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Os 2500 kms da costa moçambicana são novamente uma via de integração económica. A convergência para um mercado doméstico integrado permitirá uma redução das assimetrias existentes e tornar o país mais eficiente, levando produtos nacionais a mais consumidores nacionais, reduzindo assim a dependência das importações e fomentando a coesão nacional. E poderá, e deverá até, criar novos negócios. Potenciar o desenvolvimento de uma rede de transportes capilar, trará um desenvolvimento mais generalizado e mais inclusivo. E este processo inicia-se com o arranque do projecto de cabotagem. Nesta edição tratamos também, entre outros temas, da inovação em África. A inovação não é mais que a imaginação e a inteligência aplicadas ao serviço do homem. O continente já provou a sua capacidade para inovar de raiz, mas também para criar novas utilizações para as tecnologias já generalizadas, como o telemóvel, com benefícios para a população. Boas leituras e, acima de tudo, saúde
Os 2500 kms da costa moçambicana são novamente uma via de integração económica. A convergência para um mercado doméstico integrado permitirá uma redução das assimetrias existentes e tornar o país mais eficiente, levando produtos nacionais a mais consumidores nacionais, reduzindo assim a dependência das importações e fomentando a coesão nacional. E poderá, e deverá até, criar novos negócios. Potenciar o desenvolvimento de uma rede de transportes capilar, trará um desenvolvimento mais generalizado e mais inclusivo. E este processo inicia-se com o arranque do projecto de cabotagem.
Nesta edição tratamos também, entre outros temas, da inovação em África. A inovação não é mais que a imaginação e a inteligência aplicadas ao serviço do homem. O continente já provou a sua capacidade para inovar de raiz, mas também para criar novas utilizações para as tecnologias já generalizadas, como o telemóvel, com benefícios para a população.
Boas leituras e, acima de tudo, saúde
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Este projecto é<br />
sólido”, afirmou<br />
Ronan Bescond,<br />
director-geral<br />
da Total em<br />
Moçambique, ao mostrar em que ponto<br />
estão as obras do megaprojecto de exploração<br />
de gás natural da Área 1 da bacia<br />
do Rovuma. É o maior investimento privado<br />
em curso em África, no valor de<br />
20 mil milhões de dólares. Apesar dos<br />
desafios impostos pela COVID-19 e pelos<br />
ataques armados classificados como terrorismo<br />
que acontecem nas zonas em<br />
redor, 2024 continua a ser o prazo previsto<br />
para encher o primeiro navio cargueiro<br />
no cais de Afungi com gás natural<br />
liquefeito. Gás puxado para terra a partir<br />
de jazidas sob o fundo oceânico e que<br />
será transformado em líquido no complexo<br />
industrial em construção.<br />
A assinatura do projecto financeiro com<br />
banco e agências de exportação, que vão<br />
emprestar a quase totalidade do valor em<br />
causa, “confirma que este projecto é sólido,<br />
porque há pessoas dispostas a investirem<br />
16 mil milhões de dólares. Confiam no<br />
operador [a Total], no consórcio, confiam<br />
que temos os empreiteiros certos e que há<br />
uma boa colaboração entre este grupo e<br />
o governo para alcançar as expectativas”,<br />
especificou. O projecto financeiro vai ser<br />
assinado com uma combinação de bancos<br />
e agências de crédito à exportação<br />
sedeadas em países que estão a produzir<br />
componentes para o empreendimento.<br />
À hora de fecho desta edição, a assinatura<br />
estava presa por pormenores burocráticos.<br />
“Já recebemos a aprovação de todas<br />
as agências de exportação e estamos na<br />
ronda final de [processamento da] documentação”,<br />
referiu Bescond.<br />
Conseguir fechar o project finance para<br />
a Área 1 nesta altura desafia algumas análises<br />
que nos últimos meses colocaram o<br />
empreendimento sob pressão acrescida<br />
depois do abrandamento económico provocado<br />
pela COVID-19, de proporções e<br />
duração ainda imprevisíveis. Ainda mais<br />
quando o vizinho consórcio da Área 4,<br />
liderado pela ExxonMobil e a Eni, adiou<br />
a decisão final de investimento justificando-se<br />
com o novo contexto adverso.<br />
O MAIOR INVESTIMENTO<br />
PRIVADO EM CURSO EM<br />
ÁFRICA (20 MIL MILHÕES<br />
DE DÓLARES) MINIMIZA<br />
RISCOS DO PRESENTE<br />
(COMO A COVID-19)<br />
E EXPLICA QUE O<br />
OBJECTIVO ESTÁ<br />
NO LONGO PRAZO<br />
O consórcio da Área 4 vai explorar reservas<br />
contíguas às da Área 1 e partilhar áreas<br />
do empreendimento industrial em terra.<br />
Adiaram as obras para data a definir.<br />
Mas o director-geral da Total minimizou<br />
a queda do preço do petróleo (da casa<br />
dos 60 dólares por barril de Brent para<br />
cerca de 40 dólares, desde há um ano).<br />
TOTAL RESPONDE A QUESTÕES SENSÍVEIS<br />
A província de Cabo Delgado, onde está<br />
a ser implantado o megaprojecto de gás,<br />
não é um território qualquer. A nível<br />
internacional tem tido mediatismo por ser<br />
alvo de terrorismo associado a grupos<br />
“jihadistas”. Mas o investimento no gás<br />
tem permanecido fora da mira dos<br />
agressores. “A situação de insegurança<br />
não está directamente ligada ao projecto<br />
de gás”, referiu Ronan Bescond.<br />
“O governo colocou recursos de forma<br />
a mitigar a situação e a proteger a<br />
população”, porque nos últimos dois<br />
anos e meio já houve confrontos a poucos<br />
quilómetros. “Há um protocolo com o<br />
Ministério do Interior e o Ministério da<br />
Defesa que será ajustado, dependendo do<br />
avanço das actividades.” Esta colaboração<br />
tem sido alvo de críticas da sociedade<br />
civil, que questionam: será que os<br />
investimentos privados estão acima das<br />
populações? Ronan Bescond refere que<br />
o protocolo abrange “um plano de base<br />
comunitária. O projecto assume<br />
É uma das variáveis que define a sustentabilidade<br />
do projecto, mas Bescond sublinhou<br />
que este é um empreendimento para<br />
o longo prazo. A exploração das reservas<br />
Golfinho e Atum, que começa em<br />
2024, deverá durar vinte e cinco anos e<br />
há outras jazidas na Área 1 por desenvolver.<br />
Mais: o director-geral da Total aponta<br />
o gás natural como um “combustível de<br />
transição” no cenário de mudança energética<br />
e abandono dos recursos fósseis.<br />
“FEITO MEMORÁVEL”<br />
O recinto de obras do empreendimento,<br />
em Afungi, foi em Abril e Maio o local<br />
com maior concentração de casos (96) de<br />
COVID-19 em Moçambique, obrigando<br />
à paralisação quase total dos trabalhos.<br />
As operações estão a ser retomadas gradualmente<br />
desde o início de Junho, depois<br />
do espaço ter sido declarado livre do novo<br />
coronavírus. Mas só lá para Novembro<br />
deverá estar retomada a velocidade de<br />
cruzeiro por perdurarem ainda restrições<br />
a responsabilidade de associar estas<br />
forças de segurança na área para proteger<br />
as comunidades locais e regionais”.<br />
As questões humanitárias, sociais e de<br />
investimento na economia local ocuparam<br />
boa parte da apresentação de Bescond aos<br />
jornalistas, centrada em duas apostas: no<br />
conteúdo local e na criação de emprego.<br />
Em Janeiro havia 5500 moçambicanos<br />
a trabalhar nas obras do megaprojecto<br />
da Área 1 e prevê-se que esse número<br />
se mantenha, sendo que, depois de<br />
terminada a construção, em 2024, o<br />
consórcio prevê criar 1500 empregos de<br />
longa duração. E 699 milhões de dólares já<br />
foram aplicados em aquisições a empresas<br />
moçambicanas até ao segundo trimestre<br />
de 2020: “Investimos muito tempo<br />
no conteúdo local”, garante Bescond.<br />
Por outro lado, a cidade do gás, associada<br />
ao empreendimento, vai começar a ser<br />
construída em 2021, com capacidade para<br />
albergar 150 mil pessoas atraídas pelas<br />
oportunidades criadas em Afungi.<br />
julho 2020 | 43