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Chicos 67 20.01.2022

Chicos é uma publicação literária que circula apenas pelos meios digitais. Envie-nos seu e-mail e teremos prazer de te enviar gratuitamente nossas edições. A linha editorial é fundamentalmente voltada para a literatura dos cataguasenses, mas aberta ao seu entorno e ao mundo. Procura manter, em cada um dos seus números, uma diversidade temática.

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Chicos

-A primeira parte é composta por poemas

que explicitam as muitas referências literárias

do autor - suas imersões no cânone poético

que inclui Bandeira, Drummond, Cabral, Jorge

de Lima. E por formas que incluem o verso

livre, o soneto, o haicai, e até incursões pelo

cordel.

Esses poemas trazem uma defesa apaixonada

e visceral da poesia, como uma "âncora"

que possibilita nos manter respirando. "Talvez

só a poesia deixe traço/como leveza da tarde e

beijo/no oscilar da memória e espaço", dizem

os versos do "Poema do esquecimento".

O poeta, contudo, reconhece que nestes

tempos tão materiais, a poesia enfrenta outros

rumos e desafios. "A escrita de hoje é outro

pique:/pintura de ferozes demandas,/neón em

negra fulô de butique", constata no poema "A

casa de Jorge de Lima", no qual dialoga com o

poeta alagoano.

É com esse "outro pique" que Jeová Santana,

na segunda parte, expõe as percepções

de seu estar no mundo, traduzindo as suas

Nesse mosaico cabe a aflitiva realidade

brasileira, com seus absurdos aparentemente

inesgotáveis, explorados numa combinação de

linguagem rigorosa, abusada e irônica, em versos

tecidos entre o lirismo e a acidez. "Haja

Maria,/haja penha,/haja lenho,/haja energia/

para impedir/esta epidemia,/a lista infinda/de

todo dia", anota no poema "As Marias, as penhas".

E cabe a memória afetiva do poeta, com

suas dores e suas perdas. Muitas delas pungentes,

como nos versos em que rememora

sua mãe, recém-falecida: "Quando a vida diz a

que veio:/a mãe torna-se um pesado bebê/a

boiar numa banheira/de sonhos e sombras".

E comporta também a crítica ao consumismo,

na forma do humor tanto certeiro

quanto incisivo: "Toda vez que ouço/falar em

bleque fraid,/saco a minha rede!", zomba em

diálogo com a preguiça de Macunaíma.

Os estilhaços poéticos de Jeová Santana,

enfim, são muitos e nos alcançam com a força

da boa (e necessária) poesia.

múltiplas perambulações de poeta e professor,

em cidades como Aracaju, Maceió e São Paulo.

* Paulo Lima

Nasceu em Aracaju SE e mora em Brasília DF. é jornalista e escritor. Autor

dos livros Anônimos e Cante minha canção, ambos de contos, e Dicionário

de nuvens, de poesia.

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