Chicos 67 20.01.2022
Chicos é uma publicação literária que circula apenas pelos meios digitais. Envie-nos seu e-mail e teremos prazer de te enviar gratuitamente nossas edições. A linha editorial é fundamentalmente voltada para a literatura dos cataguasenses, mas aberta ao seu entorno e ao mundo. Procura manter, em cada um dos seus números, uma diversidade temática.
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Poesia de muitas faces
Chicos
* Paulo Lima
O título do novo livro de poesia de Jeová
Santana, ESTILHAÇOS (Editora Mondrongo),
já anuncia o mote que o constitui. Trata-se de
um apanhado das muitas andanças, físicas e
poéticas, que o autor realizou nos últimos
anos.
Por esse motivo, a recolha se apresenta
caleidoscópica, às vezes colada às circunstâncias,
às vezes atemporal.
Duas partes dão forma ao livro, nomeadas
por dois neologismos: Palavração e Andarilhagens.
A primeira parte é composta por poemas
que explicitam as muitas referências literárias
do autor - suas imersões no cânone poético
que inclui Bandeira, Drummond, Cabral, Jorge
de Lima. E por formas que incluem o verso
livre, o soneto, o haicai, e até incursões pelo
cordel.
Esses poemas trazem uma defesa apaixonada
e visceral da poesia, como uma
"âncora" que possibilita nos manter respirando.
"Talvez só a poesia deixe traço/como leveza
da tarde e beijo/no oscilar da memória e
espaço", dizem os versos do "Poema do esquecimento".
O poeta, contudo, reconhece que nestes
tempos tão materiais, a poesia enfrenta outros
rumos e desafios. "A escrita de hoje é outro
pique:/pintura de ferozes demandas,/neón em
negra fulô de butique", constata no poema "A
casa de Jorge de Lima", no qual dialoga com o
poeta alagoano.
É com esse "outro pique" que Jeová
Santana, na segunda parte, expõe as percepções
de seu estar no mundo, traduzindo as suas
múltiplas perambulações de poeta e professor,
em cidades como Aracaju, Maceió e São
Paulo.
Nesse mosaico cabe a aflitiva realidade
brasileira, com seus absurdos aparentemente
inesgotáveis, explorados numa combinação de
linguagem rigorosa, abusada e irônica, em versos
tecidos entre o lirismo e a acidez. "Haja
Maria,/haja penha,/haja lenho,/haja energia/
para impedir/esta epidemia,/a lista infinda/de
todo dia", anota no poema "As Marias, as penhas".
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