Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
COVID19: um sinal Patognomônico?<br />
Prof. Dra. Lisiane Cervieri Mezzomo<br />
CITOLOGIA<br />
O receptor da enzima conversora de angiotensina<br />
II (ECA2) foi identificado como o domínio de<br />
ligação da proteína S do vírus COVID-19. O exato<br />
papel fisiológico da ECA2 na maioria dos tecidos<br />
não foi elucidado, embora a enzima atue como<br />
um regulador da função cardíaca e do controle<br />
da pressão arterial por ser um componente do<br />
sistema renina-angiotensina-aldosterona. Uma<br />
vez que o vírus entra na célula hospedeira, a sua<br />
replicação e disseminação levam às manifestações<br />
clínicas. Assim, a expressão e distribuição<br />
da ECA2 no corpo humano podem indicar as<br />
possíveis rotas de infecção do COVID-19, e ainda<br />
ser um alvo terapêutico promissor no tratamento<br />
da infecção.<br />
Embora o mRNA da ECA2 esteja presente em<br />
praticamente todos os órgãos, sua expressão<br />
proteica está sendo investigada em estudos<br />
recentes. Estudos anteriores a pandemia do CO-<br />
VID-19 já indicavam que a proteína é altamente<br />
expressa em tecidos renais, cardiovasculares<br />
e gastrointestinais. Um estudo publicado por<br />
Hamming e colaboradores avaliou a expressão<br />
imunohistoquímica da ECA2 em diversos tecidos<br />
e verificou que a proteína estava presente<br />
nas células endoteliais de artérias, veias pequenas<br />
e grandes, miofibroblastos e nas membranas<br />
das células adiposas em vários órgãos.<br />
A imunocoloração marcada com ECA2 foi encontrada<br />
ainda nas células epiteliais alveolares<br />
tipo I e II nos pulmões normais e no citoplasma<br />
das células epiteliais brônquicas. Os receptores<br />
ECA2 também foram identificados no epitélio<br />
escamoso estratificado da mucosa oral normal e<br />
nasal, e especialmente na camada basal do epitélio<br />
escamoso não queratinizante. Além disso,<br />
a enzima está presente nas células musculares<br />
lisas e no endotélio dos vasos do estômago, intestino<br />
delgado e cólon.<br />
Esses dados sugerem e embasam a possibilidade<br />
de utilizar amostras de citologia esfoliativa<br />
para auxílio ao diagnóstico do COVID-19 além<br />
das técnicas de investigação de coloração de<br />
rotina. O método de imunocitoquímica pode<br />
ser empregado em células esfoliadas para identificar<br />
e quantificar várias proteínas, incluindo<br />
a ECA2. Alguns estudos sugerem que a identificação<br />
e quantificação do ECA2 em células<br />
esfoliadas usando imunocitoquímica pode ser<br />
uma ferramenta eficiente para a identificação<br />
de casos assintomáticos de COVID-19.<br />
As amostras de citologia esfoliativa também<br />
podem ser usadas para outros métodos de investigação,<br />
como RT-PCR, análise por Western<br />
blot e imunofluorescência. Estes podem ser<br />
usados para autenticar ainda mais a premissa<br />
proposta e a confiabilidade da citologia esfoliativa<br />
como ferramenta de detecção e triagem.<br />
Além disso, a observação microscópica da<br />
morfologia podem no futuro, indicar alterações<br />
celulares nos tecidos infectados pelo<br />
vírus. Um estudo avaliou a mucosa nasal de<br />
pacientes com COVID-19 e relatou que a observação<br />
microscópica por meio da citologia<br />
nasal revelou a presença de muito poucos<br />
neutrófilos. Além disso, houve redução das<br />
“estrias supranucleares hipercromáticas” que<br />
seriam correspondentes ao aparelho de Golgi<br />
no citoplasma celular. Essas estrias constituem<br />
marcadores para a integridade anatômica e<br />
funcional das células ciliadas, e sua rarefação<br />
ou desaparecimento durante infecções virais<br />
são sinais de sofrimento celular. Essa característica<br />
representa um sinal de dano celular nas<br />
amostras do epitélio nasal avaliadas e levanta<br />
a hipótese que o SARS-CoV-2 causa uma leve<br />
inflamação nasal.<br />
Cabe destacar que as alterações na morfologia<br />
celular são específicas de cada infecção viral,<br />
e os dados referentes as alterações celulares e<br />
marcadores proteicos do COVID-19 ainda precisam<br />
ser melhor detalhados. Métodos que<br />
associam a morfologia celular a marcadores<br />
moleculares ou proteicos são promissores e<br />
endossam a importância da citologia esfoliativa<br />
como método de diagnóstico e pesquisa.<br />
Referencias:<br />
Gelardi M, Notargiacomo M, Trecca EMC, Cassano M,<br />
Ciprandi G. COVID-19 and Nasal Cytobrush Cytology<br />
[published online ahead of print, 2020 May 26]. Acta<br />
Cytol. 2020;1-2. doi:10.1159/000508768<br />
Hamming I, Timens W, Bulthuis ML, Lely AT, Navis<br />
G, van Goor H. Tissue distribution of ACE2 protein,<br />
the functional receptor for SARS coronavirus. A first<br />
step in understanding SARS pathogenesis. J Pathol.<br />
2004;203(2):631-637. doi:10.1002/path.1570<br />
Mhaske S, Yuwanati M, Mhaske A, Desai A, Sarode<br />
SC, Sarode GS. Perspective on oral exfoliative cytology<br />
and COVID-19 [published online ahead of print, 2020<br />
Jun 12]. Oral Oncol. 2020;104858. doi:10.1016/j.oraloncology.2020.104858<br />
Prof. Dra. Lisiane Cervieri Mezzomo<br />
Possui graduação em Farmácia com ênfase em Análises Clínicas e especialização Lato Sensu em Citologia Clínica. Fez Mestrado<br />
em Patologia Geral e Experimental e Doutorado em Patologia - Biomarcadores pelo Programa de Pós Graduação em Patologia da<br />
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), na área de marcadores moleculares e imunohistoquímicos<br />
para o câncer. Atualmente atua como professor do curso de Especialização em Citopatologia Diagnóstica da Universidade Feevale,<br />
e como Pesquisador Pós-Doutor em projetos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É assessor da Controllab na<br />
área de Citologia/Citopatologia e Medicina Laboratorial.<br />
<strong>Revista</strong> NewsLab | Jun/Jul 2020<br />
0 81