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CITOLOGIA<br />
Citologia Oncótica Urinária<br />
Uma ferramenta no auxílio ao diagnóstico e<br />
monitoramento das neoplasias uroteliais de alto grau<br />
Prof. Dra. Lisiane Cervieri Mezzomo<br />
Os carcinomas do trato urinário são heterogêneos<br />
e compreendem uma gama de lesões que<br />
incluem desde pequenos tumores benignos a<br />
neoplasmas agressivos com alta taxa de mortalidade.<br />
O carcinoma de bexiga é a malignidade<br />
mais prevalente, e a sua detecção precoce e o<br />
seguimento adequado dos pacientes acometidos<br />
são fundamentais devido a alta taxa de<br />
recorrência da neoplasia.<br />
No Brasil, segundo dados do INCA, o carcinoma de<br />
bexiga possui uma estimativa de 10.640 novos casos<br />
em 2020, sendo a grande maioria em homens.<br />
No diagnóstico inicial, aproximadamente 70%<br />
dos pacientes com câncer de bexiga não exibem<br />
invasão muscular, entretanto, 5 anos após o<br />
diagnóstico, o risco de recorrência varia entre 30<br />
e 80%, sendo que aproximadamente 15% dos<br />
casos progridem para invasão muscular. Apesar<br />
dos carcinomas de baixo grau apresentarem um<br />
bom prognóstico, os carcinomas de alto grau<br />
musculo-invasivos apresentam um significativo<br />
risco de progressão, com baixa sobrevida global,<br />
e mortalidade de aproximadamente 60%.<br />
O diagnóstico precoce e o acompanhamento<br />
desses pacientes são portanto, cruciais. A estratégia<br />
diagnóstica atual é baseada na combinação de<br />
exames de imagem, citoscopia e citologia de urina.<br />
A citologia oncótica urinária é uma modalidade<br />
diagnóstica utilizada tanto para rastreamento<br />
do carcinoma urotelial como para o<br />
monitoramento de pacientes com histórico da<br />
neoplasia. Suas vantagens compreendem a<br />
facilidade de coleta e o baixo custo do exame.<br />
O desempenho da citologia da urina depende<br />
do grau do tumor. É considerada um método com<br />
alta sensibilidade para a auxílio ao diagnóstico de<br />
carcinomas uroteliais de alto grau, especialmente<br />
do trato urinário inferior. Para os tumores uroteliais<br />
de baixo grau a sensibilidade é baixa. Já o<br />
diagnóstico das lesões do trato urinário superior é<br />
limitado em virtude da baixa preservação celular<br />
e a distorção mecânica das células.<br />
Apesar de sua utilização como método diagnóstico,<br />
criticas devido a falta de padronização e<br />
de reprodutibilidade, a baixa sensibilidade para<br />
o diagnóstico de lesões de baixo grau e a grande<br />
variabilidade do diagnóstico interobservadores<br />
serviram como embasamento para a publicação<br />
do Sistema Paris para Citologia Urinária<br />
(TPS) em 2015. Esse método foi introduzido<br />
a prática diária com o objetivo de simplificar e<br />
padronizar os laudos em citologia urinária, de<br />
modo semelhante ao Sistema Bethesda para a<br />
citologia cérvico-vaginal.<br />
Um estudo realizado recentemente2 apontou<br />
que a citologia oncótica urinária possui alta correlação<br />
com o diagnóstico anatomopatológico,<br />
especialmente quando as biópsias são obtidas<br />
do trato urinário inferior. Entretanto, até o momento,<br />
é insuficiente por si só na maioria dos<br />
casos para a detecção e acompanhamento de<br />
carcinomas uroteliais.<br />
Outros métodos diagnósticos detectáveis na<br />
urina tem sido investigados, a exemplo dos<br />
marcadores tumorais. As técnicas baseadas<br />
em diferentes metodologias, como a detecção<br />
do mRNA do marcador Survivina pela técnica<br />
de PCR3, marcadores imunocitoquímicos<br />
como p53/ki674, p16, citoqueratina 20, tem<br />
sido propostas como ferramentas auxiliares na<br />
detecção de carcinomas uroteliais de alto grau,<br />
apresentando bons resultados.<br />
É importante frisar que a utilidade da citologia<br />
oncótica urinária vai muito além da identificação<br />
dos componentes do sedimento em rotinas de<br />
urina. A amostra biológica assume importância<br />
também como método de detecção das alterações<br />
malignas nas células esfoliadas, e pode<br />
ser de grande utilidade quando em associação<br />
com outros métodos diagnósticos. Sendo uma<br />
metodologia não-invasiva e de baixo custo, oferece<br />
um resultado confiável principalmente em<br />
relação às lesões de alto grau, quando apresenta<br />
uma especificidade próxima a 90%.<br />
Referências:<br />
Siegel RL, Miller KD, Jemal A. Cancer statistics, 2019. CA Cancer J Clin.<br />
2019;69(1):7–34. doi:10.3322/caac.21551. Bertsch EC, Siddiqui MT, Ellis<br />
CL. The Paris system for reporting urinary cytology improves correlation<br />
with surgical pathology biopsy diagnoses of the lower urinary tract. Diagn<br />
Cytopathol. 2018;46(3):221–227. doi:10.1002/dc.23878. Fu L, Zhang J, Li<br />
L, Yang Y, Yuan Y. Diagnostic accuracy of urinary survivin mRNA expression<br />
detected by RT-PCR compared with urine cytology in the detection of bladder<br />
cancer: A meta-analysis of diagnostic test accuracy in head-to-head<br />
studies. Oncol Lett. 2020;19(2):1165–1174. doi:10.3892/ol.2019.11227.<br />
Courtade-Saïdi M, Aziza J, d’Aure D, et al. Immunocytochemical staining<br />
for p53 and Ki-67 helps to characterise urothelial cells in urine cytology.<br />
Cytopathology. 2016;27(6):456–464. doi:10.1111/cyt.12332<br />
Prof. Dra. Lisiane Cervieri Mezzomo<br />
Possui graduação em Farmácia com ênfase em Análises Clínicas e especialização Lato Sensu em<br />
Citologia Clínica . Fez Mestrado em Patologia Geral e Experimental e Doutorado em Patologia - Biomarcadores<br />
pelo Programa de Pós Graduação em Patologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde<br />
de Porto Alegre (UFCSPA), na área de marcadores moleculares e imunohistoquímicos para o câncer.<br />
Atualmente atua como professor do curso de Especialização em Citopatologia Diagnóstica da Universidade<br />
Feevale, e como Pesquisador Pós-Doutor em projetos da Universidade Federal do Rio Grande do<br />
Sul (UFRGS). É assessor da Controllab na área de Citologia/Citopatologia e Medicina Laboratorial.<br />
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<strong>Revista</strong> NewsLab | Fev/Mar 2020