br />
de ouvir e encontrar uma sintonia, por meio de raciocínio,<br />
explicação, debate e descrição, e é aí que a força na comunicação<br />
de ideias é essencial.<br />
E PARA CONCLUIR<br />
Eu já falei muito, talvez demais, mas sou apaixonado pelo<br />
que faço. Um dos grandes privilégios de ser um lighting designer<br />
é que temos variedade e escolha. Variedade por meio dos<br />
projetos incríveis para os quais somos convidados a colaborar<br />
e todas as pessoas que conhecemos e trabalhamos. Escolha,<br />
porque somos parte de uma nova profissão, poderíamos<br />
dizer um novo movimento criativo, e, nesse sentido, ainda<br />
somos capazes de ditar regras e quebrá-las. Acima de tudo,<br />
temos a sorte de trabalhar com um meio tão incrível: a luz!<br />
Intangível, bonita, efêmera e indescritível. É verdadeiramente<br />
mágico e especial.<br />
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