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Revista Newslab Ed 158

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Autores:<br />

Aline Collin¹, Caroline Carraro¹, Natacha Pereira¹, Eloir Dutra Lourenço².<br />

ARTIGO 02<br />

Bioinformática e Obesidade<br />

Através da bioinformática, os mecanismos<br />

moleculares envolvidos podem ser caracterizados<br />

e estudados. Além disso, a bioinformática<br />

amplia a capacidade de identificação, caracterização<br />

e validação de novos alvos que servirão<br />

para elaboração de fármacos mais eficazes que<br />

poderão ser aplicados no manejo da obesidade.<br />

Sabe-se que o gene LEP, localizado no cromossomo<br />

7, codifica uma proteína secretada pelos<br />

adipócitos e quando na circulação, desempenha<br />

uma importante função atuando na regulação<br />

da homeostase energética. A leptina encontra<br />

receptores no cérebro e ativa a via que inibe<br />

a alimentação e promove o gasto energético.<br />

Ferramentas de bioinformática possibilitam a<br />

visualização desses eventos (8).<br />

Através da simulação computacional com diferentes<br />

ferramentas da bioinformática, foi possível<br />

analisar em um estudo a complexidade da<br />

expressão gênica de genes associados a obesidade<br />

no tecido adiposo. Foi criada uma rede de<br />

interação e expressão de proteínas codificadas<br />

por genes relacionados à obesidade. As evidências<br />

apresentadas na pesquisa permitiram conectar<br />

os genes IL6, NFR1, VE-GFA e FTO à fisiopatologia<br />

da obesidade. O NRF1 é uma proteína<br />

que está envolvida no metabolismo lipídico,<br />

relacionada ao não ganho de peso. As categorias<br />

de GO (Gene ontology) mais consideráveis<br />

estavam associadas a processos metabólicos<br />

modificados na obesidade. A bioinformática foi<br />

importante nesse estudo, pois com ela foi possível<br />

encontrar interações funcionais que acontecem<br />

entre os genes e buscar evidências sobre<br />

a expressão diferencial tecidual específica para<br />

favorecer um estado metabólico normal (9).<br />

Diabetes Mellitus Tipo II e Obesidade<br />

A obesidade é um considerável fator de risco<br />

para doenças secundárias, como a Diabetes tipo<br />

II (4). A obesidade e a DM2 estão intimamente<br />

relacionadas e interligadas, pois indivíduos<br />

obesos possuem 3 vezes mais chances de desenvolver<br />

Diabetes do que indivíduos que não<br />

estão acima do peso. Há uma estimativa de<br />

que entre 60 e 90% das pessoas que possuem<br />

DM2 são obesas, tendo uma incidência maior<br />

em indivíduos com mais de 40 anos (10). Em<br />

pessoas onde o índice de massa corporal passa<br />

dos 33%, a chance de ter Diabetes é de 50%. Já<br />

quando o indivíduo tem Diabetes tipo 2 e ocorre<br />

uma redução de 11% de seu peso corporal, diminui<br />

seu risco de morte por causa da Diabetes<br />

em 28% (4).<br />

A Diabetes e Obesidade surgem da interação<br />

entre fatores ambientais, genéticos e epigenéticos.<br />

Os Micro RNAs (pequenos RNAs não-codificadores)<br />

são importantes reguladores das funções<br />

do tecido adiposo. O objetivo de um estudo<br />

foi investigá-los para descobrir se eles poderiam<br />

atuar na Obesidade e na DM2. Foi utilizada uma<br />

ferramenta online (miR-QTL-Scan) que permite<br />

a identificação de miRNAs localizados em QTL<br />

(região genômica responsável pela variação de<br />

uma característica quantitativa) para Obesidade<br />

e Diabetes, onde é possível rastrear seus respectivos<br />

genes alvos. Foi constatado que o miR-375<br />

poderá ser usado de forma farmacológica para<br />

tratar a Diabetes, pois está envolvido na regulação<br />

da massa de células Beta e Alfa nas ilhotas<br />

pancreáticas. O miR-31 atinge 416 genes<br />

no tecido adiposo. Dez genes (Acaca, Prkaa1,<br />

Rps6kb1, Glut4, Irs1, Pde3b, Hk2, Foxo1, Ogt<br />

e Socs6) se mostraram significativos na via da<br />

sinalização da insulina. Os miR-33a e miR-33b<br />

estão envolvidos no metabolismo de colesterol<br />

e lipídios, e os miR-103 e miR -107 regulam a<br />

sensibilidade à insulina hepática. A bioinformática<br />

foi utilizada para revelar que o miR-31-5p<br />

possui uma grande expressão no tecido adiposo<br />

de humanos e camundongos obesos e diabéticos,<br />

e os seus genes-alvo estão implicados na<br />

adipogênese e na sinalização de insulina (11).<br />

A Diabetes tipo 2 e a Obesidade estão agregadas<br />

a alterações específicas na microbiota<br />

intestinal e associadas a inflamação de baixo<br />

grau. Mediante um estudo, foi descoberto que<br />

a bactéria Akkermansia muciniphila possui em<br />

sua membrana externa uma proteína denominada<br />

Amuc_1100, que quando pasteurizada<br />

aumenta a sua capacidade de reduzir o desenvolvimento<br />

de massa gorda, dislipidemia<br />

em camundongos e resistência à insulina, independente<br />

da ingestão alimentar. A bactéria<br />

representa cerca de 1 a 5% da nossa microbiota<br />

intestinal, porém na Obesidade e na Diabetes a<br />

sua abundância é reduzida. Ela interage com o<br />

receptor Toll-Like 2 aprimorando a barreira intestinal<br />

e rememorando parcialmente os efeitos<br />

benéficos da bactéria. Futuramente, ela poderá<br />

ser utilizada como forma terapêutica para essas<br />

doenças (12).<br />

O tecido adiposo e o músculo esquelético<br />

produzem fatores secretórios durante o desenvolvimento<br />

da Diabetes tipo 2 e resistência<br />

à insulina, devido a desregulação da homeostase.<br />

Os fatores secretórios atuam de maneira<br />

autócrina ou parácrina para regular os níveis de<br />

glicose no sangue. Foi realizado um estudo com<br />

P. obesus para investigar a Diabetes tipo 2 e a<br />

Obesidade, onde também foram aplicadas análises<br />

da bioinformática para identificar genes<br />

para serem secretados ou ligados a membrana.<br />

A ontologia genética dos genes diferencialmente<br />

expressos e a investigação aprofundada da<br />

bioinformática, identificaram quatro proteínas<br />

secretadas que estão associadas à Obesidade e<br />

à Diabetes tipo 2. Os genes descobertos foram:<br />

Susd2, Ccbe1, Dcn e Postn. O Postn foi o mais<br />

interessante dos genes descobertos, pois pode<br />

ter um papel na diferenciação de adipócitos, na<br />

remodelação da matriz extracelular ou na adesão<br />

celular (13).<br />

Um estudo realizado com modelos de ratos<br />

indicou que a variante ADCY3 (codificadora de<br />

adenilato ciclase 3) apresenta níveis elevados<br />

no tecido adiposo subcutâneo e visceral e possui<br />

um importante papel na regulação da homeostase<br />

da glicose e adiposidade. O ADCY3 catalisa<br />

a síntese de monofosfato cíclico de adenosina<br />

(AMPc) a partir de ATP. A sinalização intracelular<br />

do AMPc para mediadores metabólitos tem sido<br />

associada com a secreção de insulina em células<br />

beta e com o controle da função e desenvolvimento<br />

do tecido adiposo. Essa variante identificada<br />

em uma população da Groelândia aumenta<br />

o risco de desenvolver Diabetes e Obesidade<br />

em pessoas homozigotas, mas também em<br />

heterozigotas com um risco menor. O ADCY3<br />

pode ser um alvo promissor para o tratamento e<br />

prevenção dessas doenças (14).<br />

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<strong>Revista</strong> NewsLab | Fev/Mar 2020

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