Jornal das Oficinas 205
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INFLAÇÃO<br />
NO AFTERMARKET<br />
O CUSTO MÉDIO DAS PEÇAS IRÁ CONTINUAR A auMENTAR MUITO POR CULPA<br />
DA INCERTEZA COM A SITUAÇÃO QUE SE VIVE NA UCRÂNIA, MAS TAMBÉM<br />
À RESPOSTA DO BANCO CENTRAL EUROPEU À CRESCENTE INFLAÇÃO<br />
e conturbados, até porque havia muitos<br />
«players» no mercado que nem<br />
sempre alteravam o preço ao mesmo<br />
tempo, o que causava algum ruído no<br />
setor, porque não era claro a que preço<br />
estávamos a fornecer a mesma peça”.<br />
No entanto, não havia outra solução,<br />
entende, pois “como para todos os<br />
negócios, as peças aumentam devido<br />
ao custo da energia, dos salários, <strong>das</strong><br />
matérias primas, dos juros e isto terá<br />
um impacto na rentabilidade do setor<br />
uma vez que estes aumentos têm que<br />
ser passados aos clientes”.<br />
Também Manuel Félix, diretor geral<br />
da Euromais, nota que a maior parte<br />
dos distribuidores não está a refletir<br />
a 100% os aumentos de preços que<br />
foram transmitidos na cadeia, dado<br />
que “se alguém tem uma determinada<br />
peça em stock, que entrou a<br />
10 euros, não há uma repercussão<br />
imediata desse aumento de preço<br />
nos clientes. O que está a ser feito é<br />
absorver uma parte do aumento da<br />
inflação na margem”, explica, alertando<br />
que “há limites e não podemos<br />
abdicar da nossa margem, porque no<br />
final do mês é preciso pagar os salários,<br />
a água, a luz e as despesas e gerar<br />
algum retorno ao nosso acionista!”.<br />
Ainda assim, considera que atualmente<br />
o setor se ressente, sobretudo,<br />
“da perda do poder de compra que as<br />
pessoas estão a ter pelo aumento dos<br />
custos em to<strong>das</strong> as áreas”.<br />
Pouco a fazer<br />
Partilhada por todos é a opinião de<br />
Manuel Pena, o responsável da rede<br />
de oficinas CGA, que diz que “não há<br />
grande coisa que os fabricantes possam<br />
fazer”, perante este cenário, “porque<br />
estão reféns do próprio aumento<br />
de custos <strong>das</strong> matérias primas”. Nuno<br />
Reis, administrador da Redeinnov,<br />
diz mesmo que “somos mais espetadores<br />
atentos do que atores, neste<br />
contexto. São muitos os fatores que<br />
influenciam a inflação, sobre os quais<br />
não temos nenhum controlo, portanto,<br />
aquilo que poderemos fazer é<br />
adaptarmo-nos a este contexto, que é<br />
altamente exigente e muito dinâmico.<br />
Temos de procurar a máxima eficiência<br />
nas nossas empresas, de maneira<br />
a corresponder da melhor forma aos<br />
desafios que o mercado nos apresenta”,<br />
defende. Em termos de estratégia,<br />
comenta, esta “não se altera com estas<br />
questões mais conjunturais. A política<br />
comercial tem-se mantido estável,<br />
bastante bem definida e consolidada<br />
ao longo dos anos e aquilo que temos<br />
vindo a alterar é uma questão mais<br />
operacional no dia a dia. Temos tido<br />
um foco muito grande não em mais<br />
stock, mas em melhor stock. Diria<br />
que, em tempos mais exigentes, o<br />
principal é que as empresas continuem<br />
a olhar para elas e que percebam<br />
o que podem fazer melhor todos<br />
os dias em áreas críticas como a financeira<br />
e a económica, para que possam<br />
ser competitivas comercialmente. A<br />
dica é manter o foco nos fundamentos<br />
do negócio, apesar de to<strong>das</strong> estas distrações<br />
e de todos estes desafios que<br />
vão aparecendo no dia a dia”, remata.<br />
Isabel Basto adverte para a necessidade<br />
de “contenção dos gastos operacionais<br />
e, principalmente, de diminuir<br />
a exposição ao risco <strong>das</strong> taxas de<br />
juro variáveis”. De há alguns anos a<br />
esta parte, o Grupo Nors tem investido<br />
significativamente no negócio<br />
de aftermarket, nomeadamente em<br />
termos tecnológicos e em termos de<br />
processos, o que, para a COO, “hoje<br />
permite-nos conhecer melhor o nosso<br />
cliente, pois estamos melhor preparados<br />
para gerir estes períodos de<br />
inflação, se tivermos os meios para<br />
saber melhor aquilo que o nosso<br />
cliente precisa”, argumenta.<br />
Por seu turno, o diretor-geral da Euromais,<br />
Manuel Félix, afirma que, por<br />
esta altura, “toda a gente deve parar<br />
e analisar muito bem aquilo que está<br />
a fazer e mesmo que não tenham formação,<br />
devem falar com quem de direito,<br />
com contabilistas, fazer cursos<br />
online, formações especificamente<br />
em gestão de oficinas… os proprietários<br />
devem olhar para o seu negócio,<br />
porque é nestes momentos que se<br />
definem as boas e as más empresas!”,<br />
alerta. Com outra perspetiva, Manuel<br />
Pena, da CGA, considera que cada<br />
caso é um caso e declara que “não temos<br />
a veleidade de dar conselhos às<br />
outras empresas, seguimos o nosso<br />
caminho. Estamos a falar de estruturas,<br />
em muitos casos, diferencia<strong>das</strong><br />
da nossa, o que se aplica à nossa realidade<br />
pode não se aplicar à realidade<br />
de outras empresas. O que é bom para<br />
nós não é bom para eles, é complicado<br />
fazer esse tipo de julgamento”, diz ao<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>das</strong> <strong>Oficinas</strong>.<br />
Manuel Pena defende que “nestas fases<br />
de crise, normalmente não há muitas<br />
coisas que se possam alterar radicalmente,<br />
porque normalmente vai<br />
criar nos clientes algumas questões e<br />
desconfianças”. A seu ver, “a gestão tem<br />
que ser feita sempre antecipadamente,<br />
já pensando que os ciclos da economia<br />
10 Fevereiro I 2023 www.jornal<strong>das</strong>oficinas.com