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Edição nº 264 - Lusitano de Zurique (corrigida)

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COMUNIDADE

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Empregadas de limpeza

portuguesas na Suíça

sem trabalho nem apoios

Com as medidas excepcionais de combate à pandemia

e com empregos precários, por vezes sem

contrato de trabalho, muito trabalhadores portugueses

na Suíça estão a passar por dificuldades e

sem conseguir aceder a apoios.

LUSA

As restrições impostas pela covid-19 na Suíça deixaram sem rendimento

centenas de empregadas de limpeza portuguesas que,

sem vínculo nem horários certos, ficaram sem trabalhar e não

têm apoios sociais, o que levou um sindicato a pedir ajuda estatal.

Na Suíça desde 1998 e secretário sindical responsável da área da

construção civil no maior sindicato da Suíça - Unia, José Inácio

Sebastião, disse à agência Lusa que os efeitos das restrições no

mundo laboral, para conter a pandemia covid-19, já se sentem na

comunidade portuguesa na Suíça.

“A nossa comunidade trabalha sobretudo em empregos manuais

— limpeza, construção civil, hotelaria, nos quais os trabalhadores

estão mais expostos e que, por isso, o Estado encerrou uma

parte”, disse.

Na hotelaria está tudo parado e a construção civil tem avançado

devagar, o que tem levado muitos trabalhadores portugueses a

pedir apoios sociais.

Ajudas com que não contam centenas de portuguesas que trabalham

na área da economia doméstica (mulheres-a-dias), muitas vezes

pagas à hora ou por tarefa, e sem direito a subsídio de desemprego.

José Inácio Sebastião afirma que muitas destas trabalhadoras já

estão há mais de um mês sem receber e que “vão sofrer bastante,

porque muitas delas não estão declaradas. Trabalham à hora”.

Luísa (nome fictício), a viver em Zurique há seis anos, é uma dessas

portuguesas que tem a folha “a negro”, ou seja, não faz descontos

e por isso não está a receber subsídio de desemprego.

Em declarações à Lusa, disse que a situação está “a apertar”, principalmente

porque o marido que trabalhava numa pastelaria também

está sem emprego.

“Temos um filho com oito anos, que está em casa porque as escolas

estão fechadas. Não posso ir trabalhar, mas também não tinha

onde limpar”, lamentou.

A esta família tem valido umas horas que o marido tem feito numa

obra, onde o cunhado trabalha, mas todas as suas esperanças vão

para o dia em que os trabalhos reabrirem, pois há algumas semanas

que o rendimento escasseia.

“Não temos possibilidade de aguentar muito mais e a burocracia

para pedir ajuda é muita e seguramente que pelo menos eu não

tenho direito a receber nada”, adiantou.

Situações como estas são tão frequentes na Suíça que o sindicato

Unia solicitou ao Estado a criação de um fundo para ajudar estas

mulheres que trabalham na economia doméstica, estipulado numa

média do que eles recebem ao longo de um ano, disse José Inácio

Sebastião.

Maria tem mais sorte. A trabalhar apenas ao sábado — porque

durante a semana tem de ficar em casa para tomar conta dos dois

filhos — continua a receber o vencimento dos patrões para quem

trabalhava durante a semana até à pandemia.

“Como desconto, podia pedir ajuda ao Estado, mas a burocracia

é muita. Além disso, os meus patrões continuam a pagar-me,

simplesmente porque querem”, disse.

Maria, há dez anos a viver na Suíça, não tem dúvida de que este

é um reconhecimento pelo seu trabalho, uma vez que serve estas

famílias há oito anos. “Sinto-me como se fosse da família”, disse.

O sindicato Unia — no qual estão inscritos 30 mil portugueses —

está igualmente preocupado com os trabalhadores temporários

que não têm, ou já usaram, o direito ao subsídio de desemprego.

Segundo José Inácio Sebastião, o sindicato quer que o Estado

aceite todos os trabalhadores temporários como beneficiários do

subsídio de desemprego.

Para o Conselheiro da Comunidade Portuguesa na Suíça, Domingos

Pereira, a adesão ao confinamento voluntário, decretado na Suíça

a 17 de Março e prolongado a 27 do mesmo mês, está a ser boa.

Na Suíça há 29 anos, este motorista de pesados anseia pela segunda-feira,

quando começar a abrir gradualmente algum comércio,

como “cabeleireiros, pequenos negócios e consultórios médicos,

mas sempre dentro das medidas de higiene e segurança”.

Uma nova abertura, nomeadamente das escolas, irá acontecer a

11 de Maio neste país onde vivem mais de 217.000 portugueses

(2,6% da população).

Segundo Domingos Pereira, a redução ou suspensão das actividades

em que a comunidade portuguesa é mais activa — limpezas,

construção civil, oficinas de automóveis — levou a uma redução

do vencimento e há mesmo quem não tenha qualquer ordenado.

“Há muitos portugueses nesta situação, principalmente na área

da construção civil e também na parte da jardinagem. Mas nada

de alarmante”, afirmou.

Mais preocupante para este conselheiro é a situação das portuguesas

que trabalham na economia doméstica, que recebem à

hora e que agora não podem trabalhar nem têm apoios sociais.

Domingos Pereira prevê mesmo “um problema sócio-económico

a breve prazo” nesta área.

A Suíça registou perto de 30 mil infectados e 1.600 mortos desde

o início da pandemia de covid-19. A nível global, segundo um

balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 200

mil mortos e infectou mais de três milhões de pessoas em 193

países e territórios.

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Maio 2020 | Lusitano de Zurique | WWW.CLDZ.EU

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