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Autores:<br />
Aline Collin¹, Caroline Carraro¹, Natacha Pereira¹, Eloir Dutra Lourenço².<br />
ARTIGO 02<br />
Bioinformática e Obesidade<br />
Através da bioinformática, os mecanismos<br />
moleculares envolvidos podem ser caracterizados<br />
e estudados. Além disso, a bioinformática<br />
amplia a capacidade de identificação, caracterização<br />
e validação de novos alvos que servirão<br />
para elaboração de fármacos mais eficazes que<br />
poderão ser aplicados no manejo da obesidade.<br />
Sabe-se que o gene LEP, localizado no cromossomo<br />
7, codifica uma proteína secretada pelos<br />
adipócitos e quando na circulação, desempenha<br />
uma importante função atuando na regulação<br />
da homeostase energética. A leptina encontra<br />
receptores no cérebro e ativa a via que inibe<br />
a alimentação e promove o gasto energético.<br />
Ferramentas de bioinformática possibilitam a<br />
visualização desses eventos (8).<br />
Através da simulação computacional com diferentes<br />
ferramentas da bioinformática, foi possível<br />
analisar em um estudo a complexidade da<br />
expressão gênica de genes associados a obesidade<br />
no tecido adiposo. Foi criada uma rede de<br />
interação e expressão de proteínas codificadas<br />
por genes relacionados à obesidade. As evidências<br />
apresentadas na pesquisa permitiram conectar<br />
os genes IL6, NFR1, VE-GFA e FTO à fisiopatologia<br />
da obesidade. O NRF1 é uma proteína<br />
que está envolvida no metabolismo lipídico,<br />
relacionada ao não ganho de peso. As categorias<br />
de GO (Gene ontology) mais consideráveis<br />
estavam associadas a processos metabólicos<br />
modificados na obesidade. A bioinformática foi<br />
importante nesse estudo, pois com ela foi possível<br />
encontrar interações funcionais que acontecem<br />
entre os genes e buscar evidências sobre<br />
a expressão diferencial tecidual específica para<br />
favorecer um estado metabólico normal (9).<br />
Diabetes Mellitus Tipo II e Obesidade<br />
A obesidade é um considerável fator de risco<br />
para doenças secundárias, como a Diabetes tipo<br />
II (4). A obesidade e a DM2 estão intimamente<br />
relacionadas e interligadas, pois indivíduos<br />
obesos possuem 3 vezes mais chances de desenvolver<br />
Diabetes do que indivíduos que não<br />
estão acima do peso. Há uma estimativa de<br />
que entre 60 e 90% das pessoas que possuem<br />
DM2 são obesas, tendo uma incidência maior<br />
em indivíduos com mais de 40 anos (10). Em<br />
pessoas onde o índice de massa corporal passa<br />
dos 33%, a chance de ter Diabetes é de 50%. Já<br />
quando o indivíduo tem Diabetes tipo 2 e ocorre<br />
uma redução de 11% de seu peso corporal, diminui<br />
seu risco de morte por causa da Diabetes<br />
em 28% (4).<br />
A Diabetes e Obesidade surgem da interação<br />
entre fatores ambientais, genéticos e epigenéticos.<br />
Os Micro RNAs (pequenos RNAs não-codificadores)<br />
são importantes reguladores das funções<br />
do tecido adiposo. O objetivo de um estudo<br />
foi investigá-los para descobrir se eles poderiam<br />
atuar na Obesidade e na DM2. Foi utilizada uma<br />
ferramenta online (miR-QTL-Scan) que permite<br />
a identificação de miRNAs localizados em QTL<br />
(região genômica responsável pela variação de<br />
uma característica quantitativa) para Obesidade<br />
e Diabetes, onde é possível rastrear seus respectivos<br />
genes alvos. Foi constatado que o miR-375<br />
poderá ser usado de forma farmacológica para<br />
tratar a Diabetes, pois está envolvido na regulação<br />
da massa de células Beta e Alfa nas ilhotas<br />
pancreáticas. O miR-31 atinge 416 genes<br />
no tecido adiposo. Dez genes (Acaca, Prkaa1,<br />
Rps6kb1, Glut4, Irs1, Pde3b, Hk2, Foxo1, Ogt<br />
e Socs6) se mostraram significativos na via da<br />
sinalização da insulina. Os miR-33a e miR-33b<br />
estão envolvidos no metabolismo de colesterol<br />
e lipídios, e os miR-103 e miR -107 regulam a<br />
sensibilidade à insulina hepática. A bioinformática<br />
foi utilizada para revelar que o miR-31-5p<br />
possui uma grande expressão no tecido adiposo<br />
de humanos e camundongos obesos e diabéticos,<br />
e os seus genes-alvo estão implicados na<br />
adipogênese e na sinalização de insulina (11).<br />
A Diabetes tipo 2 e a Obesidade estão agregadas<br />
a alterações específicas na microbiota<br />
intestinal e associadas a inflamação de baixo<br />
grau. Mediante um estudo, foi descoberto que<br />
a bactéria Akkermansia muciniphila possui em<br />
sua membrana externa uma proteína denominada<br />
Amuc_1100, que quando pasteurizada<br />
aumenta a sua capacidade de reduzir o desenvolvimento<br />
de massa gorda, dislipidemia<br />
em camundongos e resistência à insulina, independente<br />
da ingestão alimentar. A bactéria<br />
representa cerca de 1 a 5% da nossa microbiota<br />
intestinal, porém na Obesidade e na Diabetes a<br />
sua abundância é reduzida. Ela interage com o<br />
receptor Toll-Like 2 aprimorando a barreira intestinal<br />
e rememorando parcialmente os efeitos<br />
benéficos da bactéria. Futuramente, ela poderá<br />
ser utilizada como forma terapêutica para essas<br />
doenças (12).<br />
O tecido adiposo e o músculo esquelético<br />
produzem fatores secretórios durante o desenvolvimento<br />
da Diabetes tipo 2 e resistência<br />
à insulina, devido a desregulação da homeostase.<br />
Os fatores secretórios atuam de maneira<br />
autócrina ou parácrina para regular os níveis de<br />
glicose no sangue. Foi realizado um estudo com<br />
P. obesus para investigar a Diabetes tipo 2 e a<br />
Obesidade, onde também foram aplicadas análises<br />
da bioinformática para identificar genes<br />
para serem secretados ou ligados a membrana.<br />
A ontologia genética dos genes diferencialmente<br />
expressos e a investigação aprofundada da<br />
bioinformática, identificaram quatro proteínas<br />
secretadas que estão associadas à Obesidade e<br />
à Diabetes tipo 2. Os genes descobertos foram:<br />
Susd2, Ccbe1, Dcn e Postn. O Postn foi o mais<br />
interessante dos genes descobertos, pois pode<br />
ter um papel na diferenciação de adipócitos, na<br />
remodelação da matriz extracelular ou na adesão<br />
celular (13).<br />
Um estudo realizado com modelos de ratos<br />
indicou que a variante ADCY3 (codificadora de<br />
adenilato ciclase 3) apresenta níveis elevados<br />
no tecido adiposo subcutâneo e visceral e possui<br />
um importante papel na regulação da homeostase<br />
da glicose e adiposidade. O ADCY3 catalisa<br />
a síntese de monofosfato cíclico de adenosina<br />
(AMPc) a partir de ATP. A sinalização intracelular<br />
do AMPc para mediadores metabólitos tem sido<br />
associada com a secreção de insulina em células<br />
beta e com o controle da função e desenvolvimento<br />
do tecido adiposo. Essa variante identificada<br />
em uma população da Groelândia aumenta<br />
o risco de desenvolver Diabetes e Obesidade<br />
em pessoas homozigotas, mas também em<br />
heterozigotas com um risco menor. O ADCY3<br />
pode ser um alvo promissor para o tratamento e<br />
prevenção dessas doenças (14).<br />
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<strong>Revista</strong> NewsLab | Fev/Mar 2020