FEVEREIRO_2021
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ÓBITO
Carlos do
Carmo
– nem elogio
fúnebre nem
obituário
ANTÓNIO MANUEL RIBEIRO (*)
Apenas as memórias que guardo do homem
que conheci em 1979. Estivemos
juntos na fundação de uma cooperativa
dedicada ao espectáculo, a CantarAbril,
que tinha sede na avenida dos EUA, em
Lisboa.
Pisei vários palcos com o Carlos do Carmo nesse alvor da
década de 1980, em que a música eléctrica se ergueu entre
nós. Ouvi os conselhos do homem de saber e cultura com
a palavra justa para os mais novos, como os UHF. Um dia
disse-me, nos bastidores do Coliseu dos Recreios, a propósito
de uma farpa impressa num jornal que me infernizava
o juízo:
Carlos do Carmo, intérprete maior da verdadeira canção de
Lisboa (“Canoas do Tejo”; “Lisboa, Menina e Moça”), recuperou
com mestria e subtileza diplomática o fado, hoje
património imaterial da Humanidade, mas, considerado,
no seguimento abrutalhado que todas as mudanças políticas
produzem, uma arte reaccionária nos anos do PREC.
José Afonso, que gostava de Amália, nunca entrou neste
carrossel. Mas isto é história de quem tem memória e não
apaga os erros, que humanamente cometemos, com uma
borracha.
Ergam as palmas para o cantor Carlos do Carmo.
(*) Fundador e vocalista do grupo UHF
- António, não te magoes demais. Falam de ti, é importante
que falem, mesmo se for negativo. De outra forma morremos,
e tu vais erguer-te de novo e vencer as patifarias.
Guardei este ensinamento até hoje, que me surge sempre em
momentos críticos.
Muitas vezes, ao fim-de-semana, as duas famílias encontravam-se
no icónico restaurante Carolina do Aires, na Costa
de Caparica, até que um perverso plano Pólis (por aqui falido)
o destruiu – podem rever parte da frontaria na capa no
disco “Ares e Bares de Fronteira”.
Lusitano de Zurique - Janeiro 2021 | www.cldz.eu
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