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Revista Newslab Ed 158

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CITOLOGIA<br />

Citologia Oncótica Urinária<br />

Uma ferramenta no auxílio ao diagnóstico e<br />

monitoramento das neoplasias uroteliais de alto grau<br />

Prof. Dra. Lisiane Cervieri Mezzomo<br />

Os carcinomas do trato urinário são heterogêneos<br />

e compreendem uma gama de lesões que<br />

incluem desde pequenos tumores benignos a<br />

neoplasmas agressivos com alta taxa de mortalidade.<br />

O carcinoma de bexiga é a malignidade<br />

mais prevalente, e a sua detecção precoce e o<br />

seguimento adequado dos pacientes acometidos<br />

são fundamentais devido a alta taxa de<br />

recorrência da neoplasia.<br />

No Brasil, segundo dados do INCA, o carcinoma de<br />

bexiga possui uma estimativa de 10.640 novos casos<br />

em 2020, sendo a grande maioria em homens.<br />

No diagnóstico inicial, aproximadamente 70%<br />

dos pacientes com câncer de bexiga não exibem<br />

invasão muscular, entretanto, 5 anos após o<br />

diagnóstico, o risco de recorrência varia entre 30<br />

e 80%, sendo que aproximadamente 15% dos<br />

casos progridem para invasão muscular. Apesar<br />

dos carcinomas de baixo grau apresentarem um<br />

bom prognóstico, os carcinomas de alto grau<br />

musculo-invasivos apresentam um significativo<br />

risco de progressão, com baixa sobrevida global,<br />

e mortalidade de aproximadamente 60%.<br />

O diagnóstico precoce e o acompanhamento<br />

desses pacientes são portanto, cruciais. A estratégia<br />

diagnóstica atual é baseada na combinação de<br />

exames de imagem, citoscopia e citologia de urina.<br />

A citologia oncótica urinária é uma modalidade<br />

diagnóstica utilizada tanto para rastreamento<br />

do carcinoma urotelial como para o<br />

monitoramento de pacientes com histórico da<br />

neoplasia. Suas vantagens compreendem a<br />

facilidade de coleta e o baixo custo do exame.<br />

O desempenho da citologia da urina depende<br />

do grau do tumor. É considerada um método com<br />

alta sensibilidade para a auxílio ao diagnóstico de<br />

carcinomas uroteliais de alto grau, especialmente<br />

do trato urinário inferior. Para os tumores uroteliais<br />

de baixo grau a sensibilidade é baixa. Já o<br />

diagnóstico das lesões do trato urinário superior é<br />

limitado em virtude da baixa preservação celular<br />

e a distorção mecânica das células.<br />

Apesar de sua utilização como método diagnóstico,<br />

criticas devido a falta de padronização e<br />

de reprodutibilidade, a baixa sensibilidade para<br />

o diagnóstico de lesões de baixo grau e a grande<br />

variabilidade do diagnóstico interobservadores<br />

serviram como embasamento para a publicação<br />

do Sistema Paris para Citologia Urinária<br />

(TPS) em 2015. Esse método foi introduzido<br />

a prática diária com o objetivo de simplificar e<br />

padronizar os laudos em citologia urinária, de<br />

modo semelhante ao Sistema Bethesda para a<br />

citologia cérvico-vaginal.<br />

Um estudo realizado recentemente2 apontou<br />

que a citologia oncótica urinária possui alta correlação<br />

com o diagnóstico anatomopatológico,<br />

especialmente quando as biópsias são obtidas<br />

do trato urinário inferior. Entretanto, até o momento,<br />

é insuficiente por si só na maioria dos<br />

casos para a detecção e acompanhamento de<br />

carcinomas uroteliais.<br />

Outros métodos diagnósticos detectáveis na<br />

urina tem sido investigados, a exemplo dos<br />

marcadores tumorais. As técnicas baseadas<br />

em diferentes metodologias, como a detecção<br />

do mRNA do marcador Survivina pela técnica<br />

de PCR3, marcadores imunocitoquímicos<br />

como p53/ki674, p16, citoqueratina 20, tem<br />

sido propostas como ferramentas auxiliares na<br />

detecção de carcinomas uroteliais de alto grau,<br />

apresentando bons resultados.<br />

É importante frisar que a utilidade da citologia<br />

oncótica urinária vai muito além da identificação<br />

dos componentes do sedimento em rotinas de<br />

urina. A amostra biológica assume importância<br />

também como método de detecção das alterações<br />

malignas nas células esfoliadas, e pode<br />

ser de grande utilidade quando em associação<br />

com outros métodos diagnósticos. Sendo uma<br />

metodologia não-invasiva e de baixo custo, oferece<br />

um resultado confiável principalmente em<br />

relação às lesões de alto grau, quando apresenta<br />

uma especificidade próxima a 90%.<br />

Referências:<br />

Siegel RL, Miller KD, Jemal A. Cancer statistics, 2019. CA Cancer J Clin.<br />

2019;69(1):7–34. doi:10.3322/caac.21551. Bertsch EC, Siddiqui MT, Ellis<br />

CL. The Paris system for reporting urinary cytology improves correlation<br />

with surgical pathology biopsy diagnoses of the lower urinary tract. Diagn<br />

Cytopathol. 2018;46(3):221–227. doi:10.1002/dc.23878. Fu L, Zhang J, Li<br />

L, Yang Y, Yuan Y. Diagnostic accuracy of urinary survivin mRNA expression<br />

detected by RT-PCR compared with urine cytology in the detection of bladder<br />

cancer: A meta-analysis of diagnostic test accuracy in head-to-head<br />

studies. Oncol Lett. 2020;19(2):1165–1174. doi:10.3892/ol.2019.11227.<br />

Courtade-Saïdi M, Aziza J, d’Aure D, et al. Immunocytochemical staining<br />

for p53 and Ki-67 helps to characterise urothelial cells in urine cytology.<br />

Cytopathology. 2016;27(6):456–464. doi:10.1111/cyt.12332<br />

Prof. Dra. Lisiane Cervieri Mezzomo<br />

Possui graduação em Farmácia com ênfase em Análises Clínicas e especialização Lato Sensu em<br />

Citologia Clínica . Fez Mestrado em Patologia Geral e Experimental e Doutorado em Patologia - Biomarcadores<br />

pelo Programa de Pós Graduação em Patologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde<br />

de Porto Alegre (UFCSPA), na área de marcadores moleculares e imunohistoquímicos para o câncer.<br />

Atualmente atua como professor do curso de Especialização em Citopatologia Diagnóstica da Universidade<br />

Feevale, e como Pesquisador Pós-Doutor em projetos da Universidade Federal do Rio Grande do<br />

Sul (UFRGS). É assessor da Controllab na área de Citologia/Citopatologia e Medicina Laboratorial.<br />

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<strong>Revista</strong> NewsLab | Fev/Mar 2020

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